Sala de Estar

Depois de chegar a casa, fiquei a ver o desenho durante alguns minutos, ficando meio aparvalhado a olhar para aquilo. Era diferente dos outros e só confirmava que ela me tinha dado um beijo.
Decidi ir tomar um banho rápido e, estava a acabar de me vestir quando ouvi tocarem à campainha. Apertei as calças durante o caminho até à porta e vesti a t-shirt rapidamente, abrindo a mesma.
- Olá novamente. - cumprimentei ambos.

- Não precisas de ter vergonha. - disse para o pequeno e desviei-me para eles entrarem, apontando para a sala. Fechei a porta e fui com eles para a divisão que apontara.
- Está espetacular. E só confirma que fizeste o que eu disse. - gozei, sentando-me no sofá. Baixei-me para tirar o meu carro telecomandado debaixo do sofá. - Colin, podes brincar com o carro, se quiseres. - disse-lhe, pousando o comando na mesa para ele ver.

Observei o pequenito a ir brincar com o carrinho e virei-me depois para Alexa.
- Confirma, até porque eu não ando a sonhar acordado com beijos. - encolhi os ombros. - E se sonhasse, era com beijos em condições. - acrescentei despreocupadamente.

Arqueei o sobrolho.
- Não melhorou. Simplesmente não te cruzaste mais comigo de manhã para veres o meu mau humor. - encolhi os ombros. - E não, não tem nada a ver com o facto de não me teres dado um beijo "em condições". - revirei os olhos.

Abanei a cabeça com um suspiro.
- Sinto-me culpado, Alexa. Sinto-me culpado por querer beijar-te neste momento, mesmo tendo consciência que é errado. - olhei lá para fora.

- Não me sinto mal por ele. Sinto-me assim porque tenho medo que um dia te vás arrepender e ponhas as culpas em mim ou algo do género.
Voltei a virar-me para ela.
- Se te sentes assim comigo, porque raio ainda não acabaste as coisas com ele? Não te estou a dizer para acabares e ficares comigo, simplesmente o digo porque, pelo que dizes, a relação em que estás não é boa para ti.
Calei-me.
- E lá estou eu a falar demais. Outra vez. - resmunguei.

- E em troca disso, ganhas uma vida infeliz, que chegará o dia em que o teu irmão irá perceber tudo e sentir que tu fizeste o que fizeste só por ele. Que continuaste a viver comodamente, sem te sentires feliz, só por ele. Já pensaste como é que ele se vai sentir? - abanei a cabeça.
Espreitei para o corredor e vi que Colin corria atrás do carro. Mordi o interior da bochecha e peguei no outro carro, pondo-o à porta e começando a conduzi-lo às escondidas do pequenito.
- A vida é tua. - acabei por dizer, debruçando-me sobre o sofá para ver melhor o que é que eu estava a fazer.

Desviei a atenção do comando para olhar para ela por um segundo.
- Queres mesmo que me ponha na tua situação? - abanei a cabeça e recomecei a conduzir o carro. - Muito bem. Aqui vai: - fiz uma pausa enquanto desenhava uma curva para seguir o carrinho guiado por Colin. - Nunca estaria com ninguém tão ciumento. Nunca estaria com ninguém que não me fizesse sentir bem. Muito menos só porque não me sentiria capaz de cuidar da minha irmã, no caso. Porque um dia, quando ela crescesse e tivesse idade para perceber, veria os sacrifício que era estar com essa pessoa só para que ela se sentisse bem, e começaria a culpar-se. - encolhi os ombros mais uma vez, sem desviar a atenção do carrinho. - E no caso de eu estar mesmo - frizei o mesmo - na tua situação, não andava a ter aventuras para, pelo menos, não reconhecer um sentimento melhor do que aquele que estivesse a sentir com a outra pessoa.
Parei de falar e conduzi o carrinho até à sala, tirando do alcance de Colin que começou a andar às voltas com o carro.

Revirei os olhos.
- Sim, porque eu vou mesmo desistir da presidência, do ginásio, de morar aqui, só para nunca mais me veres. - ironizei.
Olhei para ela.
- Como te disse, não estou a falar para te dizeres que vais ficar comigo e eu contigo. Estou a falar porque, quando está ao nosso alcance não ser infeliz, devemos lutar por isso. - encolhi os ombros despreocupadamente.

Bufei face à sua pergunta e abanei a cabeça. Ela nunca iria compreender. Compreender-me.
Fiz com que se voltasse a sentar quando se levantou.
- Não penses que sais daqui assim. A pensar que a última palavra é tua.
Olhei-a por momentos.
- Tu dizes que sou insensível. Provavelmente, até o sou. Mas não sou um poço de defeitos. E tu pareces pensar isso. - encolhi os ombros. - Sinceramente? O que tu dás a entender é que me beijas e me provocas só para te sentires viva, enquanto tens outra pessoa.

- Eu disse que é o que parece. Não disse que o estavas a fazer. - revirei os olhos. - E ainda me perguntam porque não arranjo namorada. É isto todos os dias? Coisas que tentaram ler entrelinhas? - resmunguei.

Ela saiu de minha casa, batendo com a porta e eu bufei de frustração. Eu não era namorado dela para aturar estas coisas, nem era nenhum gajo que suportasse ser a fuga de alguém de alguma coisa. Isso deixava-me irritado.