Balneários

Eu ouvia as raparigas à conversa. Falavam de Trevor, falavam de mim. Não entendia muito bem o que estavam a dizer. Mas uma delas tinha-nos visto aos beijos, na sexta-feira passada. O que me fez chegar à conclusão, que ainda não esquecera isso. - Ainda se vai arrepender de se ter metido no meu caminho! - Ouvi gargalhadas. Alguma algazarra por ali, como era habitual. - Vemos-nos por aí Aixa, ou não! Ahahah! - Tentei ignorar. Quando dei por mim, estava finalmente sozinha no balneário. Mal acabei o duche, estiquei uma mão para apanhar a toalha. Foi quando me dei conta que esta não estava lá. Olhei para trás, para ver se tinha caído, mas nada. A minha mala também tinha desaparecido.
Eu estava aterrorizada com o que aquelas quatro me tinham feito. Nunca lhes fizera mal algum. Sentei-me encostada à parede, encolhida e comecei a chorar. E agora como é que saía dali?!

Depois da conversa com o meu colega, despedi-me e pensei ir para o meu carro. Só que estava todo suado e preferi ir tomar um banho antes. Depois de acabar de o fazer, e estando sozinho no balneário, percebi que conseguia vir um choro e não vinha dali de dentro. Depois de procurar, vi que o som vinha do ventilador que tinha ligação com o balneário das raparigas. Pensei em ignorar o que ouvia, devia ser apenas uma aluna mimada. Só que ao sair do balneário, já pronto para me ir embora, tivesse de passar pela porta do balneário feminino. Abri a porta minimamente e percebi que não havia lá dentro mais ninguém, só a fonte do choro. Não disse mais nada e entrei.

Eu estava roxa de tanto frio. O meu corpo tremia e por mais que tentasse, não conseguia parar de chorar. Ainda tentava pensar no como sairia dali. Àquelas horas, era pouco provável alguém vir para o balneário e por isso, teria que esperar, até as empregadas o virem limpar.
Foi quando ouvi a porta. Era Trevor. - Elas.. elas levaram-me tudo. - murmurei. - Roubaram as minhas coisas. - e aquilo deu-me ainda mais vontade de chorar.

Eu não estava, de todo, à espera de ver Aixa. Especialmente daquela forma. Nua, com os olhos vermelhos de chorar, a pele pálida e arroxeada. Fiz o que qualquer pessoa faria e tirei uma das minhas camisolas do saco - Cobre-te - Passei-lha. Virei-me de costas para que ela se pudesse levantar e vestir. Não me ia aproveitar para a ver nua. Nem sequer queria. Ou talvez sim.. Não naquela situação.

Naquele momento, não pensei no quão embaraçoso aquilo podia ser. Estava demasiado deprimida para isso. Agradeci pelo seu gesto e vesti a sua camisola, que me ficava extremamente grande, praticamente até aos joelhos. Limpei as minhas lágrimas. - Obrigada. - murmurei.

A minha camisola tapava bastante do seu corpo, mas era branca e ela estava molhada por isso vi coisas que não devia ver. As curvas do seu corpo, a forma dos seus seios contra o tecido, outras formas proibidas... Mas não me estava a aproveitar, de todo. - Não agradeças... Quem é que te fez isto? - Perguntei, preocupado e decidido a fazer justiça - E porquê?

Eu agradecia realmente por não passar mais minuto nenhum, nua e cheia de frio. Sentei-me no banco do balneário e rocei as minhas mãos às pernas. Era um tique, que já não fazia há imenso tempo. - Foram aquelas raparigas.. as que voltaram para a sua aula. - encolhi os ombros. Não queria parecer queixinhas. - Eu não sei bem. Mas, uma delas viu.. hum.. aquilo de sexta.

Lembrava-me vagamente dos rostos das raparigas. Eu ia garantir que aquelas raparigas iam ter o que mereciam. Um cartão de expulsão da Direção. - Por causa daquilo que viram? E depois - Eu não entendia mesmo as miúdas. Vi-a tremer de frio. Já devia ter tirado o meu caso e ter-lhe oferecido. Foi o que fiz - Estás a tremer.

- Eu não sei. Elas comentaram sobre isso, antes de saírem.. - abanei a cabeça. Mas independentemente do que fosse, elas não tinham o direito de me fazer aquilo. Caramba, eu nunca lhes fizera mal nenhum! Ia deixar o meu orgulho de parte. Estava com demasiado frio e por isso, rapidamente vesti o seu casaco. Era tão estranho, sentir o seu cheiro tão de perto. E mais estranho ainda, estar a usar as suas roupas. - Obrigada.

Estava visto que ela não tinha nenhuma das suas coisas - Queres ir-te embora? Eu levo-te a casa - Disse, num tom que não admitia não como resposta.

O que eu mais queria agora, era sair dali rapidamente. Nem sabia com que cara, amanhã ia voltar. Abanei a cabeça e levantei-me. - Sim, está bem.


acabei de ter outra ideia. e_e

Ainda bem que ela não refutou aquilo pois eu não a ia deixar de outra maneira. Saímos dos balneários e, como vi que ela ainda tremia, abracei-a no caminho até ao parque de estacionamento.

Spoiler:

Voltei a tremer, não pelo frio, mas sim pelo simples facto de ele me ter abraçado. Novamente, o contacto físico com ele, deixava-me desconcertante. Encostei a minha cabeça ao seu peito. Foi rápido enquanto chegámos ao seu carro. Lá dentro estava-se muito melhor.
Eu dei-lhe as indicações e saímos dali.

encerrado.

Eu vinha a correr até ao conservatório, com um receio enorme de chegar atrasada. Todo aquele temporal tinha feito muitas estradas cortadas e o autocarro demorara. Enfim.. seria a minha primeira vez atrasada, se isso acontecesse.
Foi quando ia para a sala de dança, que fui puxada pelas raparigas de ontem. O meu coração acelerou.
- Ouvi dizer que uma certa loirinha foi fazer queixas ao namoradinho. - engoli em seco e dei um passo atrás.
- Eu não.. - empurraram-me contra o chão e atiram o meu saco de ontem.
- O director quer falar connosco. E se me acontecer alguma coisa, eu juro que te vais arrepender! - ela chegou-se perto de mim. O seu olhar metia-me medo, demasiado medo. Pisou-me a perna com força e sorriu maliciosamente. Por momento senti os meus ossos estalarem. - Ups.. não foi aqui que ficaste mais afectada, depois do acidente, órfãzinha?! Que desastrada que sou! - as raparigas começaram-se a rir. - Se eu correr o risco de ser expulsa.. hum.. nem queiras sonhar com isso! - e depois daquilo, deixaram-me ali, sozinha e de lágrimas nos olhos. Eu levantei-me como podia, peguei nas minhas coisas e saí dali.

encerrado.