Aeroporto

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Eu entrei naquele avião devastada, mas ao mesmo confiante. A partir do momento em que metesse o pé em NY ia lutar com todas as minhas forças pela minha carreira. Queria ser a melhor e ia consegui-lo.

*NY*

Passou-se quase um ano desde a vinda para Nova Iorque. Esforcei-me ao máximo. Custou... O meu nome estava nas bocas das criticas, pelas melhores razões possíveis. Estava num bom caminho. Tinha arranjado um grupo de amigos e partilhava um apartamento com Natasha, uma aluna de literatura. Davamos-nos bem.

A minha vida mantivera-se a mesma naquele ano que se passou. Continuei com as minhas aulas, voltei basicamente à vida que tinha antes de conhecer Aixa. Contudo houve sempre algo em falta mas eu recusava-me a admitir o quê.
Até ao dia em que recebi no meu email a noticia de um grande espectáculo e Aixa seria uma das principais. Estava admirado. Para uma aluna de primeiro ano conseguir um lugar daqueles significa que estava a fazer furor. Junto no email estava um convite para o mesmo, já que fora eu quem a recomendara nas audições.
Ponderei muito se devia ir ou não. Para quê aparecer e remexer nas coisas? Para quê voltar à América depois de tudo? Tinha jurado que não o fazia.
E no entanto encontrei-me a comprar uma passagem para Nova Iorque. Acontecesse o que acontecesse, não haveria volta atrás.

Estava ansiosa pelo espectáculo. Era uma oportunidade única, que me abriria muitas portas. No entanto, também estava nervosa. Tinha os pés bem assentes na terra.
Estava frio, a nevar. Aproximavamos-nos da época de Natal. Chris, o meu par no espectáculo e grande amigo, acompanhava-me até ao apartamento. Ele andava num ano a mais que eu. Tínhamos-nos conhecido no primeiro dia de aulas, quando embatemos um no outro. Tornamo-nos inseparáveis, a partir daí.
Eu sabia dos sentimentos que ele nutria por mim, toda a gente torcia por nós, mas infelizmente só o conseguia ver como um irmão. E censurava-me por isso.. Nunca iria conseguir retribuir nada. Chris era um óptimo rapaz e foi graças à sua amizade, que deixara de pensar em Trevor.
O caminho a casa foi repleto de parvoíces e gargalhadas.

Cheguei a Nova Iorque numa noite gelada. Já não estava habituado a este tempo quando vivia há anos na solarenga Austrália. O que vale é que viera prevenido com roupa de Inverno e esperara realmente o tempo inóspito que fazia nos EUA.
Estados Unidos... Estava em casa. Contudo não sabia nada a tal. Deixara tudo para trás por uma razão e agora que ali estava, só pensava nisso. Em Joan e na minha família.  Já se tinham passado quê? Onze anos?
Suspirei e apanhei um táxi. Tinha reservado um quarto de hotel para três noites. Não sabia o que ia acontecer enquanto ali permanecesse, talvez nem se passasse nada, talvez nem falasse com Aixa. Não tinha ideia do que ia fazer. Há um ano atrás dissera-lhe que nunca viria.
Agora ali estava.

O espectáculo seria dali a duas noites. Eu treinava imenso e dedicava-me àquilo como se não houvesse amanhã. Arrumei-me. Vesti algo mais confortável e quentinho e desci do apartamento até à pequena cafetaria que havia ali por perto.

Não queria passar os meus poucos dias em Nova Iorque fechado no hotel. Apesar de tudo, guardava boas memórias da cidade e quis visitar novas coisas. liguei a alguns amigos meus - aqueles que eu sabia não terem contacto com a minha família. Combinei de ir beber café com um antigo colega da Academia.

Não me ia demorar muito na cafetaria. Tinha ido apenas comprar alguns bolos e pão, para matar a fome de Chris e de mais duas colegas. Natasha hoje ia fazer serão, por isso, tinha o apartamento só para mim. Foi à saída que o meu mundo parou. Deixei cair o meu saco e coloquei a mão à frente da boca impedindo-me de soluçar.

Estava a entrar no café quando ia chocando com alguém. Malditas portas escuras. Ia-me já a desculpar e apanhar o que quer que fosse que tivesse caído, quando olhei. Aixa. Era demasiado bom para ser real. Ela estava diferente. Mais mulher, mais madura, mais bonita. Oh..

