Recepção

No dia seguinte lá estava eu ansiosa por saber as duas pessoas que tinham ganho a bolsa deste ano. Estava nervosa, as minhas mãos tremiam.. O meu mundo caiu quando vi ao lado do meu nome um grande e gordo 'aceite'. Gritei de felicidade. Estava tão feliz.

Passado pouco tempo depois de ter terminado a minha aula, tinha saído para ir buscar um café ao bar quando vi um grupo de alunas a sair, a reclamar por me não terem passado na audição. Com tanta coisa na cabeça, tinha-me esquecido de ir ver os resultados. A caminho do bar passei por lá e foi quando vi Aixa e a felicidade estampada na sua cara dizia-me tudo.  Dei meia volta e voltei para a aula de dança. Já nem queria a porra do café

Eu e um rapaz de outra turma, mas do mesmo ano que o meu tínhamos ganho a bolsa. Isso queria dizer que nos restavam poucas semanas para ir embora. Tinha que ir já preparar-me. Antes de me ir embora, mandei um sms a Will e a Maya contando as novidades.

Encerrado.

Nova Iorque deixara de fazer sentido pouco tempo depois. Tinha sido despedido da Academia a dada altura, sem grande razão. Não tinha nada que me ligasse à cidade, apenas a minha irmã...e talvez Joan. Tinhamos-nos envolvido algumas vezes, mas eu vira desde logo que não era coisa para mim. Já não. Nunca mais queria uma relação, embora me arrependesse por não ter aquilo que todos os homens conseguiam: uma boa carreira e família. Andei à deriva pelo mundo durante uns anos. Até que precisei de voltar a assentar. Dei por mim de volta a Feeny. Era terrível porque só me trazia lembranças mas tivera de as superar. Aixa fazia parte do passado. Nunca mais nos viramos nem nunca mais ouvira falar dela. Era pelo melhor. De volta a Feeny conseguira o meu emprego de volta, mas já nada era o mesmo. Agora dava aulas aos mais novos, crianças e adolescentes. Estava nisto há algum tempo quando Joan decidiu visitar-me. Uma coisa numa noite de copos levou a outra. Não deveria ter acontecido nada mas aconteceu. Tal como aconteceu o teste de gravidez positivo. Foi tanto uma surpresa quanto um choque. Não idealizara a minha vida com ela, mas se havia uma criança minha, teria de encarar as minhas responsabilidades. Joan e eu estávamos noivos, como há mais de dezasseis anos tínhamos quase estado. Ela aceitava que não fosse um noivado por amor. Era tudo o que lhe podia oferecer.

Por mais que eu tentasse ficar confortável naquela cidade, não conseguia. Sentia-me a sufocar por dentro. Queria arranjar uma boa desculpa para fazer com que Mathew mudasse de ideias e voltássemos para LA. Sim, eu morava em LA. Eram lá o centro de todos os negócios do meu marido é havia praia e muito sol para aproveitar. Angel adorava.
A pequena garotinha ia fazer os seis anos dentro de algumas semanas. Maya estava tão animada que fizera questão de ceder a casa dela para uma festa. Não me proferi sobre isso. Nem sabia se íamos ficar ali até ao aniversário da pequena. Esperava que não.
A meio de uma conversa, Will acabou por comentar sobre o quão diferente estava a academia de dança. Senti o meu estômago revirar só com os pensamentos que vieram à memória. Mathew ficou curioso por saber o tipo de ambiente onde eu estudara. Insisti muito em não sair de casa. Disse que estava cansada da viagem e isso pareceu funcionar. Mas alguns dias depois, lá estávamos nós os quatro - eu, Mathew, Angel e o meu sobrinho - a caminho da estúpida academia. Tinha ficado tão chateada que não falei o caminho todo. E ainda foram uns bons minutos, já que o meu marido insistia em ir à pé. As crianças brincavam um pouco afastados de nós. Mathew tentou meter conversa comigo, mas neguei-lhe qualquer resposta. Ele não entendia ao certo o porquê da minha relação. Apenas lhe contara parte do meu passado e nisso, Trevor não estava incluído. E ao lembrar-me do seu nome sentia o meu coração tremer.

