Sala de Estar + Hall de Entrada

Voltei só por volta das nove da noite. Estava cansado, tinha tido uma tarde bastante complicada. Um dos novos empregados tinha tido um acidente e teria que trabalhar mais horas do que queria. Sentei-me no sofá.

- Boa noite - Disse ao entrar na sala, depois de o ter ouvido entrar em casa. Aproximei-me, fazendo tenções de me sentar ao seu colo. Já me sentia melhor - Mau dia?

Recebia no meu colo e abracei-a com força. Ela já tinha melhor cara e a sua cor tinha voltado ao normal. Sorri de forma torta. - Mais ou menos. - suspirei. - Um empregado teve um acidente e parece que vou ter que fazer horas.

- Oh... - Eu sabia o tipo de patrão que ele era, daqueles preocupados com os empregados, e stressado por soluções. O melhor. - Esfolas-te a trabalhar. Vais ficar mais cansado.

Estiquei os braços e espreguicei-me. Senti todos os ossos das minhas costas e ombros estalarem. - Eu importo-me mais por ti. - seriam mais umas horas sem poder estar perto dela. - Mas será apenas até se recuperar.

- Não desvies a conversa - Desta forma ia ser eu quem ia estar preocupada por ele - E arranjares alguém em part-time? Sempre te aliviava o horario.

- Eu mao estou a desviar a conversa. - revirei os olhos. - Já pensei nisso, mas neste momento não nos dá jeito. Contratar uma pessoa em coma da hora vai dar para o torto. - mas não queria falar mais sobre aquilo. Tinha a certeza que ia dar um jeito.

Ele lá sabia. O negócio era dele. Ele fazia as melhores decisões, mesmo que no fim só lhe dessem mais trabalho. Dei-lhe um pequeno beijinho - Eu até me voluntariava, mas vou começar um novo projecto e não consigo dispensar muitas horas.

Chegava de falar de mim e daquele estúpido problema. Estava confiante que o ia resolver. Puxei-a para cima do meu colo. - Ai sim? Conta lá melhor sofre isso.

Encolhi os ombros. Era apenas mais um projecto que tivera em mente. - Decidi fotografar no hospital. Depois de hoje, contigo lá... Quero fazer algo produtivo enquanto lá estou.

O que ela me disse era algo muito bom de se ouvir. Sorri abertamente beijei-a. - Ainda bem. Vês? Nem tudo é assim tão mau! E precisas de te distrair, o que é uma bela ideia!

Tentava que aquela ideia me desse alento. - Também creio. Não sei como não pensei nisto antes - Sorri levemente - Fiz uma tarte enquanto não chegavas, para o caso de teres fome...

Eu cá tinha a minha teoria. Ela andava tão embrenhada naquela doença que acabara por se esquecer de tudo um pouco. -Uma tarte... Hum... Não sei se não é arriscado comê-la. Se calhar envenenaste-a para me trocares por outro homem.

Um sorriso manhoso abriu-se na minha face - Não precisava de te envenenar para fazer isso - Passei a minha mão pelo seu rosto - Mas podes estar descansado, não está nos meus planos livrar-me de ti assim tão facilmente.

Puxei-a fortemente contra o meu corpo e beijei-a. - Nem eu deixaria que me trocasses por outro homem. - Depois de conhecer Maya não via outra mulher na minha vida, se não ela.

Havia esta segurança na nossa relação que eu adorava. Mordi o lábio inferior, pensando se mesmo quando estivesse mais débil com a doença e menos bonita, sentiria essa segurança...

Apercebi-me dos seus pensamentos e fi-la encarar-me. Passei um dedo pelos seus lábios. Tive vontade de os morder. - Eu amo-te Maya, nunca duvides disso.

Como é que ele parecia saber sempre os meus receios? Amava-o mais por isso. Contive as lágrimas e beijei-o.

Não larguei os seus lábios. Queria que ela se sentisse segura e confiante comigo. Peguei-a ao colo e seguimos para o nosso quarto.

Já tinha quase tudo pronto para o nosso pequeno almoço, só faltava pôr a mesa. Foi quando a campainha tocou. Aquilo deixou-me verdadeiramente aborrecido. Quem poderia ser? Quando abri a porta, não consegui esconder o meu ar surpreso.
- Scylla.. - murmurei. Já não a via desde... desde que nos tínhamos separado. E isso fora há quase quatro anos. Reparei logo que no rapazinho que trazia consigo.
- Desculpa aparecer assim Will, mas não sabia para onde ir.. acabei de perder o emprego, o meu namorado deixou-me quando descobriu... e... e... - suspirou. - Não posso continuar a esconder isto. Este é o Joshua, o teu filho.

CA BUUUUM.. MUAHAHAHAH

Enquanto desci as escadas,ouvi a campainha tocar. Instintivamente, ajeitei a peruca. Respirei fundo e continuei. Vi uma mulher e uma criança à porta e Will com um ar surpreendido. Olhei para ele, esperando uma explicação.

omg, o que eu me estou a rir com este plot twist!

Eu fui completamente apanhado de surpresa. Abri e fechei a boca umas quinhentas vezes, então reparei em Maya e fiquei pior que roxo. Aquilo tinha vindo na pior altura... merda...
- Will? - olhei novamente para Scylla e depois para aquele loirinho, que se escondia atrás das pernas da mãe. Cocei o couro cabeludo com força.
- Entra. - foi tudo o que consegui dizer.


opaa.. não tem graça!

Eu não estava a compreender o que se passava, embora já tivesse notado no olhar que aquela mulher lançava a Will. Não gostei, mas mesmo assim tentei parecer tranquila. Quando ele os convidou a entrar, até ofereci café ou sumo. Mas declinaram... E por isso só me restou esperar que respostas surgissem.

é mesmo muito divertido de imaginar tudo isto

Eu não sabia realmente o que fazer. Queria tanto que aquilo não se transformasse numa bola de neve, ao qual não me conseguiria desenvencilhar.. - Hum... - virei-me para Maya. - Podes deixar-nos sozinhos, por favor?!

Um mau pressentimento assaltou-me. Tentei entender o que se podia passar, mas não queria precipitar-me em conclusões - Está bem. Estarei no jardim - E retirei-me.