Sala de Estar

Revirei os olhos e dei-lhe com o pé sem força.
- Está bom, não vale a pena ficares assim. - resmunguei.

Acabei de comer e inclinei a cabeça.
- Então? - perguntei curioso.
Apostava que tinha alguma coisa a ver com Peter e com o facto de ela ter acabado com ele. Se calhar já estava arrependida.

Levei o meu prato também, pousando junto à pia e limpei a mesa.
- Quero é que me digas o que tens. - revirei os olhos.

Abanei a cabeça e encostei-me à bancada, cruzando os braços.
- Ou dizes neste momento, ou vou-me embora. - chantageei, sabendo que isso era errado mas nem querendo realmente saber.

- Não é algo que vá afetar a minha vida se eu pensar com o que sonhei. Só fiquei mal disposto com isso e pronto. - resmunguei.
Não a olhei quando se sentou e começou a falar.
- E ainda dizias que não tinhas arrependimento. - abanei a cabeça.

Abanei a cabeça.
- Não vou voltar a ter esta conversa contigo, desculpa. Eu tenho a minha opinião e não vou voltar a repeti-la. Não te deves rebaixar só porque deixaste um idiota. - encolhi os ombros.

- Ao dizeres que não és nada, estás a concordar com ele e a rebaixar-te. - revirei os olhos.
Não percebia como é que ela era capaz de ainda estar a pensar em Peter e no que ele lhe dissera. Mas isso talvez justificava-se por eu nunca ter gostado realmente de alguém.

Abanei a cabeça.
- Sim, pois. - ironizei. A palavra era das últimas do meu dicionário. Não tinha qualquer intenção de andar todo deprimido por causa de uma rapariga, só porque a considerava especial e tal.

Encolhi os ombros.
- Não interessa, na verdade. - acabei por dizer após uns minutos de silêncio. Tinha tido alguém especial, não o suficiente para dizer a essa pessoa que a amava ou algo do género. Pelo menos, nunca tive necessidade de o dizer nem pensei que aquilo fosse o amor que todos descrevem.

Suspirei e depois revirei os olhos.
- Não quero saber disso, mas obrigado pela tua preocupação. - ironizei.
Esfreguei os olhos, fechando-os por momentos. Não queria mesmo estar a falar do assunto.

Observei a televisão sem realmente prestar atenção. Aquela sua pergunta deixara-me a pensar e eu odiava quando estas memórias voltavam. E aquele sonho que ela tanto falava, era tudo a repetir-se, mas desta vez com ela.
- Preciso de ir até lá fora. - disse num tom de voz baixo e levantei-me, saindo para o exterior. Já lá fora, sentei-me na relva e obriguei-me a mim mesmo a voltar a ser o idiota mal humorado que era e esquecer tudo aquilo.

Senti as suas mãos nos meus ombros enquanto pousava a manta sobre os mesmos e agradeci-lhe antes de ouvir a porta a fechar-se.
Quando consegui meter na cabeça que eu continuava o idiota que não se ia deixar abalar por coisas que já tinham sido enterradas e eram passado, voltei a levantar-me e entrei. Estava a começar a ficar cheio de sono.