Piscina e Jardim

-Oh, isso não é nenhuma história escaldante, é mais uma de cacaracá… - Encolhi os ombros. – Não, que tivesse gostado que ela te fez…mas também não me pareces muito magoado com isso. – Coloquei as minhas mãos sobre o meu rosto e cuidadosamente virei-o para mim, aproximei-me e beijei-lhe a testa, numa beijo rápido e delicado. – Ei! Eu gosto de coisas românticas e excitantes, mais excitantes que românticas. – Uma leve gargalhada soltou-se. – Por acaso, o meu ex-namorado gostava muito de ser mauzinho. – Deitei-me para trás, fechei os olhos por segundos e relembrei-me da sua cara, das suas feições de como era falso e astuto. Havia apresentado Thomas a Robb numa das festas que fiz na casa antiga, pelo que me pareceu Thomas odiou a presença de Robb e nunca foi simpático nem educado para ele, o que revelou muito dele. O silencio instalou-se entre nós, não que fosse constrangedor, deveríamos estar cada um a pensar sobre as nossas ‘vidas’. – És, eu sei aquilo tudo tu és. Eu sei, os outros não sabem. Tu não tens noção da pessoa que és. – Retorqui após ele ter quebrado o silêncio.

*
Após me acordar do sonho que estava a ter, um sonho que parecia vivido, tirando o fato de isso nunca acontecer. Não que eu não quisesse ter o Brad Pitt como meu marido, mas escusado dizer que não sou nenhuma Angelina Jolie.
Após me ter acordado, tarefa extremamente difícil, e por vezes dolorosa, sabendo do meu mau feitio acarinhou-me fazendo-me acalmar e ocultar um pouco este meu lado pouco simpático, que provavelmente iria durar o resto do dia.
-Tens tempo para dormir quando estiveres morta. – Citou a sua mãe, num tom de voz grosso que eu tanto gostava. – Por amor de deus, Credo!- Acabei por resmungar e atirei a almofada contra o braço que não tinha ferida, para não o magoar. Se o fizesse nunca me perdoaria. - Oh aparece quem? Achas mesmo que aparece alguém. – Revirei os olhos, não que fosse diretamente para ele mas foi mais uma atitude em que expressava o sarcasmo com que havia dito tal coisa. Ele sabia que os meus pais nunca me iriam visitar, e que, como estava com ele não iria convidar ninguém para vir cá ter. Gostava de estar com cada amigo em separado.
Coloquei os meus braços a sua volta enquanto fui puxada para o seu colo, com alguma delicadeza afaguei as suas costas nuas durante um bocadinho e beijei o meu ombro , relembrando-me das parvoíces da noite anterior. Informou-me que gostaria de ir a casa buscar alguma coisa, assenti. Não iria prende-lo, já lhe tinha participado que tinha roupa para ele, mas casmurro como ele era, presumivelmente não queria aceitar. –Isso agora…- comentei após ele ter questionado o porquê de ter roupa de rapaz em casa.
Levei-o até ao quarto que tinha preparado para ele e deixei-o sozinho, sem antes reparar nas caretas que fazia ao ver a roupa. Que aversão que ele tinha a marcas caras…Mal entrou naquela casa de banho abandonei-o, passando a cuidar de mim.
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Estava de costas, os meus pés mergulhavam na água da piscina refrescando o meu corpo. A brisa agradável fazia esvoaçar os meus cabelos e todo o jardim que havia ao meu redor, na água encontrava-se a minha cadela que se divertia vivendo o momento intensamente. Esperava por Robb que não tardou a comparecer junto de mim, segui-o com o olhar vendo-o a sentar-se logo na mesa. Perguntou se não iria tomar o pequeno, sem responder levantei-me indo até ele e sentei-me na cadeira da frente olhando-o nos olhos. – Não são como os teus pequenos almoços gigantes, mas..pronto. – Peguei no sumo de laranja, já aberto por ele, e servi um pouco. Bebi-o lentamente enquanto observava Rosie e não toquei no croissant que haviam trazido para mim .- Daqui a nada vou estudar um bocadinho. – Informei-o fitando o seu rosto com atenção, ao ver açúcar em pó perto dos seus lábios, aproximei o meu dedo tirando de lá aquele pó branco. – Mas antes vamos ver das feridas, a pomada fez-te alguma coisa? – Perguntei mergulhando o meu olhar azul nos seus olhos profundos.

