Hospital

- Só estás aí porque és burra - encolhi os ombros, repetindo o que já tinha dito antes. Ela tinha sido mesmo burra, ainda que uma burra corajosa, uma burra. Encostei os meus braços à sua cama, ficando a olha-la e suspirei, deixando a cabeça cair. Estava farto desta situação e só agora é que começava. - Esquece isto, eu não quero a tua ajuda, nem a de ninguém - voltei a dizer para acabar de vez com a conversa. Levantei a cabeça para a olhar - dorme, quando acordares devem estar a dar-te a alta. - murmurei.

Como seria de esperar, Robb não deixou escapar a oportunidade de me atirar à cara, mais uma vez, que apenas estava naquela cama de hospital porque era burra, melhor dizendo, o facto de estar ali era culpa minha, por me ter metido nas suas coisas. Ainda que apenas o tivesse para o ajudar, isso não parecia interessar-lhe.
- Como queiras.- disse apenas, já sem paciência para aquela conversa e fechei os olhos com um suspiro cansado, ficando calada enquanto ouvia tudo o que ele me dizia.- sim, já toda a gente sabe que és um valente.- ironizei.- não precisas de nada nem de ninguém e a vida é tua. Sim, eu já sei.- murmurei, ajeitando a minha cabeça na almofada e, antes que dissesse mais alguma coisa que não devia, decidi seguir o seu conselho e tentar realmente adormecer. Não via a hora de sair dali.

Afastei-me da sua cama, recostando-me na cadeira e fiquei a olha-la, revirando os olhos enquanto falava, que otária. Cerrei o maxilar para não continuar a lhe chamar nomes e mal fechou os olhos para tentar dormir, tal como lhe tinha dito, levantei-me. Estava a passar-me com a minha perna, que não ficava melhor nem por nada, mas fui de novo até ao corredor, sentando-me na mesma cadeira enquanto olhava para os lados sem fazer nada, ali não dava jeito dormir, nem descansar, mas nem valia a pena estar a olhar para ela enquanto dormia e a ralhar-lhe mentalmente, só me ia deixar mais passado da cabeça. Ainda pior do que já estava, até já nem sabia a quem atribuir as culpas dela estar ali, se a ela, que tinha sido burra, ou a mim, que não a tinha logo defendido, ainda que tivesse tentado à minha maneira. Não! A culpa era dela que só se desbroncava.... Abanei a cabeça, com um suspiro frustrado e chateado e encostei a mesma à parede, com a perna magoada estendida para a frente.

Apesar de ter os olhos fechados eu não consegui adormecer logo e, por isso mesmo, ainda estava acordada quando me apercebi de movimento da parte de Robb. Eu sabia que o tinha irritado, aliás, ao que parecia eu era perita em fazê-lo. Por isso mesmo, assim que abri os olhos e constatei que ele tinha voltado a sair do quarto, não me admirei. Estava-se mesmo a ver como é que iriam ser estes dias em sua casa. Enquanto nós não aprendêssemos a lidar um com o outro, sem dizer tudo o que nos apetecia e vinha à cabeça, íamos sempre acabar por discutir. Soltei um suspiro frustrado, voltando a fechar os olhos ao fim de alguns segundos e tentei adormecer, coisa que apenas consegui fazer ao fim de muito tempo. Era difiícil colocar os pensamentos de parte, principalmente quando me sentia tão irritada com Robb. Sim, porque a culpa também era dele. Não totalmente, mas também não era só minha. Estúpido.

Olhei para as horas vendo que não estavam a passar à velocidade que queria, no entanto, já tinha faltado menos para dali sair. Levantei-me quando uma médica entrou no quarto e fui atrás dela, vendo-a olhar para Beatrice. - É o acompanhante? - perguntou-me e eu assenti. -Aqui está a alta dela - deu-me uns papéis que eu nem me dignei a ler e vi-a sorrir - assim que ela acordar, podem ir embora - que bela maneira de nos expulsar, pensei eu e ela saiu. Suspirei voltando a sentar-me no sofá, não queria acorda-la, ela precisava de descansar bastante.

