Sala de estar

-... mas o problema é que eu estava lá e devia ter-lhe dado cabe daquela cara nojenta, mas não fiz nada, fiquei só a olhar para aquela vaca - disse com uma certa raiva. Estava deitada no sofá a explicar a Bea o que tinha acontecido na noite anterior quando me tinha aventurado a sair sozinha em Blueriver. Agia como se a casa fosse minha, mas já vinha cá tantas vezes que sentia mesmo isso. Suspirei, totalmente aborrecida comigo própria e olhei para a minha amiga, que estava sentada no fim do sofá, com os meus pés no seu colo - achas que devia ter-lhe quebrado o nariz? - perguntei com um ar mais inocente.

Pousei as minhas mãos sobre as pernas de Arya, enquanto a ouvia contar-me como tinha sido a sua noite e não consegui não me rir com toda a sua revolta. Ela estava a falar sobre Lydia, uma rapariga que andava na mesma escola de Arya e da qual ela não gostava mesmo nada. Eu ainda não sabia o que é que ela lhe tinha feito, mas que tinha sido alguma coisa tinha. Encostei a cabeça ao sofá, ainda a rir-me das coisas que ela dizia e assenti à pergunta que me fez.
- Eu acho que devias.- disse, fazendo uma cara muito séria.- sinceramente, devo dizer-te que perdeste uma óptima oportunidade de mostrares quem manda.- gozei. Eu bem que queria ter ido sair com ela, mas para variar, tinha tido um jantar de família, nada agradável, como sempre.

Encolhi os ombros com o mesmo sorriso - acho que vou ter tempo de lhe mostrar quem manda mais vezes, por isso não é pé preciso desanimar - disse sentando-me no sofá enquanto olhava Beatrice atentamente e me lembrava do porquê de não ter vindo sair comigo. Ainda estava meio ressacada pelo que não me mexi muito antes que ficasse com o estômago todo virado - e tu? Como foi o rico jantar de família que tiveste? - perguntei com um sorriso. Eu sabia o que ela passava nesses jantar, podia não ter jantares de família, mas tive muitos jantares de negócios com o meu pai e eram todos, mas todos uma seca. Excepto quando o patrão levava o filho de olhos azuis que ele tinha, era tão giro que só dava vontade de lhe agarrar no cabelo e... Abanei a cabeça para parar de pensar naquilo e voltei a dar atenção a Bea.

- Tu vê lá o que é que fazes.- disse, agora a falar a sério, assim que ela deu a entender que ainda ia ter mais oportunidades de dar cabo de Lydia.- tudo o que menos me apetece é ir buscar-te à prisão por causa dela.- apontei-lhe um dedo, esperando que me levasse a sério e quando me perguntou pelo meu jantar, foi a minha vez de me deitar no sofá, deitando a minha cabeça no seu colo.- foi a maior seca de sempre, para variar um bocadinho.- sorri cínica, revirando os olhos logo de seguida. Eu continuava sem perceber o porquê destes jantares, mas algo me dizia que iam ser ainda mais a partir de agora. Principalmente depois de eles terem metido na cabeça que eu ia ter de namorar com Mark, o filho dos proprietários de uma terra que o meu pai queria comprar.- os meus pais continuam a insistir em juntar-me com aquele betinho de que eu te falei.- acabei por dizer, aproveitando que ela estava ali para desabafar, era a única amiga de confiança que tinha, aliás, era a minha melhor amiga.- ele ontem veio ao jantar e tudo.- voltei a revirar os olhos.- fui obrigada a vestir um vestido só para lhe agradar, mas adivinha..- sorri marota.- não vesti.- ri-me, mexendo as sobrancelhas.

Ri-me da forma séria com que me olhava e pedia para ter cuidado - Sabes com quem estás a falar não sabes? - perguntei. Eu podia tanto ser impulsiva, como me controlar bastante, tudo dependia do dia que estava a ter. - Mas descansa, não vais ter que me buscar à prisão, infelizmente, tenho um pai que é um amor - gozei revirando os olhos. Fiquei mais atenta assim que me começou a contar como tinha sido o jantar. Eu tentei... eu tentei mesmo continuar atenta e séria, mas assim que me falou no betinho, que se chamava Mark, eu soltei uma gargalhada que se ouviu pela sala inteira - tenho tanta pena de ti Bea - falei a sério, apesar de ainda rir - ele não é feio de todo mas aquela roupa que ele usa... -fiz uma careta. Quando ela continuou a falar, fiquei mais calma rindo-me ao ouvi-la falar do vestido - uh, que rebelde, que estás. - gozei.