-Eu magoado por causa de uma rapariga? - fiz uma careta - parece-me que nunca vá acontecer. - Fechei os olhos quando ela me beijou a testa e deixei-me estar assim deitado, virado para ela e com a cabeça sobre as suas pernas. Revirei os olhos ao ouvi-lo falar em Thomas e subi o olhar para os seus olhos - o teu ex-namorado era mauzinho - resmunguei. Por alguma razão nunca gostei dos ex-namorados dela, mas esse era o pior, não gostava de mim nem morto e como eu também nunca me deixava ficar atrás, não era a melhor pessoa para ele, mas só porque ele não era para mim. E acho que nem para ela.- Agradece à minha mãe por não saberes o que os outros sabem - disse com um encolher de ombros. - eu tenho plena noção da pessoa que sou.

Soltei uma gargalhada quando resmungou depois de eu citar a minha mão agarrando na almofada e colocando-a no sofá. - Não sei, nunca vim cá e já não nos vemos há muito tempo. Pelo que fizeste ontem acho que não tens namorado, mas podes ter uma amiga a viver contigo, sei lá - encolhi os ombros, lembrando-me do que tinha acontecido ontem.  Suspirei, tentando que isso desaparecesse da minha mente e voltei a olha-la. - Não me digas que guardas roupa dos teus exs - disse num tom de gozo, não descartando, no entanto, essa hipótese. Não tinha namoradas e tinha bastante lingerie feminina que algumas gostavam de deixar lá.
Depois de ter tratado de mim fui ter com Mia que estava a relaxar junto à piscina. Sentei-me na mesa que estava posta com o pequeno almoço e sorri-lhe quando veio ter comigo, no entanto, sem me responder à minha pergunta, mas eu não ia desistir, porque podia não ser muito insistente com ela à cerca de comer, mas já tinha reparado que ela estava a ficar mais magra e que já ontem não tinha comido nada. - Os meus pequenos almoços não são assim tão gigantes. - depois dela, servi-me também de sumo de laranja - Não me vais responder? - perguntei - porque é que não andas a comer nada? - voltei a perguntar começando a comer um bocado de croissant que havia lá. Ri-me quando ela me veio tirar pó e limpei-me também, olhando depois, para o meu braço e encolhendo os ombros - não sei, ainda tenho dores, mas já devem estar melhores.

Fiz uma careta e neguei, abanando a cabeça lentamente, mostrando-lhe que estava convicto do que dizia - Não acontece a mim, nem vai acontecer - continuei com a mesma expressão - eu não acredito nisso do amor -encolhi os ombros. Não era como ela, não conseguia ser optimista em relação ao amor depois do que se tinha passado com os meus pais. Eles eram... o melhor casal de sempre e, de um momento para o outro,... Virei-me até olhar os seus olhos e suspirei agarrando-lhe numa mão - Tu sabes que no início nós não nos dávamos muito bem... eu só decidi tratar-te melhor quando a minha mãe me pediu - sentei-me e beijei-lhe a bochecha - Só sou assim, como tu me vez, para ti e para a minha mãe, mais ninguém. - expliquei.

*

-Estás habituada? Desabitua-te - fiz uma careta - isso só te faz mal, tens que pensar primeiro na tua saúde, não é no trabalho ou nos estudos - disse sendo o mais sincero possível com ela, sem ser rude, tal como tentava todos os dias quando estava com a minha mãe e com ela. Sabia a forma como ficavam afetadas quando eu era mais frio.
Olhei para o meu braço, sem dúvida que o aspeto estava melhor do que ontem, mas não estava assim tão diferente. - Isso é porque me conheces bem, mas não, eu não preciso de película nenhuma, vou sem ela - encolhi os ombros - não vai ser por isto que vou morrer - sorri-lhe e agarrei numa maçã que estava no centro da mesa, dando-lha - come. - e antes que ela dissesse alguma coisa decidi acrescentar: - por mim.

