Refeitórios

O conservatório ainda estava muito calmo. Poucas eram as pessoas que se viam pelos corredores, ou mesmo no refeitório. Havia umas seis pessoas, se tanto. Não as andava a contar. 
Segui com a loirinha até ali e ao balcão pedi um café duplo e uma tosta mista.

Acabei por pedir um leite achocolatado e também uma tosta mista, vegan. Depois de termos os nossos pedidos, seguimos para uma mesa dos refeitórios.

Sentámo-nos numa das mesas perto da parede. Depois entregar-nos-iam ali as coisas. Eu estava frente a Aixa. Que idade teria ela?, perguntei-me. Tinha feições jovens, mas seria já maior de idade?

Agradeci quando uma empregada trouxe os nossos pedidos. Eu gostava de estar bem alimentada, acho que levava o meu estilo de vida minimamente saudável e bem à regra. Olhei para Trevor por uns momentos. Era estranho estar na mesma mesa que um professor.

O bom de ser um professor de dança é que não era tão formal como os outros, ainda que trabalhasse num conservatório. - Estás tão calada agora. - Comentei.

Eu olhava em redor, tentando procurar um relógio. Encolhi os ombros. - Não tenho nada para falar, por isso.. - e depois, não era como se fosse normal, estar ali com um professor, assim, na boa.

Claro...Eu também não tinha nada para lhe dizer. Mas assim aquele tempo ia ser uma desgraça e eu ia acabar por perder o apetite - Não sou nenhum bicho papão - Ou secalhar mentia.

- Ham?! - Ergui o sobrolho. Que queria ele dizer com aquilo? - Não é nada disso. Talvez seja um pouco intimidativo, irritante e.. hum.. é.. - eu tinha uma opinião já formada sobre ele. Era até melhor parar por ali.

Um pequeno sorriso curioso apareceu nos meus lábios - E mais o quê? Agora começaste, acabas - Disse, olhando-a.

Eu não queria entrar por aquele caminho. Mas ele é que pedia. - E um estúpido, um idiota, alguém que tem a mania que sabe muito. No fundo só sabe criticar, criticar e criticar. Até parece que nasceu assim: a criticar.

Os insultos dela eram bastante inofensivos comparados com outras coisas que eu tinha ouvido. Já há muito tempo que me deixara de importar com o que as outras pessoas pensavam de mim.
- Se critico, é porque acredito que podes aprender com os erros. Se achasse que não valias a pena e que nunca ias ser uma boa dançarina, não criticava. - olhei-a - aprender a ouvir as criticas.

Ele não deixava de ter o seu ''quê'' de razão. No entanto, continuava a irritar-me. Isso parecia que não ia mudar. - Mas eu não gosto das suas críticas. Irritam-me e deixam-me deveras fula. - revirei os olhos.

Ela devia ser apenas mais uma daquelas jovenzinhas mimadas. - Não deviam. Se estás incomodada, sabes como te livrares das minhas críticas - Disse neutralmente - Enquanto fizeres as minhas aulas e haver cosias a criticar, fá-lo-ei.

Semi cerrei. Não lhe ia dar o gosto de sair da sua aula, só por estúpidas críticas. Era mais forte que isso. - Como queira. - revirei os olhos e acabei com o meu sumo. Levantei-me e segui para a sala.

encerrado.

Algo me dizia que ela, aquela loirinha, me ia surpreender. Ia continuar nas minhas aulas, apesar de tudo. Se assim fosse, admirar-me-ia.
Acabei de comer e depois voltei para a sala.

encerrado.