Cozinha

Não sei se o fato de me ter afastado tinha trazido com tal ato algum constrangimento. Observei minuciosamente a sua boca enquanto pronunciava alguma graçola. – Ui! Claro…William e o seu grande sentido de humor! – Acabei por me começar a rir com a sua expressão e desviei o olhar para outro sitio do quarto qualquer. – Mais do que um manjar dos deuses… - Suspirei de uma forma um pouco dramática, mas claro num tom óbvio de ironia. – Que grande príncipe que me saiu na rifa. Sem força, um fracote autêntico. – um sorriso bastante malandro desenhou-se nos meus lábios.
Já o conhecia há imenso tempo, penso que ele ainda não se apercebeu que pode estar a vontade comigo, na minha casa e isso era um problema que me irritava solenemente. – Wil… - Utilizei a sua, minha, alcunha para que olhasse para mim com atenção. – Já te disse mil vezes para estares cá a vontade, e nunca estás, faz o que quiseres. – Resmunguei olhando-o nos olhos com uma expressão bastante séria e um pouco incomodada. –Caramba, pareces acanhado. Ai, ai ai! – Debrucei o meu corpo sobre o balcão, empinando ligeiramente o traseiro e estiquei o braço tirando de lá as bolachas. – Toma. – Virei-me rapidamente e estendi-lhe as bolachas.- São das que gostas. Come.

Acabei por ignorar o assunto anterior. Eu estava certo que era engraçado e ela sabia que era verdade.
- De fracote não tenho nada. E se assim fosse, nem te teria levado até ao quarto. Desde já digo, qualquer dia, ficas uma baleia! - Encostei-me ao balcão da cozinha e cruzei os braços. Estava apenas a picá-la, novamente. - É um bocado difícil estar à vontade. Não sou capaz disso. A casa não é minha, não insistas. Estou bem assim. - olhei rapidamente para o seu rabo e seguidamente para as bolachas que ela me oferecera. Acabei por as aceitar e levei logo uma à boca. - Obrigada. - ela ainda se lembrava das bolachas que gostava. Sorri. - Então, o que vamos preparar?

-Eu tenho um corpo invejável, tomara tu algum dia teres alguma coisa com uma gaja assim .- Apontei para mim, embora parecesse confiante lá no fundo confiança em mim era algo que não possuía de todo. Ele sabia disso, mas para estarmos a brincar servia perfeitamente.- Não insisto mais…mas conhecemo-nos há tanto tempo. – Larguei um suspiro e virei costas para não insistir com ele. Observei-o a comer calada enquanto meditava o futuro jantar, lancei-me ao armário mal me decidi e tirei de lá esparguete e salsichas e acabei por sorrir, sabendo eu que aquilo iria ficar um espetáculo. Era a única coisa mesmo que fazia, isto quando comia.
-Tu não vais fazer nada, ouviste? Eu sei cozinhar perfeitamente bem…isto. – Olhei para os tachos no alto do armário e automaticamente olhei para ele, pedindo ajuda indiretamente.

- Unf.. até parece. Até uma velhota consegue ser bem mais janota que tu. - gozei. Mia tinha mudado fisicamente. Estava mais magra, mas continuava belíssima. Sorri vitorioso, quando ela deixou de insistir naquilo. Eu conseguia ser bem mais persistente do que ela, quando queria. Cheguei-me perto de si. - Queres ajuda? Se me deixares ajudar-te a fazer algo comestível, eu ajudo-te a puxá-los. - olhei-a. Era só esticar a mão, sem pouco esforço e teria os tachos comigo.

- Ou então, é exactamente o contrário. - sorri de forma divertida. Mirei detalhadamente as suas pernas, mas não por muito tempo. As minhas mãos envolveram-se nas mesmas e meti-a estilo saco de batata. Tirei-lhe o tacho das mãos e pousei-o na bancada. - Muahahahah..

- Não te preocupes Mia. - Fiz um sorriso torto e tal como me pedido, eu não a deixei cair. Aliás, eu nunca a deixaria cair.
Sentei-a na ponta da bancada e pus-me entre as suas pernas. Depositei um beijo carinhoso no topo da sua cabeça. - Vês? Sã e salva! - ri-me. - Queres tu dizer antes, temos.. temos de fazer o jantar!

- Só às vezes.. - revirei os olhos e voltei a encostar-me ao balcão da cozinha. Mia apressou-se a fazer tudo. Não tive sequer que a ajudar. Mas não me importei. Pelo menos, via que ela não estava a queimar nem as salsichas, nem a esparguete.
Puxei a lata das salsichas, passei por água algumas, sequei-as e meti-as no meu prato. Não gostava delas grelhadas. Sabiam a plástico.

Gargalhei com o seu pedido e apesar de me fingir de desinteressado em abrir aquela garrafa, acabei por a abrir. - Pronto, madame. - quando mirei a entrada da cozinha, já a sua cadelinha vinha ter comigo. Baixei-me o suficiente para a alcançar e fiz-lhe umas quantas festinhas no pelo. - Olá beleza.. outra que não me resiste.

Agradeci-lhe por me ter servido um copo de vinho. Vinho era das minhas bebidas favoritas. Tinha começado a gostar, por sua causa. Apesar de não beber muito vinho ou outra bebida alcoólica. Continuei a dar atenção à cadelinha e fui fazendo-lhe festa. - E sou.. ela é bem mais fixe que tu. - gozei.