*

Levantei-me mal Mia fez o mesmo e ajudei-a a levar as coisas para a cozinha, tentando não deixar nada partir-se, visto que era desastrado o bastante para deixar cair tudo o que levava nas mãos. Quando fui de novo até ao jardim sorri quando a cadela veio ter comigo a pedir mimos. Baixei-me, começando a dar-lhe festinhas, no entanto, tive que parar quando a dona veio pedir-me para me deitar numa espreguiçadeira. Suspirei, fazendo o que ela me pedia e estiquei o meu braço, depois de ter despido os calções, apesar dela mos ter colocado para cima, isto, porque a ferida estava num sítio complicado de chegar. - Não tenhas medo, já doeu mais - garanti sentindo os meus músculos ficarem mais tensos, inconscientemente, e respirei fundo, fechando os olhos enquanto ela passava a pomada pela ferida. Dei-lhe o braço, deixando que fizesse o mesmo e quando acabou permiti-me relaxar, abraçando-a assim que se deitou ao meu lado. - Eu gosto de conchas - ri-me com a minha desculpa e olhei-a - E queria fazer-te um colar de conchas - pisquei-lhe o olho. Nunca o cheguei a acabar, porque a minha aptidão para fazer colares, até de conchas, não era muito.

-O que é bom dura pouco, aplica-se ao chocolate e às relações - interrompi-a mal começou a frase. Suspirei ao mesmo tempo que ela e dei-lhe uma festinha no cabelo. Ri-me com o que ela disse, principalmente com a sua frase "vou ver-te presa a uma rapariga qualquer" - Primeiro Mia, se por acaso me apaixonar por alguém não vai ser uma rapariga qualquer, segundo, não vou estar preso a ninguém, eu amo a minha liberdade - disse entre risadas. - vamos parar de falar sobre isto Mia, não quero zangar-me contigo só porque temos opiniões diferentes - encolhi os ombros. Era demasiado teimoso para mudar de ideias, isso só aconteceria se por acaso experimentasse algo do género, até lá, não conseguia acreditar.
Juntei as sobrancelhas quando senti a minha mão cair, visto que até agora quem a estava a agarrar era Mia e percebi que tinha entendido tudo mal. - Não - fiz uma careta e sentei-me na cama agarrando-lhe eu na mão - claro que não, mas eu... eu só estou a dizer que não sou tão boa pessoa quanto tu pensas, eu nunca fui. Eu nunca confiei em ninguém desde o momento em que a minha família se separou e sim, eu só comecei a tentar criar laços contigo porque a minha mãe me pediu e disse que ia ser bom para mim ter uma amiga como tu, porque tu sempre foste boa. Eu era só um miúdo e pensava que nunca ia ter amigos a sério até deixar-te brincar comigo. - encolhi os ombros - Eu gosto de ti e confio em ti, mas não é só por causa da minha mãe, é pelo que tivemos quando fomos crianças e ainda tempos. - eu não era muito bom a expressar-me por isso estas frases estavam a sair-me super lentamente para eu próprio tentar perceber o que estava a dizer. Acabei por suspirar abanando a cabeça - eu não sou bom nisto. - encolhi os ombros. - Mas o que temos não é só por causa da minha mãe.
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Revirei os olhos - é mesmo por não seres uma máquina que tens que te alimentar como deve de ser, não é Mia? - perguntei - e só é assim porque queres. -Eu sabia muito bem como é que Mia era, por vezes insistia, por vezes não, hoje estava num dia bom, ia insistir com ela até ela ceder. Não me queria zangar, muito menos com ela, mas no que tocava à saúde eu não conseguia responder de outra forma. Até porque, uma pessoa como ela, uma pessoa com posses monetárias, devia ter era saúde, visto que tinha dinheiro suficiente para comprar todo o tipo de medicamentos e consultas em médicos especialistas.
Mostrei-lhe um sorriso inocente quando ela começou a dizer que o que eu tinha pedido era muito baixo. Eu concordava, era chantagem emocional, mas era para o seu bem. - A sério Mia, come - mandei-a. Bebi um bocado do meu sumo, ouvindo-a dizer-me que precisava de película e revirei os olhos - mas eu nem quero ir para a piscina. - resmunguei, mas lá acabei por me levantar, deixando que me guiasse até ao sítio onde tinha a película, para a ir colocar. Tinha que admitir que era justo.
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Deixei-me de olhos fechados quando ela me deu um beijinho na testa, e sorri assentindo à sua pergunta retórica - a sério - disse em voz alta e só a olhei porque me apertou as bochechas - eu sou adorável - ri-me - mas não tive muito sucesso. - encolhi os ombros olhando para Rosie que preparava para saltar para a piscina. Fiz uma careta quando pingos de água fria embateu contra o meu corpo quente e ri-me, de imediato, ao ouvir Mia resmungar - aposto que a tua cadela percebe muito bem quando dizes para mergulhar do outro lado. - gozei. Deixei que se afastasse de mim quando se levantou e fiz o mesmo, retirando a t-shirt que me tinha emprestado. Fui colocar a roupa em cima da cadeira onde tinha tomado o pequeno almoço e, de seguida, deitei-me de novo na espreguiçadeira, sendo pouco depois todo encharcado. Abri os olhos, pronto para resmungar, quando percebi que tinha sido Mia - tal cadela tal dona - resmunguei limpando-me.

