Sala de Estar + Hall de Entrada

Bocejei e espreguicei-me. Passei uma mão pelo meu pescoço. - Eu sei, desculpa. - e afastei-me dele. - Queres ir dormir para o quarto do meu irmão? Sempre é melhor que o sofá. - e eu não me ia sentir bem ir para a minha cama e tê-lo ali.

Naquele momento não me queria mover dali - Não, eu estou bem aqui. -  Para além disso mal fizesse bom tempo, ia-me embora.

- Mas eu não estou bem. - eu insistir com ele, até o meter confortável. - Vou-me sentir mal se ficares aqui a dormir. E tenho um quarto disponível. Vá lá Trevor. - puxei-o pela mão.

Caramba para ela. Larguei-me da sua mão - Obrigadinha Aixa mas o teu sofá até é bom. Eu fico bem aqui. Para alem disso daqui a nada vou-me embora.

Revirei os olhos. Não ia insistir mais. Se depois se queixasse de dor nas costas, que não me culpasse. - Como queiras. - saí dali e fui para o meu quarto.

Fiquei ali sozinho na sala e percebi que aquela erecção não ia melhorar. Pisguei-me até à casa de banho dela e, sentindo-me um idiota completo, dei fim àquele sofrimento. Ao menos não pensei nela enquanto o fazia...
Depois daquilo lavei bem as mãos e quaisquer vestígios. Voltei para a sala mas fiz uma careta para o sofá. Estupidamente, entrei no quarto dela e não resisti em deitar-me na cama. Caí pedrado de sono.

Durante o caminho até casa dele, não me pronunciei em nada. Tentei convencer-me que Aixa tinha a sua razão e que tinha de compreender o seu lado, mas a verdade é que isso não lhe dava razão para ser tão hostil. - William, se calhar é melhor eu não estar aqui quando ela voltar. Eu depois falo com ela e esclareço tudo.

Sentámos-nos no sofá e puxei-a para um abraço. Aconcheguei-a bem. - Não. A Aixa tem que entender. Isto não vai ser como ela quer. E depois, ela está sempre a pedir-me para arranjar alguém. - revirei os olhos. Não entendia a reacção da minha irmã. - Esclarece-se tudo hoje.

- Ela pode achar que não sou adequada para ti... e secalhar não sou - Tinha medo de perder a minha melhor amiga. Não queria parecer fraca nem nada do género mas não resistir em abraçar-me apertadamente a ele e esconder o meu rosto no seu peito.

Afaguei o seu cabelo. O que ela dizia era uma estupidez completa. Abanei a cabeça e suspirei. - Não penses nisso. - para mim aquele assunto estava resolvido. Aixa teria que entender e pronto. Não havia volta a dar. - Vou fazer o jantar. Alguma sugestão? - sorri.

Soube naquele momento que, mesmo que Aixa não quisesse, eu não ia desistir de estar com Will. Não conseguia.
Encolhi os ombros e olhei ligeiramente para ele - algo com natas, muitas natas.

- Natas.. - murmurei. Poderia arranjar-se. Beijei-a desta vez nos lábios e segui para a cozinha. Foi rápido enquanto fiz a comida.

O resto do mês passou e foi semelhante aos últimos tempos. Eu e Aixa mal nos falávamos e isso entristecia-me. A minha alegria era Will que, embora passasse muito tempo afastado no trabalho, arranjava sempre tempo para estar comigo e eu sabia que os meus sentimentos por ele estavam a atravessar para uma margem perigosa. Ainda assim, a nossa relação continuava com "indefinida" e eu tentava não me importar com isso, mas importava.
Naquela noite fui ter com ele porque sabia a data que era. Aixa fazia anos e não ia estar em casa, não ia estar com o irmão. Ela costumava sempre fazer isso. Não podia deixar de pensar que a culpa era minha.
Toquei à campainha.

O mês que se passou foi de certa maneira, difícil. Aixa continuava insuportável, mal me falava e saía de casa, sempre que Maya passava por cá. Quando voltava, trancava-se no quarto.
Hoje comemoria-mos o seu aniversário, caso tivéssemos bem. Era estranho não estarmos juntos, mais estranho ainda, aquele silêncio. No entanto meti mãos à obra e preparei-lhe o bolo. Quando ouvi a campainha, fui abri-la. - Hey. - sorri ao ver Maya.

- Hey - Sorri e entrei. Como de costume, roubei-lhe logo um beijo e fiquei próxima dele - Como estás? - Perguntei sem mostrar um ar muito preocupada, apesar de o estar.

Fechei a porta atrás de nós. Não queria dar parte fraca e por isso permaneci com o sorriso na cara. - Bem e tu? - já não nos víamos há quase cinco dias. Estava com imensas saudades.

- Estou bem, mas com saudades - Se calhar não devia ter dito aquilo. Sorri novamente, um pouco embaraçada - A Aixa ainda vem cá? - Acabei por perguntar.

- Eu também estava com saudades. - fiz beicinho e puxei-a para um abraço. - Er.. eu não sei bem. Talvez não. Ela disse que ía sair com umas amigas..

Saber que ele sentira a minha falta deixava-me alegre. Pois... Há uns tempos atrás teria sido eu a planear uma festa para Aixa. - Ela volta, para podermos cantar os parabéns - Não acreditava realmente nisto mas Aixa também devia pensar no irmão. Will era o seu mundo, e ela o dele.

- Sim, ela volta. - murmurei. Uma das minhas mãos desceu até encontrar a sua e entrelacei os nossos. - Eu estava a preparar o bolo. Queres ajudar-me?

Assenti, com um aceno de cabeça suave - Claro, vamos lá - Ainda de mãos dadas, fomos para a cozinha.

O táxi deixou-nos mesmo à porta da casa dos Walker. Segui atrás dele até lá para dentro.Tinha vindo o caminho todo com um sorriso parolo desde o hospital.

Viera o caminho todo a assobiar. As minhas chaves de casa continuava no bolso de trás das calças. Por momentos pensara que as tivera perdido no acidente. Abri a porta e entrámos. Aixa estava na cozinha, mas guardou-se para o quintal. Tinha que treinar. Ainda fiz beicinho, tentei convencê-la mas nada resultou.

Tínhamos de dar tempo a Aixa para ela se adaptar, supunha. Ficámos os dois sozinhos uma vez mais - Hoje faço eu o jantar. É melhor não te aventurares pela cozinha.

- É que nem penses. - não sabia haveria de ficar horrorizado por tal coisa, mas acabei por fazer uma careta. Tanto Maya e Aixa eram desastres na cozinha. - Eu ainda tenho capacidades para fazer o jantar. E prefiro comer algo decente, saudável.. nada que me mate ou que me queime a cozinha.