Restaurante

Abanei a cabeça enquanto sorria - És um tangas. - mas sabia que era verdade porque eu sabia tanta coisa sobre ele como ele sabia sobre mim. Agarrei no meu copo assim que o empregado o encheu e olhei para o Kelly com um sorriso - E vamos brindar a quê?

- Mas aí é que te enganas. Eu estava certo, não sou tangas nenhum - respondi divertido. Encolhi os ombros e limitei-me a olhar para o copo - Brindamos àqueles dois miúdos que salvámos hoje.

- Vou fingir que acredito em ti. - disse com um meio sorriso nos lábios. Assenti com a cabeça assim que o Kelly disse pelo que íamos fazer o brinde e levei o meu copo até ao dele - Pelos miúdos que salvámos hoje. - repeti ainda a sorrir.

Deixei-o pedir o que queria e sorri quando o empregado de mesa trouxe todas as coisas, tinha bom aspeto, e eram coisas que eu gostava. Abri um pouco os olhos quando ele me fez aquela pergunta. - Eu deixo a escolha para ti. - murmurei meia envergonhada sem saber muito bem o que lhe dizer.

Mordi, mais uma vez, o lábio. Jesus, que complicação. A proxima vez levo-a antes a um parque, aí não há opções para nada. - Preferes peixe ou carne? - questionei olhando para ela - Os bifes com molho de pimenta são sempre bons aqui - exemplifiquei. - Ou saladas, ou sopas... - continuei a enumerar. Quanto mais pensava, mais difícil se tornava.

Olhei para ele simpaticamente e percebi que estava a fazer-se uma grande confusão na sua cabeça quanto àquilo. - Então pode ser esse bife. - acabei por dizer para acabar com aquilo. Só esperava que não fosse um prato demasiado grande.

Os nossos corpos tilintaram quanto chocaram. Depois bebi. Eu era mais apreciador e cerveja, mas aquele vinho era bom. - Nós somos realmente fantásticos, sabes? Fazemos uma boa equipa no terreno.

Bebi um gole do meu vinho antes de voltar a pousar o copo na mesa. Sorri com o que o Kelly disse e encolhi os ombros - Nós somos fantásticos fora do terreno também. - brinquei com um tom ligeiramente convencido - E tu é que fazes o trabalho todo, tu é que te metes em perigo. - relembrei.

Correspondi ao sorriso dela com um sorriso, também - Lá isso é verdade, Shay. Somos pessoas muito fantástica - Tinha noção disso e não era como se estivéssemos a gabar-nos. - Mas se não estivesses lá tu, o meu trabalho poderia não resultar em nada. A perita em medicina és tu. É por isso que resultamos bem juntos.

- Por isso é que nos damos tão bem. - completei com um sorriso nos lábios. Encolhi os ombros com o que ele disse mas acabei por assentir com a cabeça - É verdade. E assim fazes-me ficar preocupada sempre que entras num prédio em chamas. Mas eu estou lá casa te aconteça alguma coisa. - disse com um pequeno sorriso.

- A awesomeness atrai-nos. - Soltei uma gargalhada ao dizer aquilo. Eu sabia que podia contar sempre com ela - A ambulância também é perigosa - Comentei. Eu ficava muitas vezes preocupado. - És o meu anjo. - E depois apercebi-me - Que lamechas.

Ri-me com o que ele disse e abanei a cabeça - Pode ser perigosa mas tu metes-te muito mais em perigo que eu. - e era verdade, na ambulância nunca tínhamos grandes problemas, no caso deles era o contrário. Voltei a rir - Pois sou e eu sei que és um lamechas, Kelly.

Os nossos trabalhos tinham diferentes níveis de perigo. De qualquer as formas nós superávamos sempre isso e saíamos sempre incólumes. - Eu não sou um lamechas, tu é que me fizeste ser lamechas por um segundo.

Abri a boca e ri-me - A culpa é sempre minha, já viste? - fiquei quieta assim que o empregado apareceu com a nossa comida antes que houvesse algum acidente - Não tenho culpa se tu adoras ser lamechas comigo. - acrescentei sorrindo.

Sorri, contente. Estava tão aliviado, apesar de estarmos a discutir só por um prato de jantar. Pedi ao empregado a comida e esperei, olhando para ela. Estava um silêncio embaraçoso, mas não sabia mesmo o que dizer. Esperava que fosse ela a quebrá-lo. Tinha sido sempre eu até agora.

- Se calhar porque a culpa é sempre tu, já reparaste? - Fiz uma expressão divertida. - Não adoro nada ser lamechas, porque é lamechas - Olhei para os nossos pratos idênticos. O cheio era delicioso e eu dei-me conta que estava esfomeado.

- Não é nada. - deitei-lhe a língua de fora antes de colocar o guardanapo em cima das minhas pernas e agarrar nos talheres para começar a comer - Tu tens de ser lamechas com alguém e adoras que seja comigo, admite. - pisquei-lhe o olho com um sorriso e levei uma garfada de carne à boca.

Abanei a cabeça, inclinado a dizer-lhe que estava errada. Peguei na faca e no garfo e enterrei-os na carne suculenta. Então olhei para Shay - Não preciso de ser lamechas com ninguém. Achas que um homem como eu é lamechas?

Acabei de mastigar a carne que estava deliciosa e bei mais um gole de vinho antes de lhe responder - Eu não acho, Kelly, tenho a certeza absoluta. - respondi rindo-me - Eu vivo contigo, sabes? - ele era sempre muito machão mas quando era para se preocupar comigo, ele era a pessoa mais adorável do mundo.

Finalmente dei a minha primeira trinca de carne e comprovei que aquilo estava mesmo bom. - Tu e as tuas certezas absolutas - Quase revirei os olhos. - Por isso mesmo deves saber que não sou lamechas.

- Pronto, senhor teimoso, não és lamechas. - disse num tom irónico. Continuei a comer o bife que eu tanto adorava naquele restaurante e olhei novamente para o Kelly - Achas que vamos ficar eternos solteirões a viver no nosso loft? - perguntei com um sorriso - Eu acho que tu até velho vais ser um galã.

Continuei calada sem saber o que dizer. Fui comendo umas pequenas entradas que havia, só para não parecer mal, porque nem era coisa que gostasse muito.

Ficava mais agradado agora que tiráramos aquilo a limpo. Não era lamechas nenhum. - Até era uma boa forma de envelhecer, mas não creio muito que vá acontecer - Passei a explicar - Claro que sim. Depois do fiasco com a Renee, não volto sequer a ficar noivo. Já tu... quando é que te levo ao altar? - Ri-me.

Ri-me com o que ele disse - Acho que assim até demoravas mais tempo a envelhecer. Olha o teu pai, está em ótima forma. - fiz uma careta quando percebi que tinha feito com que a conversa levasse à Renee - Isso não quer dizer que não encontres alguém que te trate bem e que não te traía antes do dia do casamento. - disse e encolhi os ombros - Apesar de adorar que me levasses ao altar, acho que isso também está longe de acontecer.

O meu pai, apesar de casado, ainda era um galã, o que eu não aprovava de todo. EU nunca seria como ele. - Pergunto-me como é que ele nunca te seduziu - Soltei uma gargalhada. Obrigada por recordares, Shay. A memória ainda era angustiante. - Nah, a experiência serviu para não me voltar a meter em relações sérias. Já tu não tenho dúvidas que um dia vais encontrar alguém.