Ri-me e deixei que viesse para o meu colo. Não pude deixar de estar meio receoso que me beijasse, lembrando-me do que tinha acontecido antes. Não era que eu não tivesse gostado de a ter beijado, porque tinha, mas era estranho quando antes pensara que ela era quase como uma irmã para mim. Tentei não demonstrar os meus pensamentos pelas caretas que fazia e encostei a cabeça à sua - esperemos que sim - encolhi os ombros. Assenti com o que me perguntou e beijei-lhe a testa - eu não faço qualquer esforço para estar contigo. Isso não faz parte de mim, se não gostasse de ti nem te dizia olá na discoteca.
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-Eu não vou nunca deixar de me preocupar contigo - elevei-me também um pouco, sem me levantar - então podes tu parar com isso.-disse num tom rápido e elevado para que ela percebesse que o que estava a fazer só a prejudicava mais. Suspirei quando veio ter comigo e abracei-a, abanando a cabeça - só estou preocupado contigo, Mia. - disse já mais baixo e mais calmo, afagando-lhe o cabelo.

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Fiz uma careta abanando a cabeça só com a ideia de me ver com aqueles fatos horríveis de rapaz que anda no ballet, nada contra- não tenho jeito para isso nem com aulas - encolhi os ombros - mas devias ver-me numa sala de tiros, eu tenho boa pontaria, melhor aluno - disse todo presunçoso.
Vi-a falar com a cadela e continuei a rir, assentindo - aposto que sim - sorri - eu não tenho culpa de não saber o nome da tua cadela, hoje dormi com ela e nem ma apresentaste - resmunguei tal como ela e levantei-me para me ir sentar no muro da piscina, molhando as pernas enquanto dava festas à cadela molhada - olá Rosie - fechei os olhos quando me veio lamber a cara e ouvi a pergunta de Mia abanando a cabeça e voltando para a minha espreguiçadeira, que era onde estava bem- não, estou só um bocado cansado da noite de ontem - admiti abraçando-a quando veio para cima de mim, deixando-me todo encharcado mas fresquinho.

