Cozinha

- Obrigada. - sorri abertamente. Nem queria pensar no como reagiria Will, se soubesse. E por mim, deixá-lo-ia a pensar que continuava virgem, até os meus cem anos. William era demasiado protector. Quando a loiça ficou pronta e tudo o resto se viu arrumado, lavei as mãos e sequei-as. - Boa noite Maya.

Apenas sorri. Gostava de ter a nossa amizade de volta e do facto de Aixa confiar em mim. Eu guardaria o seu segredo do irmão - Boa noite Aix - Despedimos-nos e eu subi até ao quarto de Will, só para me ir despedir.

Estava a preparar um bolo de chocolate quando Maya apareceu. Aproximei-me dela e beijei-lhe o topo da cabeça. - Melhor?

Em paz mesmo.. No caixão -qq

Duvidava que fosse ficar melhor, mas não queria pensar naquilo agora. Por isso limitei-me a assentir - Cheira-me a bolo de chocolate? - Questionei, sentindo o meu apetite abrir.

Mostrei-lhe um sorriso maroto e abanei a cabeça. - Hum.. Rum.. - voltei para o centro da bancada. - Estou a faze-lo especialmente para ti. Pensei que te animasse um bocadinho. Afinal, vocês, mulheres adoram chocolate.

Chocolate vinha mesmo a calhar para me distrair um bocadinho. - Nisso és capaz de ter razão, William Walker. Adoramos chocolate - Sorri levemente - Obrigada, vai saber mesmo bem. O que tambem saberia mesmo bem era um beijinho...

Coloquei um sorriso orgulhoso na cara.
- Um beijinho dizes tu?! Hum.. Não sei se mereces.

- A meu ver, creio que mereço muito.
Voltei a sorrir e fui-me aproximando dele.

- Tudo bem, convenceste-me.
Puxei-a contra o meu corpo e beijei-a.

Era aquilo - sentir o seu corpo e o seu amor - que me fazia querer ter esperança. Desde que ele estivesse comigo, não ia desistir... - Eu amo-te Will - Disse quando quebrei o beijo.

Acariciei a sua face e sorri. O bolo estava praticamente pronto.
- Eu tambem te amo, aconteça o que acontecer.

Por alguns segundos alarmei-me, pensando se o que ele dizia seria realmente assim. Rápido afastei esses pensamentos - Está pronto e eu estou esfomeada.

Tirei o bolo do forno e fui buscar uma faca. Não seria muito bom para os nossos estômagos come-lo muito quente, por isso só para fazer tempo pedi-lhe ajuda num sumo.

Ajude-o a fazer o sumo enquanto esperávamos que o bolo arrefecesse. Provei apenas um bocadinho da cobertura do mesmo, passando por lá o dedo e depois lambendo-o.

Acabamos por passar a tarde na cozinha, a lanchar. Ela comia mais do que eu. Não tinha grande apetite e estava pensativo. Iríamos ter que voltar a falar sobre a doença dela.

Quis aproveitar o resto do dia com tranquilidade e, sobretudo, normalidade. No dia seguinte tinha de enfrentar tudo, com uma nova consulta e uma biópsia. A verdade é que não queria, só queria ficar em casa perto dele e esquecer tudo.

No dia seguinte, eu resolvi acompanhar Maya ao hospital. Queria estar sempre a seu lado. O trabalho que ficasse em segundo plano. Nem sequer tinha cabeça para isso. Seguimos para o hospital.

Merda, não gostava de como as coisas estava a ir. A minha relação com Maya estava a enterrar-se ainda mais. Aquilo era desgastante.
O teste de dna sairia em breve e isso deixava-me ansioso. Durante aqueles dias, não consegui evitar uma aproximação do rapaz. Ele era bastante inteligente e tinha-se vindo a mostrar mais social do que na primeira vez que nos tínhamos visto.
Naquele dia, tinha chegado mais cedo a casa. Scylla estava no quarto de hóspedes em volta do computador, a tentar arranjar emprego. Como tinha a tarde livre, deixei-me ficar a tomar conta de Joshua. Acabámos por nos entreter na cozinha.

Tínhamos acabado de preparar um lanche cheio de doces quando a campainha tocou. Peguei em Joshua ao colo e fomos fazendo umas macacas pelo caminho. Só parei, quando abri a porta e vi Maya. - Josh e que tal ires já decorando as panquecas? - o rapaz acenou sem reclamar e correu de volta à cozinha. A minha expressão mudou, quando finalmente nos encontramos a sós. - Quem é viva sempre aparece, não é?!

Lamentava que as coisas entre nós tivessem chegado àquele ponto. Custava-me vê-la ali e não poder tocar-lhe. Mas ela é que tinha escolhido ir-se embora, tinha que me mentalizar disso. - Sim, meu quarto. - encolhi ligeiramente os ombros. Já não o podia considerar nosso, dado a nossa situação. - Espera aqui, vou buscá-lo. - depois de lhe virar costas, ainda fui rapidamente à cozinha ver como Josh estava e então segui para o quarto.

Fiquei ali à entrada como se de uma plena estranha me tratasse. A sensação incomodava-me, mas eu soubera desde sempre que isto seria inevitável um dia. Enquanto ali estive, a mãe do miúdo - a ex de Will - passou por mim apenas usando uns mini-calções e um top curto. Mordi o lábio. Tão bonita, tão sexy, tão não-estou-a-morrer-de-cancro vibrante. Tão não eu e Will tinha-a ali em casa, a deambular semi nua. Será que ele e ela já se tinham juntado depois de eu me ter ido embora? Engoli a seco, afastando esse pensamento. Apesar de tudo sabia que Will era um bom homem.

Não me demorei muito no quarto. Quando voltei com o cartão de memória na mão, Scylla estava sentada no sofá da sala, com o laptop ao colo e Josh vinha a correr atrás de mim com um prato cheio de panquecas, inundadas de chocolate e caramelo e com um sorriso que fazia derreter qualquer um. - Não foi muito difícil de o encontrar. - fiz uma careta e estiquei-lhe o cartão de memória. Ainda era estranho ver Maya ali. De certa forma, tudo aquilo ainda não se encaixava na minha cabeça.

Tentei aparentar estar mais serena quando William regressou. Estiquei a minha mão para agarrar no cartão de memória. No processo, acabei por tocar na mão dele e fiquei arrepiada como sempre ficava sempre que lhe tocava - Obrigada - Agradeci, sem saber que mais dizer. Parecia que estava a mais naquela casa naquele momento - Liga-me um dia destes...sim? - Com isto queria dizer que ele me ligasse quando soubesse os resultados do teste e soubesse que decisão ia tomar.