Sala de Estar + Hall de Entrada

Eu já tinha ido a casa de Aixa, claro. Apenas umas duas ou três vezes. Nem nessas alturas me cruzara com Will ou vira fotos dele. Estranho.
Saímos do táxi e segui atrás dele para dentro de casa.
- Perto dos trinta também não. Tu estás?

Eu não gostava muito de fotos pela casa. E desde o acidente, qualquer recordação dos meus pais, qualquer fotografia por ali, era quase inexistente. No entanto, não as deixava de as ter. - Eu tenho vinte e oito anos. - respondi-lhe, enquanto abria a porta. Dei-lhe passagem. Seguimos para a cozinha.

encerrado.

Entretanto começou a chover. E se antes estava molhada, agora estava pior que encharcada. Trevor também não estava lá muito favorecido. Teimoso, não se deixou ficar no carro.
Pousei o seu casaco numa das cadeiras da sala, para ver se secava e fui buscar duas toalhas. Uma para mim e outra para ele. Olhei lá para fora pela janela. Aquilo estava mesmo com mau aspecto.

Fiz questão de a levar a casa. Fiz questão de a levar até à porta e confirmar que ela ficava bem. Entrei para me assegurar por completo. - Seca-te bem - Disse, porque ela já levara com muito frio desde o conservatório e a chuva não ajudara nada - Veste algo quente. bebe e come qualquer coisa quente, também.

- Está bem, paizinho. - pela primeira vez em horas, ri-me. Sequei rapidamente o meu cabelo com a toalha e fui vestir qualquer coisa quente. - Queres comer qualquer coisa? - era o mínimo que podia fazer. Já que.. ele ajudara-me.

Revirei os olhos. O lado protetor que havia em mim surgira vindo do nada e eu ia insistir com ela. Aproveitei a toalha dela para me secar minimamente, mas não servia de muito com as roupas molhadas. - Hum.. claro - Estava esfomeado, mas devia ir para casa. Vai Trev.

Liguei a televisão. Gostava de ter sua a companhia. Fazia sempre a casa menos vazia. Fui fazer algumas sandes e um sumo natural. Era das poucas coisas que eu era prestável. - Se quiseres.. hum.. tenho ali algo que se calhar te sirva.

Eu já estava a pensar em ir embora quando ouvi a partir da sua televisão que devido ao temporal as estradas estavam cortadas. Pois, que bom, pensei sarcásticamente. - Não sou esquesito - Disse. Nada seria pior que a comida militar.

As notícias que corriam pela televisão, não eram de todo boas. Isso significava que ele teria que ficar ali, até aquilo acabar. E se não acabasse assim tão cedo?! Era o que dava a pensar. Rapidamente pousei o tabuleiro na mesa da sala e fui buscar algumas roupas de Will. - Toma.

Olhei para as roupas que ela me deu. Eram um número abaixo do meu. Fui vestir-me até à casa de banho dela e vesti os calções de desporto e a t-shirt, eram os que serviam melhores. Voltei para junto dela - Obrigado .

Vê-lo com as roupas do meu irmão, foi algo demasiado estranho. Puxei a minha caneca, com leite de chocolate quente e beberiquei um pouco. Se amanhã acordasse doente, teria a quem culpar.

Cocei a cabeça. Aquele ambiente entre nós era estranho. Eu era professor dela e beijara-a. Piro que isso, passara a desejá-la e vê-la indefesa e em lágrimas tinha despertado algo em mim que não deveria.

Tentei não pensar que tinha o meu professor de dança, o homem que me beijara na sexta-feira passada, ao meu lado. Na televisão o temporal tinha ficado pior na zona da costa. E isso significava que Will podia estar no meio daquilo. Puxei o telefone de casa e tentei ligar-lhe, mas estava desligado.

- Estás à espera de alguém? Não me parece que vivas aqui sozinha - Acabei por dizer. Lembrei-me vagamente do homem que vira com ela perto da praia.

Will sabia-se cuidar, mas em temporais como aqueles, ficava sempre preocupada. Abanei a cabeça. - Mais ou menos. Só quero saber se há algum problema. Isto é, por causa do temporal.

O facto de ela possivelmente ter um namorado era um incentivo para me esquecer das imagens imaginárias que me apareciam agora na mente.. - O temporal vai passar não tarda. Não há de acontecer nada. 

Sorri por momentos. Eu queria acreditar que sim. - É.. tens razão. Deve estar tudo bem. Ele deve estar sem rede, ou coisa assim. - e distraído como era, nem se deve ter apercebido que tinha um telemóvel.

Fou subtil, mas agora ela começava a falar comigo na primeira pessoa. Assim gostava mais. - O teu namorado? - Acabei por perguntar, apenas por perguntar, porque a mi não em fazia diferença.

- O meu namorado? Não, que ideia ridícula! - comecei-me a rir. Eu não tinha tempo para namorados e depois, não queria saber sequer dos rapazes. O meu foco era apenas a dança. - O meu irmão. O Will, o rapaz da loja das bicicletas.

Ali, na casa dela, ela era mais descontraída. O que era bom, dado o que acontecera há apenas umas horas.  - Era teu irmão, então. Agora já reparo um pouco mais nas parecenças. Vives aqui com ele, então - Eu tinha reparado nalguns elementos masculinos na casa.

Já não era a primeira vez que nos chamavam de namorados. Talvez porque vivíamos os dois sozinhos, sem pais. Abanei a cabeça, confirmando tudo o que ele dizia. - É.. vivo sim. - fiz uma careta. - E tu, não tens irmãos?!

GELADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOoOoOOOoOoOoOoOoOoOoO \O/

Por norma não respondia a perguntas pessoais. Não gostava de partilhar aspectos da minha vida mas acabei por lhe responder.
- Tenho, um irmão e uma irmã mais novos. - Que já não via há anos.

- Ham.. - então ele sabia o que era ter irmãos. Sempre o imaginara filho único. Mas não me fiquei por ali com as perguntas. Por incrível que pareça, atrevi-me a perguntar-lhe outra coisa. - E namorada?

Para mim aquilo chegava de perguntas. Só tivera uma namorada e fora Joan. Não me queria lembrar disso. - Tens alguma coisa que se coma? - Perguntei, para desviar a conversa.