Olhei-a quando disse que não se lembrava de nada da discoteca e juntei as sobrancelhas - Não te lembras de nada? - perguntei não acreditando à primeira, então quando ela me respondeu com o seu tom mais fino de quando mentia é que não acreditei mesmo, mas acabei por não puxar o assunto, não valia a pena, já se tinha percebido que era por causa de estar bêbada - Sim, é por isso que estou cá - disse assentindo com a cabeça e beijei-lhe a testa puxando-a de novo para o meu colo.- esquece isso.

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-Aulas de tiros, com pistolas, miras e cenas desse género - olhei-a percebendo que não era suposto responder e levantei as sobrancelhas, ao ouvi-la dizer, ou melhor, repetir que não me queria lá. Suspirei encostando a cabeça ao seu ombro e abanei a cabeça. - Não Mia - murmurei - nem eu nem ela íamos aceitar ir viver para uma das tuas casas apenas por favor - beijei-lhe a bochecha -eu adoro-te, mas não é pelo teu dinheiro, até prefiro nem ouvir falar nele. Preferia pensar que ela era uma pessoa como eu. - Só de me aturares já retribuis o favor - encolhi os ombros e fechei os olhos ao ouvi-la dizer aquelas coisas. Era verdade, muitas vezes, ao fim do mês, a minha mãe cortava na comida para ela, para me dar a mim, que precisava de força para trabalhar - eu... não Mia, não quero, não vou aceitar mais nada a não ser uns dias em tua casa - suspirei. Detestava negar-lhe um pedido quando ela implorava, mas não conseguia, por mais que precisasse, não conseguia aceitar dinheiro dela. - vais ter-nos sempre lá Mia - murmurei com um suspiro - vamos estar sempre contigo para te apoiar, mas tu a sustentar-nos aos dois? Não.
Abracei-me de novo sorrindo quando Rosie colocou uma pata por cima da minha perna e encostei a cabeça à de Mia - Desculpa, não consigo aceitar.

-Esquece que não te lembras - disse sabendo perfeitamente que aquilo não fazia sentido. - Não vale a pena pensar na noite de ontem, tens é que prometer que nunca mais bebes tanto, ficaste um bocado descontrolada - disse contando como se ela não se lembrasse mesmo. Estava na dúvida se devia acreditar ou não.
*
Suspirei, tentando manter-me calmo enquanto ela tentava convencer-me. Eu achava impossível que ela realmente conseguisse, não por duvidar das suas capacidades, mas sim porque me conhecer e saber que era demasiado teimoso para ser convencido, havia exceções, claro que era muito mais sensível a algo quando tocavam no meu ponto fraco, que era a minha mãe. -Tu queres ajudar a minha mãe? - perguntei - fá-lo, eu deixo que ela venha viver para aqui contigo, só tens que falar com ela, mas eu... quero ser independente e não viver às tuas custas Mia. - suspirei desviando o olhar dela para a cadela, dando-lhe festas até ir embora e quando ia voltar a olhar para Mia já ela estava à minha frente. Suspirei fechando os olhos e abanei a cabeça - Eu estou a ser egoísta? - perguntei algo indignado por ela ter dito aquilo. - Eu trabalho mais de doze horas por dia para arranjar dinheiro suficiente para nós os dois e para a casa, sou egoísta? Eu não me vou sentir bem se tu me sustentares, mesmo que assim viva melhor. - disse encerrando o assunto para mim. Se ela quisesse falar com a minha mãe sobre isso, que o fizesse, mas eu ia continuar lá, pelo menos enquanto não arranjasse emprego melhor. Suspirei passando as duas mãos pela cara quando a vi chorar e estiquei um dedo para limpar as suas bochechas- nós não vamos morrer. Ela está bem, só tem algumas dores - encolhi os ombros. Abracei-a quando veio para cima de mim, pedindo que pensasse e assenti, suspirando - vamos acabar com esta conversa - pedi.