Ainda que o meu sono não fosse propriamente leve, comecei a despertar aos poucos assim que senti alguns movimentos no quarto, acompanhados por burburinhos que não conseguia distinguir com clareza. Pelos vistos, apesar do esforço que tinha feito para adormecer, o cansaço era tanto que me permitia ter vontade de continuar de olhos fechados. Porém, era demasiado curiosa para não querer saber o que se estava a passar. Já para não falar de que não via a hora de poder sair daquela cama desconfortável. Comecei a abrir os olhos aos poucos, piscando-os para conseguir acordar e assim que isso aconteceu olhei em volta, deparando-me com Robb novamente sentado no sofá. Tossiquei, fazendo uma careta por causa das dores que aquilo me provocava, mas tentei rapidamente ignorar.
- Passa-se alguma coisa? - perguntei, ainda com a voz meio rouca.- eu ouvi umas vozes.

Fiquei a observa-la enquanto despertava aos poucos. Mantive-me calado até ela falar comigo, não queria discutir mais e sabia que qualquer coisa a ia deixar irritada, tal como acontecia ao contrário. - Não, mas a doutora disse que quando acordasses podias ir embora. -olhei-a esticando-lhe roupa que a minha mãe tinha deixado antes. - Devias mandar uma mensagem aos teus pais - encolhi os ombros, clareando a garganta e comecei a levantar-me para sair enquanto ela se preparava para vestir - precisas de ajuda? - perguntei à porta e fiz uma careta - eu posso chamar uma enfermeira. - acrescentei logo de seguida.

Por muito ensonada que estivesse, assim que ouvi Robb dizer-me que já podia ir embora daquele hospital, não houve como não despertar. Porém, não me pude entusiasmar demasiado enquanto me levantava, por causa da ferida. Sentei-me na pontinha da cama, agarrando na roupa limpa que Robb me estendia e só depois é que me coloquei de pé. Não me podia esquecer de agradecer à sua mãe por tudo aquilo depois. Mas bem, eu estava tão entusiasmada por sair dali que nem me preocupei em Robb ali estar e começar a tirar a bata, se bem que estava de costas para ele. Peguei no meu soutien, ao mesmo tempo que o ouvi falar nos meus pais e olhei-o por cima do ombro, ainda sem o vestir.- para quê? - perguntei com um suspiro.- acho que, dado o tempo em que aqui estiveste, já conseguiste perceber que eles não estão minimamente importados.- encolhi os ombros, enfiando as alças.- podia ter morrido e eles nem dariam por isso.- finalizei, decidida a esquecer aquele assunto, ou ia voltar a ficar exaltada, e voltei a olhar para Robb.- eu não preciso de ajuda para me vestir.- neguei com a cabeça.- quer dizer, só preciso de ajuda com isto.- murmurei, apontando com o queixo para o soutien.- podes ajudar-me?

Encolhi-me ligeiramente, como se tivesse feito alguma coisa de mal, e desviei o olhar do seu corpo, mas também, a culpa não era minha, ela é que estava toda apressada e até à minha frente se despia. Mordi o interior da bochecha, ouvindo o que tinha a dizer para depois me esquivar, mas não consegui afastar-me sem explicar o meu ponto - talvez se disseres alguma coisa, eles percebam - - murmurei ouvindo-a depois dizer que não precisava que chamasse ajuda. Assenti pronto para dar meia volta até que ela me pediu para apertar o soutien. Levantei as sobrancelhas e olhei-a - eu? - perguntei dando um passo em frente ainda com uma careta e ia negar, mas já estava mesmo atrás dela. Ainda fiquei alguns longos segundos apenas a observa-la até que decidi que era melhor despachar já isto e ajudei-a no que precisava, apertando-lhe aquela coisa que devia ser bastante desconfortável, mas nem comentei.