Assim que a ouvi perguntar-se se sabia com quem estava a falar eu revirei os olhos, soltando um suspiro. Sim, eu sabia perfeitamente com quem estava a falar, e era por causa de ela ser tão impulsiva por vezes que eu falava daquela.
- Sei, e é por isso mesmo que te estou a avisar.- disse, encolhendo os ombros.- porque tu sabes que mesmo que o teu pai te fosse buscar, eu ia ter contigo na mesma.- semicerrei os olhos, sorrindo logo de seguida e assim que ela desatou a rir, por eu ter falado em Mark, foi impossível não acompanhar a sua gargalhada, mas um pouco mais baixo, claro.- era suposto ajudares-me, não gozares com o meu problema.- queixei-me, apesar de me estar a rir e agarrei-lhe na mão, pousando-a no meu cabelo para que me fizesse festinhas.- eu não quero saber se ele não é feio de todo ou se é horrível.- reclamei.- eu não quero estar com uma pessoa só porque os meus pais decidem que eu tenho de estar com essa pessoa.- revirei os olhos e voltei a revirá-los quando ela gozou comigo, agarrando numa almofada para lhe atirar.

Revirei os olhos juntamente com um sorriso e encolhi os ombros, se o meu pai me apanhasse, o mais provável era nunca mais a voltar a ver. Estava fugida dele há quase dois anos, mas sabia muito bem que ele ainda estava à minha procura, era por isso que mudava de visual de tempos a tempos, porque se ele mandasse alguém à minha procura, por fotos ele não ia conseguir apanhar-me.
-O teu problema é engraçado - fiz uma careta - de certa maneira - completei para que compreendesse que não era o problema ao todo. Passei as mãos pelo seu cabelo, tal como me tinha pedido para fazer e comecei a dar-lhe festinhas. - Eu sei, Bea - suspirei - e devias impor-te, eles não têm o direito de fazer isso. Não sei se é crime ou não, mas se não é, devia ser proibido. - encolhi os ombros - vamos fugir as duas. Vamos para uma ilha conhecer gajos giros, e depois de os conhecermos a todos viajamos para outra - ri-me, apesar de em parte estar a falar a sério. Estar em Blueriver só me dava más recordações.

Apesar de já conhecer Arya há bastante tempo, falar do seu pai era um tema que não fazia parte das nossas conversas. Quer dizer, eu sabia que ele a tinha levado da sua família e que agora ela andava fugida dele e à procura do seu irmão, até porque tinha sido por causa disso que nos tínhamos conhecido, mas não sabia muito mais.
- Já tiveste mais alguma pista sobre o teu irmão? - lembrei-me de perguntar, já que estava a pensar naquilo e assenti ao que disse, quando explicou que não estava propriamente a gozar comigo. Sorri mimada, ao sentir as suas festinhas no meu cabelo e virei-me de barriga para baixo, agarrando-me à sua barriga com um suspiro.- eu sei.- murmurei juntamente com um suspiro.- e eu tento impor-me, mas tu sabes como são os meus pais, não é fácil fazer-lhes frente.- fechei os olhos, mas logo os voltei a abrir com a sua sugestão que, como sempre, me fez rir.- acho que foi a melhor ideia que alguma vez tiveste.- gargalhei.- marcamos viagem para quando? - brinquei, apesar de não ser tão brincadeira quanto isso.- estou farta desta casa.- disse, já a falar a sério, enterrando a cara na sua barriga.

Despertei dos meus pensamentos quando ela me perguntou pelo meu irmão. Mordi o lábio inferior, abanando a cabeça e olhei para o seu cabelo enquanto lhe mexia - eu posso passar por ele todos os dias e nem saber que ele é meu irmão - murmurei - lembro-me pouco das expressões dele, a única coisa que me lembro bem é dos olhos azuis dele. Sempre fui fascinada - encolhi os ombros e forcei um sorriso.
-Não tens que tentar, tens que conseguir impor-te. Se não consegues consigo eu - olhei-a - e sabes que mais? Se eles te fizerem mais alguma coisa quem se impõe sou eu! - encolhi os ombros, ela sabia muito bem que era capaz. Encostei a cabeça ao sofá enquanto a olhava agarrada à minha barriga e suspirei - vamos dar uma volta. - sugeri.

