Hospital

Engoli em seco quando o vi chorar e suspirei, pousando a minha mochila no sofá.
- Preciso de uma manta. - disse baixo e abri um armário, encontrando lá uma. - Estás com dores?

Mordi o lábio inferior começando a deitar-me de novo, por me magoar estar sentado e percebi que ela estava a voltar. Fiquei a olha-la durante algum tempo antes de lhe responder, para ver se a voz saía - eu estou bem - respondi-lhe num tom mais baixo.

Sentei-me no sofá, abrindo a manta.
- Então porque estás praticamente a chorar? - olhei-o.

Desviei o olhar dela para outro sítio que não ela e encolhi os ombros, por hábito, fazendo uma careta por tê-lo feito - por nada - respondi tapando-me melhor e tentei desviar também a conversa - amanhã quando voltares para casa, não digas nada à minha mãe, está bem? - perguntei.

- Só sabes mentir quando te interessa. - disse simplesmente.
Arqueei o sobrolho.
- E queres que ela fique a pensar o quê?

Olhei-a por alguns segundos, desviando logo o olhar para o tecto e suspirei baixinho. Não queria dizer mais nada antes que ela fosse embora de vez. - não sei - murmurei - não é a primeira vez e não devo ficar aqui por muito tempo, por isso, não faz mal.

Suspirei.
- Pois, como queiras então. - disse e deitei-me no sofá.

Suspirei percebendo que ela não me compreendia e passei a mão boa pelo minha bochecha que não doía -Não quero que ela se preocupe e venha para aqui com o Dean, não é ambiente para ele - justifiquei-me.

- Amanhã já sais daqui. Mas tudo bem, a vida é tua. - encolhi os ombros e cobri-me.

-Talvez, não me disseram nada - respondi e não disse mais nada. Ela estava chateada, o que era compreensível, eu só nunca pensei que ela fosse capz de ser tão dura. Mordi o interior da bochecha e tentei ficar confortável na cama de hospital.

- Não estás a morrer. Nem tens nada que te obrigue a ficar aqui. - encolhi os ombros e aninhei-me de costas para ele. - Boa noite. - disse baixo e fechei os olhos, começando a acalmar a respiração, fingindo-me adormecida.

Antes estivesse, comentei para mim próprio. Olhei-a percebendo que estava de costas para mim e suspirei baixinho deixando que ficasse à vontade, já estava praticamente a obriga-la a ficar ali, por isso era melhor ficar calado. Fechei os olhos tentando dormir, mas passei a noite em branco, como já acontecia há algum tempo.

Durante a noite, a vontade de chorar não deixava de existir. Estar a dormir no mesmo espaço que ele e nem lhe tocar era doloroso, tão doloroso como dormir sozinha sabendo que não voltaria a ter a companhia dele.
Espreitei o relógio na parede, iluminado pela luz da lua, e suspirei.

Olhei-a quando a vi movimentar-se e mordi o lábio inferior ao perceber que estava acordada, tal como ele - estás desconfortável? - perguntei num tom baixo para não falar demasiado alto naquele silêncio todo. - podes vir para aqui, há espaço... - fechei os olhos por estar a dizer aquilo - eu não te toco - garanti no mesmo tom baixo - se quiseres. - disse ainda com menos volume.

Estremeci quando o ouvi falar baixo e acabei por me levantar, sem pensar, e deitar-me ao seu lado, aninhando-me contra o seu corpo, tentando não o magoar. O espaço não era assim tanto como ele fizera passar, pelo que era impossível não nos tocarmos de alguma forma.

Nem tive tempo de me afastar, visto que ela nem disse nada quando se veio deitar ao meu lado. Tive que esticar o braço bom para o colocar debaixo da sua cabeça quando se aninhou contra mim e fiquei a olha-la. Era impressionante, só dela estar ali eu ficava logo com um meio sorriso no rosto.

Senti-o mover-se para ajustar o braço e suspirei baixinho, inspirando o seu cheiro.
- Dorme. - disse num tom de voz moderado e calmo.

Abanei a cabeça - não tenho sono - respondi-lhe fechando os olhos para inspirar o seu cheiro que me dizia que ela estava mesmo ali e que eu não estava a alucinar das drogas que me tinham dado para as dores.

Voltei a suspirar e levantei o olhar.
- Tu precisas de dormir. - olhei para ele.

Abri os olhos ao perceber que me estava a olhar e suspirei baixinho ao ouvi-la dizer que precisava de dormir - eu vou tentar - garanti-lhe apesar de não ter a certeza de que conseguia - tenta tu também - murmurei conseguindo resistir ao beijo que lhe queria dar.

- Já tentei. - encolhi os ombros e mordi o interior da bochecha quando o meu olhar se desviou para os seus lábios. Suspirei e, quando dei por mim, estava a beijá-lo.

Eu podia ter resistido, mas não resisti quando ela me beijou. Não conseguia tocar-lhe por causa do meu braço com a tala, e com o bom debaixo da sua cabeça, mas beijei-a da mesma maneira. Nunca pensei era vir a ter saudades de beijar alguém como tinha saudades de a beijar.

O beijo, primeiramente calmo, tornou-se mais desesperado e eu estava bem ciente que se ele não se encontrasse naquelas condições, aquilo rapidamente teria avançado.
Ficamos assim, com os lábios unidos, o que pareceram minutos mas rapidamente me afastei.
- Isto não está certo. - disse baixo e levantei-me da cama, indo para o sofá. Voltei à posição em que estava e fiz o menos barulho possível para ele não me ouvir chorar.

Ia voltar a beija-la quando ela se afastou. Engoli em seco ouvindo-a dizer-me que não estava certo fazer aquilo e nem tive tempo de a fazer impedir. Apoiei-me no meu braço bom ficando meio inclinado na sua direção e juntei as sobrancelhas ao ouvi-la chorar. Mordi o lábio inferior, não dizendo mais nada e apenas fiquei a olhar para o tecto.

Suspirei quando me acalmei e abracei a almofada, cobrindo-me até à cabeça. Ia ser uma noite em branco.
- Estás com alguma dor? - perguntei minutos depois, baixo.