Era apenas mais um dia entre tantos outros. Por norma nunca chegava animado à academia, mas mal entrava na sala de aulas e via os meus miúdos a correr para me dizer olá e perguntar o que íamos dançar hoje, ficava mais alegre. Nunca achara que fosse bom a lidar com crianças, mas pelo menos com aquelas era excelente. A aula correu como esperado, mas já mais para o fim cedi ao desejo de um dos pequenos e coloquei uma daquelas músicas parvas que eles adoravam. Já tinha a porta aberta para o caso de algum dos pais querer assistir ao fim da aula.

- Eu sei que estás chateada, mas já não víamos o teu irmão e a Maya há tanto tempo! E a Angel too! Olha o quão feliz ela está! - suspirei e acabei por deviar o olhar para as duas crianças que brincavam um pouco mais à nossa frente. É, realmente a pequena estava feliz. - Estive até a ver casas e... - arregalei os olhos. Espera? Mas o que é que ele estava a falar?!
- Casas?! É que só podes estar a gozar comigo! Eu não me vou mudar para aqui! - quase que gritei.
- Aixa! Aixa! Escuta-me, não é nada disso! - Mathew ainda tentou falar comigo, mas deixei-o a olhar para o boneco.

Aixa off*
Mathew não queria acreditar que Aixa o tinha deixado ali, à mercê, com duas pestes para vigiar. Suspirou. Ela nem ao menos o deixara acabar de falar. Era uma casa de férias.. Queria fazem-lhe uma surpresa.
- Papá, papá! Vamos! - a pequena Angel apontou para a entrada da academia e correu lá para dentro. Seguiu atrás dela, com Josh do seu lado, agarrado à sua mão.

Os miúdos conseguiam ser disparatados por vezes e nem eu conseguia impor alguma ordem dentro da aula. No fim daquela foi igual. Estavam todos a dançar ao sim da música, já nem olhavam para mim. Os pais observavam deliciados, claro. Faziam-me imaginar como seria a minha relação com o meu filho, se bem que ainda era demasiado cedo para pensar nisto. Ainda faltam vários meses. Reparei pelo espelho que havia dois miúdos à porta da sala a espreitar - Podem experimentar se quiserem.

Angel encolheu-se toda e escondeu-se. Já Josh teve uma reação completamente oposta e começou a incentivar a pequena, puxando-a para dentro da sala. A loirinha tornava-se tímida entre tantas pessoas que não conhecia. Especialmente no meio de tantas crianças. Mas com a ajuda do professor, depressa começou a se soltar.

Com as duas novas crianças voltei a dar alguma ordem e a dar alguns passos básicos para eles seguirem ao som da música. O miúdo dava-se bastante bem, já a rapariguinha demorou algum tempo a libertar-se e por isso é que me aproximei dela para que visse melhor como se davam os passos. A aula terminou por fim. Olhei para a miúda que sorria timidamente. Ela lembrava-me alguém. Depressa saiu a correr com o rapaz com quem chegara. Todos os miúdos começaram a dispersar.

Angel tinha saído tão animada da aula que quando chegou perto do pai só pedia para vir mais vezes. Saltitava e soltava pequenos gritinhos de felicidade que faziam lembrar de Aixa. Josh também parecia ter gostado e quando ouviu a criança mais nova pedir para fazer as aulas, também quis.
- Calma, calma crianças. Deixem-me falar primeiro com as vossas mães e...
- Por favor papá!!
- Sim, por favor tio! - e sem ter alternativa, acabou por esperar pelo professor. Mais valia tratar de tudo agora, antes mesmo que Aixa tivesse a hipótese de saber e acabar de vez com o seu couro.

Fiquei na sala até o último miúdo sair. Ao sair reparei que um dos pais estava à espera para falar comjgo. Atrás dele estavam os dois miúdos que tinham experimentado a aula. Começámos a falar dos dias, horas e como eram as aulas. Mas pelos vistos já tinha conquistado dois novos alunos. Ficava contente.
- Sendo assim vemos-nos na proxima quarta-feira. Digam-me só como se chamam.
- Eu sou o Joshua.
- E tu pequena?
Esta riu-se timidamente. Percebia-se que era mais nova uns anos. Lá respondeu - Angel.
Todos já apresentados, despedimos-nos.