Lago

Durantes horas permaneci imóvel, observando todos os detalhes do local onde me encontrava.

O lago encontrava-se com uma tonalidade escura, o que inferia o seu estado imundo onde pequenos animais habitavam e batalhavam constantemente pela sua vida. Fechei os olhos por breves segundos e inspirei a brisa que por ali passava, trazendo consigo aromas primaveris extremamente agradáveis.

Ultimamente havia-me afastado de todos para completar os meus estudos com todo o êxito esperado e sentia-me cada vez mais sozinha. Embora estivesse habituada a não ter a presença dos meus progenitores comigo, sempre tinha companhia…mas com este afastamento tudo se tornou complicado. Deixava de ter alguém com quem pudesse partilhar momentos, pensamentos, frustrações ou até novidades. Será que ainda se lembram de mim? Era uma questão que ecoava na minha cabeça múltiplas vezes.

Levantei-me, deixando no banco a minha mala recheada com todos os aparelhos e minucias luxuosas nela e aproximei-me da fonte observando atentamente um pato que me mirava a algum tempo. E ali estava, mirando um animal indefeso que simplesmente não percebia nada da vida. 

O meu cabelo esvoaçava pairando segundos depois sobre as minhas costas, em forma de cascata. Uma voz conhecida fez-se ouvir interrompendo assim estas minhas meditações deprimentes.

Quase de forma automática o meu corpo voltou-se para traz fitando os tão belos e conhecidos olhos de William. William era dos poucos amigos, talvez o único, que ainda tinha desde muito tempo, e que embora todas as nossas diferenças, era com ele que gostava de partilhar o pouco que deixava escapar. Aproximei-me do seu corpo e rapidamente envolvi os meus braços no corpo dele deliciando-me com o seu cheiro a perfume de Homem, o abraço foi rápido devido ao meu sentimento de aversão no que toca a sentimentos e intimidades deste gênero. – O que fazes por aqui? – Perguntei penetrando o meu olhar perdido e solitário no seu. Notava-se o cansaço nos olhos dele e um certo brilho de admiração desabrochou no meu olhar.

Havia perdido as vezes que lhe ofereci ajuda e também as vezes que recusara, a sua teimosia não se equiparava à minha. 

-Como se eu acreditasse. – Retorqui puxando-o para o banco onde outrora estava sentada. – Sabes… que podes confiar em mim. – Rumorejei num tom baixo proferindo cada palavra com uma certa firmeza. Procurei a sua mão e coloquei a minha por cima, sentindo o toque das mesmas a envolverem-se.

Por muito que parecêssemos diferentes aos olhos do mundo havia algo que nos ligava de uma forma única, algo que ambos partilhávamos: o carecimento de não ter quem cuide por nós.  – Como está a tua irmã? – Questionei procurando saber da existência da criatura mais doce a face da Terra.

Eram poucas as pessoas que partilhavam o mesmo espaço que nós, haviam algumas crianças que protagonizavam o barulho de fundo e alguns adultos que calados as observavam com a mínima atenção.  – Desculpa… não ter dado sinais de vida. – Tentei desculpar-me de algo que não tem remição, haveria sempre tempo para uma mensagem ou um telefonema. Desviei o meu olhar do dele olhando para o lago imundo ao nosso lado e larguei um leve suspiro