Cozinha

Lancei-lhe um olhar censura. Ainda assim eu tinha culpa naquilo, sabia. - Não sejas assim, Aixa, ele nem dormiu. Podias ter-te preocupado minimamente em avisar. 

- Ele não dormiu e a culpa é minha? - sorri cinicamente. - Ele não teria dormido na mesma, se eu tivesse passado a noite cá! - revirei os olhos.

- Tu percebeste exactamente o que eu quis dizer! - Repliquei, já não controlando o meu tom de voz - Estás a agir de uma maneira idiota. Parece que estás nas tintas para tudo. Com a tua hostilidade eu posso aturar, mas pára de ser assim para o teu irmão que não merece a preocupação toda que lhe das. 

- Pelo menos eu não estou a dormir com o irmão da minha melhor amiga! Traidora! - quase que alcancei o mesmo tom que ela. - Achas mesmo que ele vai ficar contigo? Que alguma vez na vida se vai ajoelhar e pedir-te em namoro? Chegará a altura em que estará cansado de te comer e vai-te deitar fora, como uma reles barata! - acabei por sair dali, empurrando Will, que entretanto aparecera na cozinha.

Não podia acreditar na atitude dela. Virei-me de costas pois não queria que ninguém visse as lágrimas iminentes. As palavras de Aixa ressoavam forte na minha cabeça.

Tinha guardado o maço de tabaco no armário e lavado os dentes, para tentar tirar aquele hálito de cigarro. Foi quando ouvi os gritos na cozinha. Fui contra a parede, Aixa tinha corrido e trancado-se no quarto. - What.. - olhei para Maya. - O que se passou? O que é que.. - aproximei-me.

Fiz um esforço para não chorar. Limpei os olhos e respirei fundo. Mas bastou encarar William para me desmoronar. - A tua irmã tem razão. 

Não a gostava de ver naquele estado. Aproximei-me dela e passei as mãos pelos seus ombros, para a reconfortar. Abracei-a. - A minha irmã tem razão no quê?!

Limpei as lágrimas que continuavam a cair. - Não me devia ter enrolado contigo. Intrometi-me em algo que não devia e nunca quis saber se a Aixa se importava ou não.

Aquelas ideias absurdas só podia ter dedo de Aixa. Não podia acreditar no que estava a ouvir. - Really? E desde quando é que ela tem que opinar sobre isto? Eu tenho quase trinta anos, acho que é o suficiente para saber o que quero da vida e não deixar que os outros se intrometam. - mas não parecia o mesmo com ela.

- E o que queres da vida, Will? - Exclamei. Há semanas, já fazia uns dois ou mais meses, que estávamos juntos e nada. Talvez Aixa tivesse razão. Para além disso, não queria que por minha culpa os dois irmãos se afastassem e era isso que estava a acontecer - Tu és o irmão mais velho da minha melhor amiga e a Aixa claramente não gosta disto, de nós. Vocês sempre foram unidos e eu estou a estragar isso!

Eu começava a ficar realmente baralhado das ideias. Não podia ficar com Maya sem me afastar de Aixa, mas também não queria ficar preso à vontade da minha irmã. Pensara que batendo de frente, ela fosse acalmar, mas estava a acontecer tudo ao contrário. - Eu vou conversar com ela.. tentar explicar-lhe pela milésima vez.. - suspirei.

- Não sei se vai resultar - Forcei-me a afastar dele. Aixa não gostava mesmo nada de nos ver juntos e ela andava insuportável.

Cocei o couro cabeludo. Não gostava de me manter afastado dela. - Então o que queres que faça? Se não tentar novamente, nunca saberei.

Engoli a seco.  - Faz como achares melhor. - Se ele fosse falar com Aixa, eu sabia que as coisas não iam ficar bem. Não havia maneira - Eu... eu vou-me embora. É melhor não estar aqui. Falamos depois?

Suspirei, nada agradado com aquilo. Teria que falar com Aixa se queria resolver aquela situação. - Está bem, depois falamos. - beijei a sua testa.

Não nos despedimos com um beijo nos lábios. Engoli a seco e acenei.
Fui-me embora. 

encerrado.

Quando Maya se foi embora, já sabia que tinha que resolver as coisas com a minha irmã. Não ia ser nada fácil. Suspirei e fui para o quarto, acabar de me vestir e tentar ter uma conversa séria com Aixa.

encerrado.

Eu andava sempre esfomeado, a verdade era essa. Aixa era meio esquisita a comer. Se não gostasse do que via, deixava o prato de lado. E por isso e não só, certifiquei-me em ajudar em tudo o que Maya precisa-se.

Eu tentei fazer tudo sozinha. Dei o meu melhor para as coisas saírem bem mas não era fácil. Queria dar o menos trabalho possível a Will. Acabámos por fazer carne com natas e cogumelos.

Eu quis ajudar o máximo que pude. Estava-me a sentir um completo inválido. Mas bem, o jantar saiu como esperado. De vez em quando, metia-me com Maya, somente para a provocar. Os meus lábios percorriam o seu pescoço e a sua face. Com a ajuda de Aixa, fui meter a mesa.

Por fim o jantar ficou pronto. Acho que me saíra melhor do que o esperado mas isso só se saberia realmente quando provássemos. Levei as travessas para a mesa.

Eu tinha acabado mais um treino. Estava dorida, como era de esperar. Tomei um banho e vesti-me. Depois fui-me juntar a Maya e a Will e ajudei o meu irmão a por a mesa. Quando Maya chegou com as travessas, foi impossível não picá-la. - Hum.. eu ainda tenho o número das pizzas..

- Não vai ser preciso nada disso. Acho.. - fiz uma careta. Eu tinha ajudado Maya em tudo o que podia, tinha a certeza que estava comestível.

Sorri para Aixa - Espera só até provares, vais comer e chorar por mais. Até vais esquecer o número do homem da pizza - Nós antes usávamos muito esse número. Espera ter razão.