Soltei um leve suspiro assim que ouvi Robb contrariar o que eu tinha dito sobre os meus pais. Até sobre isto ele conseguia contradizer-me, ainda que eu achasse que, desta vez, não o estava a fazer por mal. Eu não queria falar com eles, principalmente depois de ter passado estes dias no hospital e nenhum dos dois se ter dignado a aparecer, mas também não queria insistir neste assunto. Por isso, acabei por encolher os ombros.
- Quando chegar a tua casa eu penso nisso.- disse apenas, terminando por ali a conversa. Olhei para Robb por cima do ombro quando ele pareceu ficar atrapalhado com o meu pedido e levantei ligeiramente as sobrancelhas.- sim, tu.- assenti.- não está aqui mais ninguém.- murmurei com uma leve careta. O mais provável era eu estar a ser apressada demais, mas de certeza que ele já tinha visto bastantes raparigas nuas, eu não havia de ser a primeira e, além disso, ele não estava a ver nada mais do que as minhas costas! Face à sua demora, ia preparar-me para tentar fechá-lo sozinha mas nem sequer precisei de o fazer, porque Robb acabou por mo fechar. Mordisquei o meu lábio inferior, assim que senti as suas mãos em contacto com a mina pele, e rezei mentalmente para que ele achasse que a minha pele se tinha arrepiado por causa do frio, o que era totalmente mentira. Endireitei-me ao fim de alguns segundos, agarrando na camisola e virei-me para ele depois de o fazer, o que foi um erro terrível, uma vez que ele se encontrava tão perto.- obrigada.- murmurei num tom baixo, engolindo em seco e, antes que as coisas ficassem estranhas, como de manhã, voltei a virar-me para me começar a vestir.

Não afastei logo a minha mão do seu soutien, divertido por ter reparado na forma como o seu corpo tinha reagido ao meu toque, mas lá tive que me afastar, assentindo quando agradeceu. - Vou deixar-te vestir, estou aqui no corredor - murmurei afastando-me e voltei a sentar-me na cadeira onde já tinha estado, mordendo o lábio inferior ao tentar aguentar-me onde estava, sem espreitar - mas despacha-te - avisei alto para que me ouvisse, acho que não aguentava muito tempo sem conseguir ceder à minha vontade. Eu conseguia ser maroto, qual era o mal? Era homem.

Eu esperava realmente que Robb não reparasse no meu estado, porque já tinha sido embaraçoso o suficiente acordar praticamente em cima dele. Mas eu não tinha culpa, sim porque ele podia ser muito irritante, mas não deixava de ser um rapaz que, bem..era um rapaz bem constituído, pronto. Tossiquei baixinho, tentando disfarçar o meu embaraço e cheguei mesmo a soltar um suspirinho aliviado quando Robb finalmente se afastou. Passei as mãos pelos braços, tentando que a minha pele voltasse ao normal e olhei-o assim que falou, assentindo ao que disse.
- Está bem.- murmurei apenas, sentando-me na cama para conseguir vestir as calças. Estar fechada dentro daquelas quatro paredes começava mesmo a fazer-me mal, como é que era possível que eu, no estado em que estava, pudesse te sentido vontade de que Robb ficasse ali comigo? Das duas uma, ou isto eram as consequências de não estar com um rapaz há muito tempo, ou a anestesia tinha-me feito mesmo mal. Sim, o mais provável era ser mesmo a última. Abanei a cabeça face aos meus pensamentos, distraindo-me dos mesmos assim que senti a minha ferida queixar-se do esforço que estava a fazer para me vestir, mas nem por isso deixei que me impedisse de o fazer. Voltei a levantar-me, passando as mãos pelo cabelo e, como não estava nos seus melhores dias, acabei por decidir apanhá-lo. Agarrei na minha mala, que era a única coisa que tinha, e estava a sair do quarto quando Robb me gritou para que me despachasse.- pronto, já estou aqui princesa.- brinquei com um leve sorriso.- já podemos ir.

Levantei-me, quando ela saiu do quarto, de forma demasiada rápida, causando um pequeno desiquilíbrio que acabei por conseguir controlar muito bem. Olhei-a com um revirar de olhos, tanto pelo que era disse, como pelo facto de se ter tentando arranjar - é bom que não me provoques - disse, aziado - e não precisavas de te ter tratado tanto, caso não tenhas percebido, não vai haver grande gente em minha casa - tive que dizer, agarrando na roupa suja de sangue que ela trazia numa saca e comecei a sair dali um pouco mais à frente dela.