Acabei por ter de afastar a minha cara da sua barriga, assim que respondeu à pergunta que lhe tinha feito sobre o irmão e foi-me impossível não suspirar com o que disse. Eu sabia o quanto era importante para ela encontrá-lo.
- De certeza de que são tão bonitos quanto os teus.- murmurei com um sorriso quando falou dos olhos do seu irmão e subi o olhar para os seus.- e de certeza que vais encontrá-lo, eu vou ajudar-te.- disse, lembrando-me logo de algo.- sabes o que é que podemos fazer? - sorri espertinha.- podemos começar por ver as pessoas que trabalham na empresa do meu pai.- bati palminhas.- tu sabes que mais de metade dos habitantes trabalham lá, pode ser que encontremos alguma coisa.- olhei-a, acabando por me sentar no sofá e, mal falou nos meus pais, eu encolhi os ombros.- não te preocupes, eles hão-de perceber que quem manda na minha vida sou eu, não eles.- disse, arregalando ligeiramente os olhos quando se alterou toda, mas logo sorri, esticando-me até lhe dar um beijinho na bochecha.- esperemos que não seja preciso fazeres nada.- ri-me, abraçando-me a uma almofada, mas larguei-a no mesmo instante assim que falou em passeio.- agora estamos a falar a mesma língua.- falei toda entusiasmada e levantei-me, esticando as duas mãos para ela.- o que me dizes de irmos comer um gelado?

Sorri quando falou dos meus olhos e comecei a levantar-me aos poucos, pousando a sua cabeça debaixo de uma almofada. -o quê? - perguntei espreguiçando-me ali no meio da sala enquanto ouvia o seu plano - e como é que podes procurar? Eu nem sei se o meu nome verdadeiro é Arya Lannister, pode não ser esse o último nome dele. - encolhi os ombros e senti mil 'senão' a aparecerem na minha cabeça - e ele pode nem andar à minha procura, pode odiar-me - engoli em seco e antes que entrasse em pânico agarrei na minha mala preparando-me para sair dali. - Sim - disse com um meio sorriso - preciso de sair daqui antes que deprima o dia todo e uma coisa doce vai ajudar o meu dia - agarrei-me à mala.

Levantei-me do sofá, pouco depois de Arya ter pousado a minha cabeça em cima de uma almofada, e ajeitei a minha roupa, indo depois procurar pela minha mala. Um grande problema de viver numa casa tão grande era nunca saber onde enfiava as minhas coisas depois. Espreitei para cima das cadeiras, vendo-a pousada em cima de uma delas e quando me baixei para a agarrar, ouvi a minha amiga começar a disparatar que nem uma maluca.
- Arya.- revirei os olhos, preparando-me para enfrentar aquele tsunami de suposições que ela tinha formulado em segundos.- pode não ser o teu nome como também pode ser.- encolhi os ombros.- temos de começar por alguma lado.- disse, colocando a mala ao ombro.- e, além do mais, porque é que o teu irmão te haveria de odiar? - olhei-a, aproximando-me aos poucos.- tu não tens culpa das coisas que o teu pai fez.- agarrei-lhe num braço para a começar a puxar para fora de casa.- aliás, quem te diz a ti que ele também não anda à tua procura? - dei-lhe um leve encontrão.- tudo é possível.- murmurei.- por isso, acalma essas tuas ideias e deixa-me ajudar-te.- abri a porta de casa, saindo ao mesmo tempo que ela e, depois de a fechar, olhei-a.- mas agora também não vamos pensar nisso, vamos aproveitar o nosso gelado.- sorri, colocando os meus óculos de sol.

Suspirei quando a ouvi dizer o meu nome, como que a pedir-me que parasse de falar. Sempre que falava no meu irmão, vinham-me um monte de perguntas e suposições à cabeça, era impossível não pensar nelas, eu queria tanto encontra-lo mas ao mesmo tempo tinha tanto medo.-Eu não sei... - murmurei levantando o olhar para a minha amiga - eu lembro-me do meu pai me dar a mão e me forçar a andar e eu, quando olhei para trás, vi-o... os olhos dele... ele estava tão triste. - encolhi os ombros - eu sei que não tenho, mas pode pensar que não o estou a procurar ou... se calhar já nem se lembra - decidi calar-me, porque era o melhor. Não era só eu que tinha problemas e ela também precisava descansar de tanto me ouvir. Assenti quando me disse que ia ajudar-me e sorri-lhe - sim acho que um gelado vai apagar todos os maus pensamentos. - ri-me.

