Sala de Estar

- Olá. - disse também quando ela falou, com um sorriso.
Olhei para Marlon assim que ele falou.
- Não, ainda não a conheço. - disse. - Quer dizer sei que se chama Alicia. - disse.

Quase bufei, de impaciência. Mas consegui aguentar-me. Tentava agir o mais naturalmente possível, apesar de Marlon não estar a ajudar, mesmo inocentemente. - Sim, podes tratar-me por Ali - e, apesar dos arrepios causados pela imagem mental que me assombrava a cabeça, aproximei-me dele, para lhe falar com dois beijinhos como uma boa menina educada. - Prazer - conclui

Assenti quando ela disse que eu a podia tratar por Ali.
Dei-lhe também dois beijinhos e no fim sorri.
- Cameron. - disse sorrindo-

Sorri, mais uma vez. Ele até parecia simpático. Na verdade, eu até sabia que a culpa nem era dele de eu o ter encontrado assim na casa de banho. Ninguém tinha culpa. Não valia a pena estar a stressar por causa disso. Mais tarde ou mais cedo tinha de ver aquela imagem, também. - Vão jantar cá em casa? Ou ficas cá a dormir? - perguntei, exigindo uma explicação àquela surpresa.

Olhei ambos quando se cumprimentaram e continuei a olhar para Ali à espera que começasse os seus habituais interrogatórios. - Sim, vamos jantar. - acabei por responder à sua pergunta. - E vamos sair depois. - disse sorrindo. - Os dois. - acabei por acrescentar antes que ela pensasse que também podia vir.

Fiquei indignada com a interrupção de Marlon. Porque é que eu não podia conhecer os amigos dele? Porque é que ele me tratava como uma miúda? Se soubesse que tinha acabado de ver uma pila nem me deixava sair do quarto, por muito que não tivesse culpa. Era estúpido. Devia ter medo que eu o envergonhasse. E era isso que ia acontecer se eu conseguisse ir, como vingança. - O quê?! Porquê?! - questionei - Tenho de comer alguma coisa, foi o que disseste noutro dia... - relembrei, com uma voz marota

Enquanto eles estavam a falar eu fiquei a olhar para ambos.
Acabei por me sentar num dos sofás e continuei a olha-los. Ri-me interiormente quando percebi que a irmã de Marlon também queria ir connosco.

Revirei os olhos com a idiotice que Ali tinha acabado de dizer e acabei por me levantar dali. - Nem te dou resposta, fodasse, és mesmo estúpida. - resmunguei. Sinceramente, cada vez tinha menos paciência para ela, mas isso era um assunto à parte.
Acabei por ir para a cozinha, começar a fazer o jantar, o mais ver o que havia congelado para o fazer para o jantar.

Desta vez, bufei mesmo, completamente passada. Porque é que ele tinha tanto medo que eu o envergonhasse se no final se envergonhava a si mesmo? - Estúpido de merda - exclamei, mais para mim do que para ele, e atirei-me para o sofá. Não era habitual eu usar palavrões... - É sempre a mesma coisa. Sou sempre uma miudinha, não é? - lamentei-me. Sabia que Cam ainda ali estava, mas não estava a desabafar para ele, nem tinha a certeza se me ouvia ou não. Tive vontade de chorar, as lágrimas ainda me vieram aos olhos, da frustração que tinha, mas aguentei-me.

Eles estavam mais a discutir do que falar e, por isso, deixei-me ficar no meu canto. Fazendo de conta que nem os ouvia.
Quando Marlon se levantou, eu olhei para a Alicia. Parecia que estava quase a chorar.
- Está tudo bem? - perguntei calmamente. Tinha sido uma pergunta estúpida.

Ouvi uma voz masculina. Revirei ligeiramente os olhos para Cameron, mas rapidamente fixei novamente a parede - Sim, está tudo bem. Desculpa isto tudo. - disse baixinho, envergonhada. Já estava habituada a estas cenas, mas bem que Marlon se podia controlar.

Continuei a olhar para ela, até me responder.
- Oh, ele só quer o melhor para ti. - disse com um pequeno sorriso.

Revirei os olhos. - Não, ele quer que eu fique presa para sempre neste sítio. - continuei, tristonha, a olhar para a televisão. Era estranho um amigo dele estar a ajudar-me. E era embaraçoso, também...

- Ele só te quer tentar proteger, percebes? - disse com um sorriso. - Ele não quer que sofras, ele pensa que, ao te estar a fazer isto, te protege. - disse olhando-a.

Sorri, comovida. Este não era como os outros amigos de Marlon. Os outros limitavam-se a olhar, talvez a mandarem algumas piadinhas e a rirem-se da irmãzinha mais nova dele. Este protegia-me mais do que o meu próprio irmão - Obrigada - agradeci, baixinho, e fiquei a olhar para ele, sem saber o que dizer.

- De nada. - disse com um sorriso. Eu de certa forma, achava piada a discussões entre irmãos. Eu também tinha com a minha, apesar de já não falar com ela à muito tempo, e consegui perceber a atitude de Marlon. Pois era a mesma que eu tinha com a minha irmã.

Continuei a olhar para ele até perceber que podia estar a ser assustadora. Fiquei tão surpreendida com a reacção do rapaz que não sabia o que fazer, fiquei especada a fixá-lo. Ainda por cima o rapaz era bonito! Se Marlon visse esta cena, ai...

Ri baixinho enquanto ela me olhava. Olhei-a também, mas por pouco tempo. Abanei a cabeça ligeiramente.
- O teu irmão não quer ajuda? - acabei por perguntar.

Olhei para a porta da cozinha e encolhi os ombros - Não sei... ele gosta de fazer as coisas sempre sozinho... - respondi com uma voz triste e abandonada. Mudei de posição no sofá, deixando um espaço livre ao meu lado - Podes-te sentar... Eu não mordo - convidei, apontando o queixo para o tal lugar. Não me agradava a ideia de ter um rapaz tão próximo de mim, mas não queria parecer indelicada.

Assenti quando ela falou e olhei rapidamente para a televisão. Mas assim que ela voltou a falar olhei-a, e ri-me.
- Está bem. - disse apenas e sentei-me ao seu lado. - E desculpa aquilo da casa de banho. - disse, apesar de não ter tido muito culpa.

Revirei os olhos. Bolas, ele tinha que me lembrar daquela cena. Senti um arrepio a invadir-me a espinha - Hm, ok... não falamos mais disso, por favor - disse só, com uma voz meio enojada, e tentei disfarçar a minha cara, para evitar questões embaraçosas.

Olhei-a quando ela falou, e vi pela sua cara que se tinha lembrado do que vira. Parecia meia enojada ou assim, ri-me baixinho.
- Combinado. - disse com um sorriso.

Levantei-me silenciosamente ao ouvir o meu nome na sala ao lado. Caminhei até lá, e cruzei os braços, aborrecida.