Salinhas

Entretanto passara-se um ano. Muita coisa tinha mudado. Aixa estava agora na América e a fazer sucesso. Fazia muita falta a mim e a Will. Ele que "perdera" a sua irmãzinha, e eu a minha melhor amiga. No entanto isso serviu para nos unirmos mais e apoiarmos-nos um ao outro. Eu agora praticamente vivia na casa dos Walker. Amava tanto William e estava feliz a seu lado.
 Sentia que estávamos a caminhar no sentido de termos a nossa própria família. Só que isso parecia não acontecer. Tinha-se passado um ano inteiro e apesar das inúmeras tentativas, eu não engravidava. Não era como se tivéssemos estabelecido um "prazo", mas eu sentia que estava na altura de finalmente sermos pais, e parecia-me que Will também queria o mesmo e tinha medo de o estar a desapontar por isso nunca mais acontecer.
Por isso a dada altura decidi ir ao médico e ver se tinha algum problema. Afinal era jovem e nunca tivera doenças nenhumas. Devia ser fácil engravidar! A médica dissera-me o mesmo, mas só para ver mandou-me fazer alguns exames.
Depois das análises de sangue, pediu-me para fazer mais uns exames. Radiografias. Naquela manhã voltei para saber os resultados. Percebi logo pelo sorriso fraco da médica que algo de errado se passado. Pensei que ela me fosse dizer que era infértil ou algo assim, mas não.
Um tumor no útero em risco de crescer e atingir o 1 estágio de cancro.
O mundo caiu aos meus pés. 
Não sei bem o que me corria na cabeça. Voltei para casa e refugiei-me numa das salinhas. Quis chorar mas não consegui. Estava em choque.

Eu tinha acabado de sair do trabalho. Tinha comprado um ramo de flores e uma caixa de chocolates para Maya. Eu estava feliz, apesar de sentir a falta da minha irmã. Estava feliz por ter Maya a meu lado. Quando cheguei a casa, fui á procura dela. Encontrei-a na salinha, sozinha, com uma cara nada boa. Aproximei-me dela. - Hey amor. Que se passa?

Foi quando vi Will, especialmente com um ramo de flores e uma caixa de bombons, que senti as lágrimas aflorarem-me o olhar. Agarrei-me a ele, abracei-o. Então comecei a chorar.

Eu não estava a perceber o que se passava. Abracei-a contra o meu corpo e afaguei-lhe as costas. Beijei o topo da cabeça. - Estas-me a deixar preocupado amor, o que se passou?

Não sei quanto tempo ali fiquei. A camisola dele ficou molhada com as minhas lágrimas. Tentei respira fundo, mas estava a soluçar. Como é que podia verbalizar o que sentia? - Estou doente, Will. 

Continuava a não perceber o que ela queria dizer. Doente? Como assim? Fiz um ar totalmente confuso. - Se estas doente, isso trata-se. Não é motivo para chorar.

Funguei. Queria parar com aquilo. Parar de chorar e soluçar. Ele não compreendia - Não sei... Tenho um tumor. Tenho cancro - A minha voz quebrou assim que dizia pela primeira vez aquilo que dizia.

Quando ela disse que tinha cancro, não soube como reagir. Olhei-a, incrédulo. Juntei as mãos a sua face. - Oh amor.. Eu lamento tanto. - abracei-a com força. - Precisas de alguma coisa? Precisas que te leva a alguma consulta.. Eu.. Eu nem sei..

- Só preciso de me curar - Disse baixinho, em tom de prece. Voltei a enterrar o meu rosto no seu peito e recomecei a chorar. Não sabia o que fazer naquele momento. Mas chorar não ia adiantar-me em nada, pois não? - Era por isto que nada resultava, Will. Era por isto que nunca mais conseguia engravidar... -O que me levava a questionar se alguma vez o faria. Isto é, se sobrevivesse.

Claro que aquela noticia me abalou, mas Maya precisava de mim e ia-me manter a seu lado, forte e rijo como um rochedo. Afaguei as suas costas. - Não penses nisso. Agora tens que te curar. E depois, ainda temos muito tempo.

Não me conformava com nada disto - Porquê eu? - Murmurei baixinho. Abracei-me a ele. Precisava dele, agora mais do que nunca. Com tanto stress, acabei por tempo depois adormecer nos seus braços.

Não éramos nós que decidiamos isso. Suspirei. Quando Maya adormeceu nos meus bracos, peguei-a ao colo e levei-a para o quarto. Ela que descansasse em paz.

Depois da massagem que dera a Will, fora ali que me refugiara. Começara por trabalhar algumas fotografias no computador, mas depressa me deprimi com a solidão e o silêncio. Comecei a pensar na quimio que ia começar e derrubei-me em lágrimas. Acabei por adormecer encolhida no sofá.

Ainda demorei alguns minutos até a encontrar. Coloquei um pequeno sorriso nos lábios e peguei nela ao colo. A tola, devia estar mesmo cansada para ali adormecer. Fechei a porta atrás de mim e levei-a para o quarto, onde a pousei na cama e a deixei dormir. Mais tarde, também eu me juntei a ela.