Olhei para trás por cima do ombro, olhando para a quinta que também era a minha casa e não consegui não sorrir assim que vi Winter correr pelos prados. Voltei depois a olhar para Arya, lembrando-me do que tinha dito ainda acerca do seu irmão e soltei um leve suspiro, encolhendo os ombros.
- É normal que ele tenha ficado triste.- disse.- és irmã dele, se fosse ao contrário também não ias gostar que o teu pai o levasse para longe de ti.- olhei-a, colocando o meu braço que agarrava no seu em redor dos seus ombros e estiquei-me até lhe beijar a bochecha.- mas não te preocupes, vais poder esclarecer tudo quando o encontrares.- sorri-lhe, puxando-o para que andássemos um bocadinho mais depressa e sorri depois ao ouvir a sua gargalhada.- claro que vai, um gelado é solução para todos os teus problemas.- brinquei, apertando-lhe a bochecha, por saber que provavelmente não ia gostar, mas limitei-me a fazê-lo e a endireitar-me depois, como se nada fosse.

-Se o encontrar - corrigi encolhendo os ombros e olhei para a sua quinta à medida que nos afastávamos. Não a conhecia desde criança, até porque isso era impossível, mas adorava lá ir e, apesar de ser uma casa grande, sentia-me confortável e quase em casa. Andei mais rápido, acompanhando o seu passo e ajeitei a minha mala ao meu ombro, revirando os olhos quando me apertou a bochecha. Olhei-a com um sorriso, semicerrando-lhe os olhos - espero que o gelado te congele o cérebro - disse em tom de brincadeira sorrindo quando vi a cidade aparecer no meu campo de visão.

- Tu vais encontrá-lo Arya, e nem vale a pena teimares comigo.- resmunguei, olhando-a com cara de má, para que percebesse que estava mesmo a falar a sério. Olhei em volta, assim que chegámos à cidade e foi inevitável não sorrir. Acho que a única coisa que os meus pais tinham feito de acertado tinha sido ir viver para ali. Eu gostava da cidade, das pessoas e, sobretudo, das paisagens. Fechei os olhos com um sorriso, inspirando o ar fresco e só os voltei a abrir quando ouvi Arya falar. Olhei-a, baixando ligeiramente para que ela me pudesse ver os olhos e semicerrei-lhos, tal como ela me fazia.- és demasiado minha amiga para quereres realmente que isso aconteça.- disse, encolhendo os ombros com um sorrisinho.- depois quem é que te aturava? - perguntei, em tom de brincadeira.

Ignorei o seu tom irónico, visto que já estava habituado e continuei a conduzir em silêncio até minha casa. Estiquei-me até ao comando, carregando no botão do mesmo para abrir o portão e percorri depois o longo caminho verde que existia até chegar ao largo que servia de entrada para casa. Estacionei o carro num lugar qualquer, e retirei logo a chave, abrindo logo a porta para sair. Dei a volta ao carro, aproveitando para observar o enorme prado que havia ali ao lado e acabei por sorrir. Uma das coisas que agradecia por ter, era uma casa tão bonita como a minha. E nem estava a falar da casa em si, mas sim do sítio onde estava situada. Abri a porta de Robb, colocando os meus óculos sob a cabeça e olhei-o.
- Precisas de ajuda? - perguntei, suspirando logo de seguida.- se vais ser desagradável eu prefiro que nem me respondas.

Detestava aquela casa. Era tão grande e... era bonita. Irritava-me saber que havia pessoas com tanto e outras com nada. Eu nem estava na pior situação, pelo menos tinha casa e não chovia lá, quando tinha frio acendia uma fogueira ou usava mantas. Havia pessoas em estados piores.
Já que ela disse que preferia que nem respondesse, foi isso mesmo que eu fiz, não respondi. Primeiro levei uma perna lá fora, colocando depois a outra no chão e tive que me agarrar à porta para não cair. Fiz uma careta, cerrando o maxilar e encostei a cabeça ao sítio a que estava agarrado. Seria possível ela ter piorado tanto de um dia para o outro? Ela tinha ficado tão melhor quando Mia e a enfermeira tinham usado aqueles cremes... Levantei a cabeça, já capaz de voltar a tentar andar. - espero que não tenhas escadas. - comentei.

Visto que não me respondeu, eu dei um passo para trás, deixando que saísse do carro sozinho, como tanto queria. Levantei as sobrancelhas, assim que vi o esforço que fazia para se manter de pé e, ainda que tivesse vontade de o ir agarrar, para que não caísse, limitei-me a ficar quieta no meu lugar, tal como ele tinha dado a entender que queria que eu fizesse. Se era preciso mostrar indiferença, ou ser fria como ele, eu conseguia fazê-lo. Esperei que se afastasse da porta, para poder fechá-la e trancar o carro e comecei depois a andar em direcção à porta de entrada.
- Não te preocupes, a sala fica já aqui em baixo.- disse, procurando pela chaves de casa na mala e assim que a encontrei, abri-a, deixando que entrasse primeiro.- é na primeira à direita.- indiquei.- podes sentar-te no sofá enquanto eu vou lá em cima buscar coisas para te tratar disso.