Fechei os olhos, com os braços à volta da sua cintura e encostei a cabeça ao seu ombro, aproveitando aqueles seus mimos que me sabiam tão bem. Se ela ainda tinha esperanças só pedia que a perdesse, a única coisa que queria era ficar bom para recomeçar a trabalhar, podia, eventualmente, pedir-lhe ajuda para arranjar um trabalho melhor, mas mais nada não. - Eu quero ser independente, não quero que me andas a sustentar, nem a mim, nem à minha mãe - voltei a repetir com um suspiro, para não me exaltar. - Eu aceito ajuda quando precisar, agora não preciso - encolhi os ombros, voltando a acalmar-me junto do seu ombro e fechei mesmo os olhos. Só a voltei a olhar depois de me ter chamado de egoísta, coisa que não tinha achado grande piada, mas estava pronto a esquecer se ela acabasse com aquela conversa agora. Suspirei agarrando-lhe no dedo que pousou sobre os meus lábios e baixei o olhar. - É a minha irmã - disse apenas, engolindo sem seco, voltar a tocar naquele assunto deixava-me logo mal disposto - Não vou embora daquela villa sem voltar a encontrar a minha irmã, desculpa Mia, não posso - abanei a cabeça com os dois braços cruzados ao peito e fiquei a olhar para a piscina que agora estava vazia. Quando ela me abraçou de novo, deixei-me voltar a estar encostado a ela, mas não lhe respondi. Quanto mais dissesse que não, mais ela ia insistir, éramos ambos muito teimosos e tinha que haver sempre um que tinha que ter mais calma que o outro, ou acabávamos chateados, felizmente, até agora, sempre tínhamos conseguido fazê-lo.
Estendi o braço ao perceber que ia voltar a pôr creme e, depois de acabar, estava tão mole por causa do calor, que não me atrevi a levantar e segui-la, limitei-me a ficar apanhar sol. Podia ser que ficasse mais moreno e tudo. Estava quase a adormecer quando Mia voltou com um gelado, pedindo que me provasse. - desde quando é que tens patrocínios no teu blog? - perguntei enquanto provava e retirei logo uma colher, para poder comer mais. Coisa que eu era de certeza, era guloso.
Olhei para as nossas mãos, rindo com o que disse - aposto que é nestas alturas em que tens saudades dos dias em que eras maior que eu - eu não tinha crescido nada até aos meus treze anos, a partir daí é que fui crescendo até ficar um gigante de mais de um metro e oitenta.

Fiquei mais calmo depois dela se ter calado sobre o assunto de me ajudar. Mais tarde ia ser eu a falar disso, só precisava de pensar um pouco, se ela me queria ajudar, eu ia deixar, mas não como ela queria. Ajeitei o meu cabelo, puxando-o desajeitadamente para trás e ri-me por Mia nem me ter dado oportunidade de dizer que sim ou que não, em relação a ver o seu blog - sim, porque eu adoro blogs femininos - ironizei deixando que me mostrasse e fiquei ligeiramente surpreendido ao ver o número de seguidores que tinha, pelo visto ela também se dava bem por essas áreas - tu és famosa por todo o tipo de coisas ou é só impressão minha? - perguntei de forma retória e não tive oportunidade de ouvir resposta sua, apesar de não ser necessária, visto que o som da campainha soou pela casa. Assenti, deixando-a ir ver quem era e não demorou muito tempo até ela voltar com dois homens pouco mais velhos que eu, atrás dela. Juntei as sobrancelhas, sem perceber o que é que ela andava a tramar, até a ouvir chamar um dos homens de Dr George. - Porque é que trouxeste um médico até casa? - perguntei fazendo uma careta quando me pegaram no braço, para o ver e, ela começou a explicar o que tinha acontecido. Não precisava de dois médicos para me verem -resmunguei. Ainda por cima dois médicos, se fosse uma enfermeira sexy como a do dia anterior, ainda podia ser que ficasse mais contente.
Olhei, instintivamente, para Mia quando ouvi algo a cair e percebi que tinha sido o seu telemóvel, que tinha ficado em mau estado. - O que é que se passa? - perguntei fazendo uma careta quando um deles tocou na minha perna e me fez sentir dor - au - queixei-me afastando-o com um pontapé involuntário e, acabei por fazê-lo cair na piscina.