- Estás bem? - perguntei, assim que o vi desequilibrar-se durante breves segundos, e tentei controlar a minha vontade de o ajudar, visto que vestir-me já tinha sido demasiado doloroso para a minha ferida. Fiquei mais descansada assim que o vi endireitar-se, percebendo que não era nada que ele não conseguisse controlar, e toda a preocupação se evaporou com o seu resmungo, ou melhor, com o seu habitual resmungo.- essa má disposição toda faz-te rugas, vê lá se te acalmas.- murmurei, tentando não soar com um tom igual ao seu, e não resmunguei quando agarrou nas minhas coisas, começando a seguir atrás dele enquanto o ouvia falar.- eu não me arranjei.- fiz uma pequena careta, aproveitando para olhar para o meu estado à medida que passávamos pelas portas vidradas do hospital.- eu só apanhei o cabelo.- encolhi os ombros.- já estou com mau aspecto suficiente, não preciso de aparecer assim à frente da tua mãe.

Assenti à sua pergunta. Não estava mesmo bem disposto, alguma coisa ainda me tinha deixado mais irritado que o habitual. Algo me tinha provocado isto e claro, só havia aqui uma pessoa para o fazer, agora porquê, ainda nem eu tinha percebido. Desviei o olhar na direção da pessoa que me irritava e abanei a cabeça - depois diz que não é superficial - murmurei mais para mim que para ela mas pouco me importei se ela me estava a ouvir ou não. Não queria saber. - Exacto - comentei num tom mais alto e irónico. Abanei a cabeça e olhei para a rua, quando saímos do hospital, claro, mais uma vez tinha que fazer figura de parvo e leva-la para casa no autocarro, porque tinha tudo menos dinheiro para um táxi. Não disse nada à cerca disso e apenas andei em direção à paragem, cerrando o maxilar e fixando o olhar num ponto fixo.

Sinceramente, eu não sabia o que é que tinha feito desta vez para Robb estar tão irritado, mas bastava olhá-lo para saber que estava, fosse lá pelo que fosse. Para dizer a verdade, eu começava a desistir de o tentar perceber sequer, às vezes era como se o simples facto de eu estar por perto o irritasse..mas o mais engraçado era que tinha sido ele a querer-me em sua casa, vá se lá perceber. Despertei dos meus pensamentos assim que o ouvi chamar-me de superficial, ainda que indirectamente, e revirei-lhe os olhos, pouco me importando se ele via ou não.
- Eu não sou superficial só por ter apanhado o cabelo.- resmunguei, endireitando-me logo de seguida.- mas sabes que mais? - nem deixei que me respondesse.- pouco me importa o que achas de mim.- disse por fim, tentando não me irritar demasiado e limitei-me a segui-lo até à paragem de autocarros. Se fosse noutra ocasião, eu teria insistido para que me deixasse pagar o táxi, mas farta do seu mau humor estava eu.

-Como queiras - respondi-lhe apenas, se começasse ali uma discussão as coisas iam sair do eixo. Eu sabia como era..., não, eu não sabia como era, e era por isso que era melhor ficar calado. Não queria arrepender-me de nada do que fizesse ou dissesse. Eu também não me importava do que ela pensava sobre mim, estava-me a lixar.
Olhei para o meu relógio velho e depois para a estrada, reparando que o autocarro estava mesmo a chegar. Pelo menos tinha bom timming. Levei uma mão ao bolso dando dinheiro para dois bilhetes de autocarro e só olhei para Bea para ter a certeza que vinha comigo. Já tinha dado para perceber que ela às vezes tinha a mania de ser rebelde. Quando voltei a olhar para dentro do autocarro mordi o lábio inferior ao reparar que não havia lugar e que havia pessoas já em pé. Observei todos os que estavam sentados e apontei para um puto que me olhava também enquanto mascava a sua pastilha - sai dai, ela está ferida - apontei para Bea e o gajo olhou-me de sobrancelha levantada, felizmente, levantando-se sem reclamar para lhe dar o lugar.