Merda, era mesmo ele. O que é que Trevor estava ali a fazer? Um ano se tinha passado e pensei que nunca mais o fosse ver. Todos aqueles sentimentos que tinha fechado a sete chaves, apareciam agora soltos e livres. - Meu Deus..

- Aixa - Fazia já muito tempo que não dizia o seu nome, mas no entanto pensara nele todos os dias. Não a conseguira esquecer.

- Trev.. or.. - senti um enorme nó na garganta. As minhas pernas tornaram-se frageis, quase tremeram. - Estás mesmo aqui. - ele estava mesmo à minha frente, em carne e osso. Não podia acreditar..

- O meu espectáculo.. - Senti-me irritada com as suas palavras. Controlei as lágrimas. Porquê agora? Chris chamou-me. Ele estava preocupado, pela minha demora a voltar. Acabou por se aproximar de nós e apanhou o meu saco.

De certa forma o nosso momento acabou depois de eu ter dito aquilo. O que é que lhe ia na mente? Então um rapaz aproximou-se e meteu-se logo junto dela. Percebi pelo olhar dele o que entre eles se passava. Não era como se ela fosse ficar à tua espera, idiota, pensei para mim mesmo. - Adeus Aixa. Tenho a certeza que nos voltaremos a ver por altura do espectaculo. Foi bom ver-te - Dei um passo atrás, virei costas e afastei-me.
- Não devias ter vindo, Trevor. 

Senti um forte aperto no peito, senti tudo à minha volta cair.. Tinha que o voltar a ver. Havia tanto para lhe dizer, tanto para lhe perguntar.. Quando o vi a ir-se embora não tive coragem para ir atrás dele, não com Chris ali. - Vamos embora. - murmurei.

Acabei por desmarcar com o meu amigo. Voltar a ver Aixa...abalara-me, à falta de melhor palavra. Ela estava tão diferente, mas ainda via nela traços da rapariga inocente que conhecera.
Com a mente num turbilhão, decidi fazer aquilo que normalmente fazia quando precisava de desanuviar. Fui até à Academia. Falei com um antigo amigo e utilizei uma das salas deles.

Não fui a mesma o resto da noite. Trevor estava mesmo ali, em Nova Iorque. Chris percebeu que havia algo de errado, não perguntou mas tenho a certeza que estava preocupado. Despedi-me dos meus colegas e tranquei-me no apartamento. Amanhã seria o ensaio final, aberto a algum público do colégio. Fui dormir.

No dia seguinte estava com um aspecto terrível, apostava. Tinha ficado fechado naquela sala de ensaio até e madrugada. Quando voltara para o hotel, já estafado, não conseguira dormir por não parar de pensar em Aixa.
Era por ela mesmo que agora estava de volta à Academia. O meu amigo, um dos coreógrafos do espectáculo, convidara-me a ver o ensaio geral. Eu sabia que ela estaria lá e não consegui impedir-me de ir.

Estávamos todos prontos para começar. Chris tinha-se atrasado um pouco, mas isso não interferira em nada. Juntou-se rapidamente a mim. Eu estava mais bem disposta. Aprendera a deixar os meus problemas fora do palco.

Entrei dentro do enorme salão de espétaculo. Sentei-me na última fila, convicto que dali pouca gente me veria. Para além de mim, havia ali mais algumas pessoas a assistir.

Era sempre tão divertido dançar com Chris. Nós, como par, éramos dos melhores. No entanto, nada se comparava quando dançava com Trevor. Entre nós havia uma química, um desejo quase carnal. Tinha saudades disso.

Aixa destacava-se claramente do resto das outras bailarinas. Ela era luz naquele palco. Evoluíra imenso desde a última vez que a vira dançar. O par dela também era bom, embora não tanto. Reparei que era o rapaz do café, o seu namorado. Senti ciúmes que não tinha direito de ter.

Como sempre, Chris aproveitou-se do intervalo para fazer uma das suas partidas. Pegou em mim e rodopiou-me pelo ar. Quando ele me pôs no chão senti o meu pé escapar, como um estalo e acabei por cair. Senti uma enorme dormência na perna.