Não percebi muito bem o porquê de Mia ter que acompanhar o médico até dentro de sua casa para me limpar, ainda para mais, dava para ver a forma como ele olhava para ela, queria comê-la de todas as formas possíveis e imaginários. Pelo que fiz ao moreno, o loiro ficou com medo de me voltar a tocar, dizendo que ia esperar por George até voltar a cuidar-me. Apenas encolhi os ombros, deixando-me torrar ao sol. Nem sempre tinha oportunidades daqueles, sempre que estava bom tempo e podia ir à praia tinha que trabalhar. Metade da minha vida já tinha sido desperdiçada assim, e eu não era assim tão velho. Era por isso que parte de mim queria aceitar a ajuda de Mia, mas a outra metade... a outra metade era demasiado teimosa para isso. Levantei a cabeça quando o outro chegou, com uma das bochechas vermelhas. Desviei o olhar para Mia, não lhe perguntando diretamente o que é que se tinha passado, era melhor só o fazer quando eles fossem embora. Para que isso acontecesse, calei-me e deixei que tratassem de mim, e só quando foram embora é que puxei a loirinha para mim e lhe dei um beijo na bochecha - o que é que se passa? - perguntei - primeiro deixas o telemóvel partir-se e agora o outro vinha com a marca da tua mão na cara - mordi o interior da bochecha de forma nervosa - ele fez-te alguma coisa? - perguntei - ele tocou-te? - continuei com as perguntas. Se ele lhe tivesse feito mal, eu não queria saber das minhas feridas, simplesmente ia atrás dele e ele ia desejar não ter entrado naquela casa. Não seria o primeiro nem o último a acabar no hospital por causa de mim e da minha raiva.

Levantei as sobrancelhas enquanto a ouvia falar. Já tinha estado com ela a falar de pessoas, tanto raparigas como rapazes, mas era sempre estranho ouvi-la falar assim. Acabei por me rir abraçando-a com força e dando-lhe um beijo na bochecha. - Tens que ter cuidado com os gajos que andam por aí, eles veem uma cara bonita como a tua querem logo saltar-te para cima - toquei-lhe no queixo com um sorriso - e eu só digo isto porque sei como sou - mostrei-lhe um sorriso mais maroto.
Não tive tempo de lhe responder quanto a se tinha fome ou não, visto que ela saiu a correr dali para a cozinha. Encolhi os ombros, para mim próprio e suspirei colocando-me de barriga para baixo visto que já estava a ficar demasiado vermelho. Eu não era nenhuma menina que precisava de ficar bronzeada dos dois lados, mas tenho que admitir que um bom bronzeado não me ficava nada mal. Levantei a cabeça quando a vi voltar com comida na mão e fui lentamente, até à mesa de jardim inspirando o cheirinho bom que o almoço tinha. Agarrei na garrafa que tinha colocando um pouco em cada copo e assenti quando disse que já vinha. A verdade era que sim, estava a morrer de fome e quando estava em casa de Mia parecia que ainda mais fome tinha. Sentei-me esperando que ela voltasse de onde quer que tinha ido. Não ia começar sem ela.
Olhei para trás com um sorriso quando ela me abraçou e abanei a cabeça - ainda não provei, estava à tua espera - reparei na roupa que trazia, que era apenas um triquiní e vi-me obrigado a desviar o olhar e pegar nos talheres - sim, porque tu vais almoçar ou eu não me chamo Robb Lannister.