Seguia a coxear e nem sabia como é que estava sequer a conseguir pousar o pé no chão. Bem, não era o pé que me magoava mas era a perna que apoiava todo o meu peso. Agarrei-me à porta depois dela a ter aberto e permiti-me olhar aquela mansão. Era demasiado grande e cheirava demasiado bem, mas... era bonita, eu não tinha mau gosto, eu sabia apreciar as coisas quando o meu orgulho me deixava. Desviei o olhar da entrada para Bea ouvindo-a dizer-me onde era a sala e segui as suas indicações, esperando que a empregada não aparecesse. Não queria que ninguém me visse. Nem as moscas. Visto que não estava sujo e não me aguentava de pé, deixei o meu corpo cair para o sofá e estiquei a perna ferida para cima. de uma almofada, fechando os olhos.

Apressei-me a subir as escadas, visto que sabia que Robb estava com dores, e assim que cheguei ao meu quarto, atirei a minha mala para cima da cama, indo depois até à minha casa de banho, abrindo um armário, de onde tirei o kit de primeiro socorros que tinha lá guardado. Saí do quarto, fechando a porta atrás de mim e desci as escadas, vendo que Robb já estava na sala, sentado no sofá, assim que lá cheguei. Dei a volta ao sofá, para me sentar no espaço livre, que ainda era grande, uma vez que o sofá era enorme, e subi depois o olhar para Robb, tocando com um dedo no seu pé.
- Onde é a tua ferida? - perguntei.- preciso que me digas e que me mostres para poder tratar dela.

Não sabia como é que ela não conseguia ver onde é que era a minha ferida visto que as calças estavam até húmidas numa zona reta, na coxa. Mesmo assim, apenas a olhei quando comecei a desabotoar as calças e comecei a puxa-las para baixo - preciso da tua ajuda - disse num tom mais baixo que o costume visto que agora as minhas calças começavam a colar-se à carne. Com a sua ajuda fiquei apenas de boxers e t-shirt, deixando à mostra a ferida que, definitivamente, tinha piorado da noite para o dia devido a falta de tratamento. Claro, a culpa era sempre minha.

Só quando Robb começou a desapertar as calças é que o meu olhar desceu para a zona molhada das mesmas, o que me fez juntar as sobrancelhas. Se aquilo estava assim, eu nem queria imaginar como estaria por debaixo das calças. Engoli em seco, preparando-me para o pior e aproximei-me dele, ajudando-o a despir as calças, tal como me tinha pedido. E foi então que, depois de as pousar a um canto do sofá, consegui ver o quão feia estava a sua ferida. Para além de estar em carne viva, notava-se ao longe o quão infetada estava.
- Mas o que é que se passa na tua cabeça Robb? - subi o olhar para ele, claramente estupefacta.- tu já viste o estado da tua perna? - abanei a cabeça, soltando um suspiro enquanto abria a caixa de primeiros socorros.- eu devia era levar-te ao hospital, quer quisesses quer não.- resmunguei, mais para mim do que para ele e acabei por agarrar na água oxigenada, para lhe desinfectar aquilo. Levantei-me do sofá, indo colocar-me de joelhos, para ficar mais perto da sua ferida.- tu tens noção de que por mais coisas que metas, o corte é profundo demais para sarar apenas com cremes, não tens? - perguntei, baixando de novo o olhar para a sua perna, à medida que começava a desinfectar-lha. Acho que nunca tinha visto uma ferida com tão mau aspecto como aquela.

Acho que só de olhar doía mais, desviei o olhar para Beatrice, revirando os olhos quando começou com o escândalo. - Ela não estava assim antes - disse mantendo o olhar no tecto da sala, que ficava muito longe. A minha pele estava tão sensível que só a corrente de ar fazia a carne latejar. - Eu não vou para o hospital - disse deixando a cabeça cair numa almofada, fechando os olhos. Vi-a aproximar-se pelo canto do olho e cerrei o maxilar, ela não ia parar de reclamar? Nunca tinha pedido para que ela estivesse a cuidar dela, nem nunca tinha pedido para que me dessem com um ferro na perna e no braço. - Então não desperdices o teu tempo- disse num gesto irritado e ia levantar-me quando senti o algodão passar pela ferida. Fechei os olhos por não estar à espera e calei ainda na garganta um gemido de dor.