Campo de Ténis

Aquela era uma manhã tipicamente solarenta e quente em Golden. A villa estava menos agitada do que era habitual e o ar parecia até mais puro.
Levantei-me ainda um pouco preguiçosa e, depois de um banho e um pequeno almoço completo, decidi que aquele seria um bom dia para jogar um pouco de ténis. Eu costumava jogar quando era pequena com os meus primos mas já estava um pouco enferrujada. Decidi vestir o meu equipamento e, depois de amarrar o cabelo num rabo de cavalo perfeitamente penteado, conduzi até ao campo de ténis da villa.
Assim que cheguei apressei-me a tirar a raquete do saco e a bater copiosamente a bola contra a parede.

Depois do que tinha descoberto naquela pequena caixa, fiquei por bastante tempo a pensar naquele assunto. Aliás, ainda agora pensava e já se tinha passado um dia. Como hoje não tinha de ir trabalhar, decidi fazer algo diferente do habitual, apenas para me distrair um pouco e tentar pensar noutras coisas.
Depois de sair de casa, conduzi no meu carro até ao campo de ténis de Golden, já não ia lá há bastante tempo, e portanto tinha a certeza que estaria muito enferrujado naquilo. Mas pronto, sempre dava para passar um pouco o tempo e quem sabe, voltar a ter alguma prática. Entrei dentro do campo de tênis, depois de ter alugado o equipamente necessário e quando me preparava para começar a jogar, avistei uma rapariga loira, que à primeira vista me pareceu a rapariga que tinha conhecido na discoteca. Aquela que eu supostamente deveria ter levado a casa, mas que não levei. Já nem me lembrava do seu nome...

À medida que ia mandando a bola contra a parede, sentia a raquete um pouco mais pesada. Tinha mesmo perdido a prática, mas não o jeito. Ou pelo menos achava eu!
Continuei durante mais algum tempo até que parei para beber um pouco de água. Apanhei a bola e caminhei até onde tinha deixado as minhas coisas, vendo através da minha visão periférica um vulto no campo. Levei a garrafa à boca e voltei-me na direcção do sujeito, reconhecendo-o de imediato. Era um dos rapazes com quem Mia e eu tínhamos estado na discoteca há uns dias atrás.
Andei até ele, aproveitando para beber o resto da água e cumprimentei-o. - Olá. - disse tentando lembrar-me do nome dele. - Que fazes por aqui?
Tentei ser simpática para ele, afinal ele tinha-se oferecido para me levar a casa na noite da discoteca, algo que eu recusei como é óbvio.
Dylan, era esse o nome dele, afinal a minha memória não estava assim tão má.

Avancei mais alguns passos, começando então a caminhar para a zona do campo de tênis, quando me apercebi de que a rapariga vinha na minha direcção. Ou assim parecia. Isso confirmou-se quando ela parou ao chegar à minha beira e me cumprimentou.
- Olá. - esbocei um sorriso. Sim, agora tinha mesmo a certeza que era a rapariga da discoteca, não só por ter falado comigo, mas também porque agora que estava mais perto, conseguia reconhecê-la bem melhor. Para além disso, era uma rapariga bastante bonita e portanto, difícil de esquecer. - Vim jogar um pouco. Apesar de que acho que perdi a prática. - fiz uma careta e encolhi ligeiramente os meus ombros. - E tu... - mordi o lábio, tentanto a todo o custo recordar-me do seu nome. Começava por R... tinha a certeza disso. Hm... - ... Regina? - sim, era isso, tinha quase a certeza que era este o seu nome. Só esperava não estar enganado, caso contrário ia fazer figuras.

Esperava não parecer meio intrometida ou indelicada por ter ido logo falar com ele. Praticamente não o conhecia mas se não o tivesse cumprimentado também passaria por mal educada.
Fechei a garrafa de água e coloquei a mão sobre a minha testa, utilizando-a como pala para tapar o sol que me cegava. - Entendo-te perfeitamente, também me sinto enferrujada.
Soltei um pequeno sorriso como resposta à sua careta, tentando mais uma vez ser educada.
- Eu vim fazer o mesmo, ver se não perco a prática.
Pensei em convidá-lo para jogar uma partida comigo, porém não sabia se devia, portanto decidi não dizer nada a esse respeito. - Jogas há muito tempo?
Esperava que ele não levasse a mal eu fazer tantas perguntas, estava apenas a tentar fazer conversa de ocasião.

