Sala de Dança

Não estava a sair nada bem. Estávamos completamente desengonçados, sem qualquer tipo de coordenação ou química. Estávamos frios um para o outro. E era tão estranho..

- Concentra-te - Eu sabia que também estava a errar mas decidi pôr tudo de lado e concentrar-me, dançar bem. Segurei-a de uma forma mais pessoal e intima. O meu corpo colado ao seu.

Inspirei fundo. O meu corpo tremeu nas suas mãos. A minha temperatura subiu, mas tentei esquecer tudo o que estava ao nosso redor e concentrar-me na dança. Tudo começou a melhorar.

Aos poucos a dança que faziamos voltou a ser o que devia ter sido logo desde o inicio. No fim, quando acabámos, recebemos aplausos.

Eu nem sequer reparara que nos observavam. A minha face aqueceu e por momentos dei-me conta que ainda estávamos agarrados um ao outro. Afastei-me e fui beber água.

- A aula terminou. Amanhã estão dispensados. Bom fim de semana - disse e virei costas.

Se não tivesse sido a fisioterapia, não me sentia demasiado cansada. Fui buscar as minhas coisas. Precisava de me despachar, precisava de treinar a coreografia e para a audição.

Quando me virei, vi que Aixa ainda ali estava.
- Como vão as coisas para a audição? - perguntei, só por perguntar.

Não estava mesmo nada à espera que ele se pronunciasse. Encolhi os ombros. - Vai bem. - mas ainda havia tempo, para dizer algo melhor.

- Bem? Espero que chegues lá e arrases. Caso contrário não passas - Encolhi os ombros. Arrumei as minhas coisas e aproximei-me da saída.

- Bem. - voltei a repetir. - Eu sei perfeitamente isso. - revirei os olhos. Não era a primeira vez que eu ia a uma audição.

Uns quantos passarinhos tinham-me dito que Aixa já fizera bastantes audições para esta bolsa e nunca passara. Não acreditava que fosse diferente desta vez, caso ela não se empenhasse ainda mais. - Pode ser que seja desta - deixei passar o comentário irónico.

Todo o meu ser ficou extremamente tenso ao ouvir o seu comentário. Então ele sabia.. O seu tom magoou-me. Eu já fora a tantas audições e as desculpas eram sempre as mesmas. ''A tua perna afecta todos os teus movimentos, desiste''. Pois eu ainda ali estava, no que dependesse de mim, aquele ano seria meu. Saí dali para fora.

encerrado.

Eu não queria ter sido mauzinho. Não tinha sido mesmo a minha intenção e eu estava prestes a pronunciar-me de novo quando ela saiu - porra - tinha que esclarecer tudo. No dia seguinte iria a casa dela.

encerrado.

No dia seguinte já lá estava eu mais dois colegas para fazer a avaliação do semestre. Cinquenta por cento da noite recaía sobre mim e esperava o melhor dos meus alunos.

Seria uma avaliação individual. Quando chamaram o meu nome, entrei. Quando a música começou, dancei tal e qual como tinha ensaiado. Tinha dado tudo por tudo, tinha-me entregado àquela coreografia. Depois saí. Outros alunos foram sendo chamados.
Eu ia esperar até que as avaliações fossem colocadas na entrada do conservatório.

Eu odiava avaliações, não tinha paciência para elas. Era claro que Aixa se tinha destacado e no geral não houve era ninguém mau. Os meus alunos tinham um bom nível mas eu não ia dar notas altas, achava que eles ainda não estavam à altura disso. Afiei a folha das pautas. As notas iam de 13 a 15, sendo o único 15 o de Aixa.

encerrado.

A vida continuava. Eu estava mais rabugento do que sei lá o quê e durante a aula de dança isso percebia-se bem. Exigi o máximo de todos os alunos, saíram estafados no fim. Eu ainda fiquei, tinha alguma raiva para descarregar.
" Não nos vamos encontrar...prefiro-te como professor". Porquê que Aia não me saía da cabeça? Maldita.

Os dias prosseguiram. Eu vivia para o trabalho pois em casa a situação com Joan era complicada. Não sabia bem como lidar com ela. Em breve teria, pois não podia ignorar que tinhamos um filho a caminho.
Daí passar a fazer aulas extras. Precisava de poupar.

Por minha vontade Angel não colocava nunca mais os pés naquela academia. Mas a pequena estava tão feliz com as aulas que não tive coragem de estragar o seu momento. E uma coisa era certa, enquanto ali estivesse, não ia deixar que o passado interferisse com a minha maneira de viver. Nem que isso significasse olhar para a cara de Trevor todas as quartas-feiras. Logo, logo, estaríamos de volta à LA, tudo voltaria à normalidade.
Depois de buscar Josh a casa, seguimos os três até à academia. Pelo caminho ainda fizemos umas brincadeiras.

A aula estava prestes a começar e já pensava qye não voriam mais alunos, quando eis qye Josh e Angel entram na sala e correm por um lugar com boa visão. Por um momento parei a ver se via Aixa.

Quando as crianças entraram na sala, eu segui logo para a saída. Foi quando o antigo diretor da academia me reconheceu e meteu conversa comigo. Já não o via desde que sairá de Fenny. Ele sempre foi um pai para mim é uma grande ajuda. Ao seu lado, estava um homem aparentemente da mesma idade que Mathew. O novo diretor, o seu filho mais velho. No meio de tanta conversa, acabei por ser convencida a acompanhá-los pelos corredor e conhecer as novas instalações. A academia ainda dava aulas a aulas do secundário, mas agora, abrirá vagas para crianças mais novas.

Eu esperava que aquela conversa fosse algo rápido, mas acabou por lavar-me a manhã inteira. Conheci as novas instalações da academia e ainda passei por zonas antigas que estavam agora renovadas. Estava tudo tão melhor que antes.
Às tantas, fui deixada a sós pelo novo diretor. Seguimos até ao seu escritório. No início pensei que íamos falar apenas das aulas que Angel e Josh estavam a ter, mas depressa percebi que não era nada disso. A sua aproximação e tentativa de me tocar, fez-me ver as suas verdadeiras intenções.