Ignora Bea, ignora. Tu és melhor do que isto, simplesmente, ignora. Era o que estava sempre a repetir a mim própria para tentar manter a calma e não começar uma discussão desnecessária. Sentei-me no banco que havia na paragem, ficando em silêncio enquanto esperávamos pelo autocarro e, assim que ele chegou, levantei-me devagarinho, disfarçando uma careta por causa das dores que todos aqueles movimentos me provocavam. Esperei que Robb entrasse primeiro, começando depois a subir devagarinho e acabei mesmo por gemer baixinho, agarrando-me logo à barriga.
- Eu podia ter pago o meu.- reclamei quando Robb me pagou o bilhete, ainda que com a voz entrecortada e estava a rezar mentalmente para que o autocarro não começasse a andar, visto que ainda estava de pé, quando ouvi Robb falar para outra pessoa que não eu. Segui a sua voz com o olhar, apercebendo-me de que falava com um miúdo, ou melhor, apercebendo-me de que o estava a mandar levantar-se, e foi só aí que reparei que o autocarro estava cheio.- Robb..- chamei, querendo dizer-lhe que não precisava de fazer aquilo, mas foi tarde demais, visto que o rapaz já se estava a levantar. Suspirei baixinho, endireitando-me e só não recusei aquele lugar porque as dores me estavam a começar a atacar novamente.- obrigada.- agradeci ao menino, vendo-o olhar-me todo mal humorado e por isso mesmo, eu não lhe disse mais nada, desviando o meu olhar para Robb.- não precisavas de ser tão bruto.- murmurei, encostando a cabeça ao banco depois de me ter sentado e olhei-o por fim.- mas obrigada.

-Cala-te - mandei já preparado para os seus resmungos por causa do dinheiro. Estava a fazê-la ir num autocarro cheio quando ela devia estar com dores, era o mínimo que eu podia fazer. Depois de ter mandado o miúdo afastar-se, fiquei de pé, agarrado ao banco onde tinha mandado Bea sentar-se e apoiado no meu pé que tinha a perna boa. Semicerrei os olhos ao miúdo dando-lhe umg murro sem força para ver se ele despertava - ela disse obrigada.
-E quê? Fui mesmo obrigado - resmungou mal humorado. Voltei a dar-lhe outro murro sem força, mas nem disse mais nada, olhando depois para Bea que tinha dito que não precisava de ser tão bruto.
-E se te limitasses a aceitar sem resmungar? - perguntei, assentindo quando me agradeceu.

Regra número 1 de sobrevivência: ignorar os resmungos de Robb quando era preciso serem ignorados. Caso contrário, originar-se-ia uma discussão desnecessária. E foi isso mesmo que fiz, limitando-me a revirar os olhos assim que me mandou calar. A única razão pela qual eu não lhe respondia, pelo menos desta vez, era por estar com demasiadas dores e muito pouca paciência para discussões, por isso, limitei-me a seguir atrás dele, acomodando-me da melhor maneira possível depois de já estar sentada no banco. Encostei a cabeça ao mesmo, soltando um gemido pequenino assim que o autocarro arrancou, por causa do movimento brusco que fez, e deixei a minha mão pousada sobre a minha barriga, tentando que, de alguma forma, aquilo acalmasse as dores. Abri os olhos quando isso aconteceu, ouvindo Robb falar com alguém que não eu e só quando o olhei é que percebi que ainda falava com o miúdo que me tinha cedido o lugar, ou melhor, que tinha sido obrigado a fazê-lo.
- Robb.- chamei baixinho, tocando-lhe no braço.- deixa-o em paz, ele já fez o que lhe pediste.- murmurei, acabando mesmo por sorrir ao ver o ar mal humorado de ambos. Apesar de tudo, tinha de admitir que Robb ficava bastante engraçado e..adorável (?) quando ficava todo rabugento. Abanei ligeiramente a cabeça face aos meus pensamentos, tentando afastá-los de alguma forma e acabei mesmo por conseguir fazê-lo assim que ele voltou a resmungar comigo.- eu agradeci, não agradeci? - foi a minha vez de o fazer, nem deixando que me respondesse.- então cala-te.- revirei-lhe os olhos, desviando o olhar dele para a janela, antes que me irritasse.- estúpido.