Esbocei um meio sorriso quando ela disse que também se sentia enferrujada, e até me senti um pouco melhor por não ser o único. Assim, se depois jogasse mal, acho que já não me ia sentir tão mal por causa disso. Apercebi-me também que ela não falou nada em relação ao seu nome, e por isso conclui, com satisfação, que não me tinha enganado.
- Há algum. Quer dizer, quando era mais novo jogava muito mais. Agora fui abandonando um pouco isto. - respondi quando me perguntou se eu jogava à muito tempo. - E tu? - perguntei com certa curiosidade e depois olhei para a raquete que ela tinha ao seu lado.
Olhei em volta, para ver se ela estava sozinha ou se tinha a companhia de alguém. Quando fiquei com a certeza de que ela estava mesmo ali sozinha, olhei-a e sorri. - Hm queres jogar uma partida comigo? - perguntei, esperando não estar com isto a chateá-la.

Consegui rever-me no que ele tinha dito, quando era mais nova costumava vir com algumas colegas do colégio ou com o meu avô. De todos os meus familiares ele era aquele com quem eu melhor me relacionava. Tínhamos feitios semelhantes, ambos gostávamos de aventuras e éramos bastante curiosos, no entanto tínhamos diferentes perspectivas em relação ao futuro. O meu avô sempre quisera que eu seguisse o seu negócio e dirigisse as empresas do grupo Lovegood, por outro lado eu sempre me imaginara num tribunal a enfrentar um juiz em defesa de alguém.
- Acabei por abandonar também, primeiro por causa dos estudos, depois devido ao trabalho. - expliquei a Dylan, encolhendo os ombros.
Eram muitas as vezes que tinha pensado em abandonar o meu trabalho no escritório de advogados. É verdade que todos começamos por baixo mas eu não me sentia minimamente realizada com aquele trabalho. Cada vez me sentia mais desconfortável dentro daquelas quatro paredes e a hipótese de demissão vinha cada vez mais ao de cima.
Dylan apresentou-me um convite para jogar com ele, porém já se fazia tarde. - Lamento imenso, mas hoje não vai dar Dylan. - disse. - Tenho que ir tratar de uns assuntos do escritório.
Esperava que ele não ficasse chateado, não estava a inventar qualquer tipo de desculpa, tinha mesmo imensa coisa para fazer.
Despedi-me dele e afastei-me até junto das minhas coisas. Guardei a raquete dentro do saco e, depois de lhe acenar, dirigi-me ao meu carro e abandonei o local.

Assenti levemente com a cabeça, no gesto de concordância com ela. Entendia muito bem que tanto os estudos, como agora o trabalho, ocupavam bastante do nosso tempo. Isso também me acontecia a mim, apesar de que nem tinha sido esse o motivo por eu me ter descuidado com o tênis. Na verdade, nem sequer havia nenhum motivo em específico.
Reparei na maneira como ela ficou depois de falar do trabalho, parecia não estar muito satisfeita com o mesmo, mas optei por nem dizer nada acerca disso, primeiro porque não tinha nada a ver com isso e segundo porque não a conhecia suficientemente bem para estar para ali a meter conversa.
- Ah, não há problema. - retorqui quando ela disse que hoje já não ia dar e esbocei um meio sorriso. - Fica a próxima, não te preocupes. - encolhi ligeiramente os ombros e depois de me despedir dela, fiquei a vê-la afastar-se e ir-se embora.
Assim que fiquei ali sozinho, hoje isto estava demasiado vazio, peguei na minha raquete e numa bola de tênis e fiquei a jogar durante algum tempo contra a parede. Quando me fartei de ali estar, já bastante tempo depois, acabei por devolver o equipamento que tinha alugado para jogar e depois abandonei aquele local dirigindo-me para minha casa.