Revirei os olhos quando a vi resmungar por causa de estar um bocado mais vermelho que o normal e assim que ela voltou com um creme e me abriu as pernas para enfiar lá no meio não consegui conter o meu riso. Eu podia trata-la como uma irmã mas continuava a ser um homem. - Mia, anda lá levanta-te - olhei para as suas mãos nos meus abdominais - não estou assim tão vermelho, isso daqui a uma hora já nem se nota - abanei a cabeça e fiz uma careta por me sentir todo pegajoso. Tentei espalhar melhor o creme, se é que era possível e suspirei -Não te preocupes comigo, não morro com um escaldão - beijei-lhe a testa depois de me fazer olha-la e esperei que se voltasse a sentar para a podermos começar a almoçar. Assim que ambos estávamos prontos, levei a comida à boca, saboreando-a. Eu não era muito bom a fazer isso, normalmente, a fome era tanto que só comia, sem que houvesse tempo para apreciar. No entanto, tenho que admitir que aquilo sabia mesmo bem, fosse ou não, feito por ela. - Está, acho que é por não teres sido tu, totalmente, a cozinhar - brinquei enchendo o meu copo com vinho. Vinho não era uma coisa que gostasse muito, ou que estivesse habituado a beber, pelo que se bebesse um bocado a mais já começava a ver vinte dedos em vez de dez, ainda por cima vinho branco, que era pior para a bebedeira e,também, mais saboroso que o tinto. Levantei o olhar para Mia quando começou a parar de comer - que tipo de estômago é que tu tens para nunca ter fome ou apetite? - perguntei num ligeiro resmungo. Aquilo estava-me a saber tão bem que cheguei a repetir algumas vezes, até esvaziar por completo e já não haver sobras.
Quando acabei levantei-me dando festas a Rosie quando veio ter comigo, toda molhada por ter estado na piscina, mais uma vez, e senti Mia puxar-me para dentro de casa, mais precisamente para a sala. Mandei-me para o sofá, puxando Mia para o meu colo e arregalei os olhos ao sentir a minha cara ser algo dos seus beijos - Calma, ainda não ganhamos.

Ela andava estranha, não conseguia ignorar isso, mas para já, decidi não lhe dizer nada. Em pouco tempo já tínhamos discutido duas vezes, não a sério, mas agora só queria relaxar e relaxa-la a ela, se calhar era esse o problema, ela não andava a relaxar o suficiente. Já na sala, quase que temi que ela me beijasse de novo, mas como ela agora estava sóbria, sabia que não iria voltar a repetir a proeza. Sentia-me estranho a imaginar-nos a beijar-nos, mas não era um estranho mau, também não era bom, era apenas estranho. Acho que se acontecesse mais alguma vez não era nada de mal, não era nenhum tipo de incesto, ou qualquer coisa do género, era só a necessidade de duas pessoas que... pronto esse tipo de tretas.
Ri-me com a sua felicidade de estarmos nas meias-finais - prefiro não festejar antes do tempo, já sei que sempre que o faço temos algum azar - encolhi os ombros. Observei a televisão enquanto ela mudava o canal e assim que vi o canal em que ela tinha parado foquei-me logo nos desenhos animados que davam. Eu posso ser um rapaz com porte físico de homem, totalmente irritante e que ferve em pouca água, mas o meu programa favorito de televisão vai ser sempre desenhos animados. Fiquei deitado no sofá, agarrado a uma almofada, com Mia em cima de mim e sorri- Ainda me conheces muito bem - comentei, por ter parado de mudar o canal.
Levantei a cabeça quando ela começou a resmungar com Rosie e foi impossível não soltar uma gargalhada, ela parecia tão feliz com o sapato na boca, que nem o queria largar, mesmo quando a dona lhe ralhou. - É isso mesmo Rosie, assim a desculpa dela para comprar sapatos é que tu os destróis - sentei-me no sofá e estiquei-me até ela, para lhe dar mimos, mas não consegui fazê-lo porque Mia a agarrou e a colocou numa espécie de cesto, que devia ser a cama da cadela. Juntei as sobrancelhas quando a ouvi "chorar" e suspirei - és tão má, coitada da cadela - resmunguei triste com o seu ar, abraçando-lhe a cintura quando Mia veio sentar-me no seu colo.