Desviei a minha atenção para ela, revirando os olhos quando começou a resmungar comigo e encostei-me a uma das cadeiras, agarrando-me a barra - Cala-te tu - continuei no mesmo tom que ela - burra - virei-me para o outro lado antes que a conversa piorasse e suspirei. A culpa não era só minha, eu irritava-me facilmente e ela sabia, depois... eu nem sabia o que dizia, só quando me ouvia falar. Mordi o interior da minha bochecha e mandei o autocarro parar quando vi a minha paragem ao longe. Olhei-a, fazendo um aceno de cabeça para que ela se começasse a levantar e comecei a afastar as pessoas para que ela não embatesse contra ninguém. Levantei uma sobrancelha ao ver o puto voltar a sentar-se e agarrei-o pela camisola, levantando-o e afastando-o da cadeira como se fosse um boneco - está ali uma senhora - apontei para uma senhora velhinha a olhar para mim com um ar todo bondoso. Encolhi os ombros e continuei a afastar as pessoas, agarrando, cuidadosamente, no pulso de Bea para vir atrás de mim.

Eu sei que também fazia parte das discussões, apesar de achar que Robb seria maluco o suficiente para discutir sozinho, mas tinha de admitir que, grande parte das vezes, nós parecíamos duas crianças autênticas. Aliás, era isso mesmo que estávamos a parecer naquele momento. Ainda assim, os meus pensamentos não me impediram de revirar os olhos com uma expressão bastante mal humorada assim que ele também me ofendeu. Apesar disso, limitei-me a permanecer calada, visto que a última coisa a que as pessoas que também ali estava precisavam de assistir era a uma discussão. Mantive o meu olhar posto na janela, mais para não ter de o olhar do que para outra coisa e só quando senti o autocarro parar é que me endireitei na cadeira. As dores tinham abrandado, mas algo me dizia que isso era algo que não ia permanecer assim durante muito tempo, visto que ia ter de me levantar. Agarrei-me à barriga enquanto o fazia, deixando que Robb começasse a andar à minha frente e senti-me bastante agradecida por estar a afastar as pessoas, caso contrário, só me ia aleijar ainda mais. Parei de andar assim que Robb também o fez, fazendo uma pequena careta, e só quando vi para onde se dirigia, ou melhor, a quem é que se dirigia, é que percebi o que se passava. O miúdo a quem Robb tinha obrigado a ceder-me o lugar, estava a voltar para o mesmo.
- Robb..- chamei baixinho, tentando demovê-lo de alguma forma, mas ele estava demasiado decidido para me dar ouvidos. Soltei um pequeno suspiro, ficando apenas a olhá-lo e acabei por perceber o porquê de estar a ser tão implicativo com o rapazito, assim que vi uma senhora idosa de pé. Era nestas alturas que eu acreditava que, ainda que ele não o quisesse admitir, Robb tinha um bom coração. Independentemente de quantas discussões tivéssemos.- afinal não és tão estúpido quanto fazes parecer.- não consegui evitar, enquanto ele se aproximava mas rapidamente me calei assim que o senti agarrar-me no pulso, e por alguma razão que não cheguei a perceber, todo o meu corpo se arrepiou. Como é que eu me podia arrepiar com um simples toque? Era por as portas se estarem a abrir, só podia. Sim, era isso. Mordisquei o meu lábio inferior face aos meus pensamentos, colocando-os de parte para conseguir continuar a andar atrás de Robb,e não me perguntem porquê, mas assim que conseguimos sair do autocarro, eu fiz com que me largasse o pulso para ser eu a conseguir agarrar-lhe na mão.