Sala de Dança

Durante a aula um dos miúdos decidiu armar-se em esperto e tentar fazer break dance,  que terminou com ele de cara no chão e menos um dente. Antes que os outros miúdos entrassem em pânico ao ver o sangue que lhe saía da boca, apressei-me a retirá-lo da sala e levá-lo até ao posto da enfermaria que havia na academia. Ficava mesmo perto da zona de escritório, entre as quais ficava o gabinete do diretor. A porta estava semi aberta. Vi um vulto de cabelos loiros. Só podia ser uma pessoa. Aixa.

Quando regressei à sala onde estava a dar aula tinha os miúdos todos a olhar para mim com um ar expectante. Simplesmente voltei a meter música e a continuar a aula. Não ia nem pensar em Aixa nem dispensar Angel. Levaria a aula até ao fim com todos os alunos.

Conduzir o resto da aula tornou-se complicado pois a presença de Aixa distraía-me. Ainda não assimilara completamente que ela estava ali depois de seis anos sem dizer nada. ainda não assimilara o que sentia em relação a isso também. A aula acabou e eventualmente os miúdos dispersaram, tinham os pais à espera. Eu fiquei para o último.

A sala já estava vazia, ou assim achava eu. Quando me virei para sair dei de caras com a loira. - O que é que ainda estás aqui a fazer? - Perguntei, imediatamente trancando a minha expressão.

Ainda por cima ela ficara ali para reclamar comigo? Era o que mais me faltava. - Olha, Aixa, não sei quem te achas mas eu não devo nada às tuas ordens. Que não se repitam. Posso ser o mero professor da tua filha, mas a aula é minha e não a ia interromper e estragar a diversão da Angel porque tu - histericamente, deixa que te diga - mandaste que o fizesse. - Continuei - Além de que, parecias perturbada e não parecia o melhor momento para a tua filha te ver assim.

Quem era ela para estar ali a criticar-me? Que desplante!- Teria demorado menos de um minuto se não fosse pelo teu dramazito na sala do diretor - Não deveria ter dito aquilo de forma tão leve mas agora que se lixasse, já estava - Mas interferi. E voltava a fazê-lo se achasse que era o melhor. 

- Pois, olha, nem devia ter feito nada se te soubesse tão ingrata - Disse de volta. O que ela me disse feriu-me por dentro, mas não lhe ia dar a vitória de o saber. Esbocei um sorriso cínico - A sério, não tens dica melhor? E um dias vais engolir essas palavras, o meu filho vai ter o melhor pai possível. - Era uma questão de orgulho. - E agora, se já acabaste com este teatro triste, podes sair. Tenho uma casa para a qual voltar. 

Era preciso ter vergonha na cara para agir daquela maneira. Porquê que eu ainda me surpreendia? Uma pessoa que fizera o que ela me fizera a mim...de alguém assim não podia esperar nada mais. 

Chateado, saí da academia depois de ir ver do meu aluno que se magoara. Já estava bem. Dalí fui para casa, embora isso nunca fosse um bom sinal pois conviver com Joan tornava-se complicado de dia para dia...