Hospital

-Até agora, sim - respondi agarrando no comando que comandava a cama e fiz com que me inclinasse um pouco as costas, para ficar a comer as bolachas à vontade. Olhei-a mordendo o lábio inferior - podes ir Sky...

- Já não estás a dormir, portanto é normal. - gozei com ele.
Abanei a cabeça.
- Tenho que te levar a casa.

-Tu percebeste - respondi com um revirar de olhos e levei uma bolacha à boca. Mordi o lábio inferior e encostei-me melhor à almofada - não precisas, há autocarros. Eu ainda devo ficar até à hora dealmoço.

Revirei os olhos.
- Deixa de ser teimoso. Autocarro envolve pagares e podes apanhar uma boleia para casa gratuita. Portanto, é para o melhor. - encolhi os ombros.

Apenas fiquei calado porque ela tinha razão, até porque eu não tinha dinheiro para pagar. - Está bem - cedi com um suspiro e, com o silêncio, percebi que já não aguentava muito mais, ia ter que lhe contar tudo.

Encolhi os ombros.
- Eu tenho sempre razão.
Voltei a sentar-me no sofá e acabei por dobrar a manta porque já não tinha frio.

Ia contraria-la e dizer-lhe que nem sempre tinha razão, mas acabei por dizer uma coisa completamente descabida no assunto que estávamos a falar - A Karen perdeu o bebé - disse-lhe mordendo o interior da bochecha com força.

Estava a habituar-me ao silêncio apesar de não durar há muito tempo quando ele falou.
- Achei estranho ela voltar à escola... - disse baixo. - Quando? - perguntei curiosa. - Lamento. - olhei-o.

Assenti quando falou da escola e engoli em seco quando me perguntou quando. Não sabia se isto ia piorar o que tinha acontecido, só esperava que não - no dia em que eu acabei contigo -desviei o olhar do dela - era uma rapariga.

Arregalei os olhos.
- O quê? Acabaste comigo depois de saberes disso? Depois de precisares de apoio?
Desviei o olhar e respirei fundo. Recostei-me na cadeira e mantive-me em silêncio.

Baixei o olhar com a sua reação e comi mais um bocadinho de bolachas - Eu só acabei contigo porque sou egoísta - disse-lhe - eu não queria que estivesses na minha vida enquanto eu estivesse tão lixado da cabeça - expliquei-me.

Apertei o braço do sofá com força para me obrigar a manter um tom de voz baixo e controlado.
- Sempre foste lixado da cabeça, de uma maneira ou de outra, e eu estava lá. Tu não és egoísta. És masoquista. Adoras sofrer mais do que já estás. - abanei a cabeça. - Diz-me sinceramente: mudou alguma coisa para melhor desde que o fizeste?

Fiquei ligeiramente ofendido com o que ela disse - não tanto - defendi-me com uma careta, mas calei-me ouvindo-a enquanto falava. Soltei um grande suspiro, sem a olhar, tapando-me com as mantas frias da cama e abanei negativamente a cabeça para responder à sua pergunta - mas não merecias estar metida nisto tudo - respondi-lhe como que a dizer que ele também não me merecia a mim.

Atrevi-me a olhar para ele.
- Não és tu quem decide se eu devo estar metida em alguma coisa ou não. Podias ter-me dito e dar-me a escolher.

Calei-me, apenas durante alguns segundos, face à sua resposta. - Eu disse que era egoísta - comentei fingindo ter comichão numa bochecha quando uma estúpida e burra lágrima decidiu soltar-se do meu olho.

Abanei a cabeça.
- És masoquista e pensas que podes mandar em tudo o que te rodeia. És um idiota. - acusei e fechei os olhos.

Sorri ligeiramente com a sua acusação e levantei a cabeça para depois desviar o olhar na sua direção - e eu não te disse logo no início que o era? - perguntei - já me devias conhecer. - comentei já sem qualquer sorriso.

Estremeci.
- Isso não significa que podes magoar as pessoas quando pensas que elas não podem aguentar com as tuas coisas. - abanei a cabeça. - Já aguentei muito e desde cedo, Evan, não era a tua cabeça e os teus problemas que me iam matar.

Mordi o lábio inferior recostando-me melhor na cama e como estar na mesma posição já me estava a magoar, tentei colocar-me de lado, a olha-la - desculpa - murmurei. Eu não a queria ter magoado, apesar de não haver como o fazer se a queria afastar.

- Não sejas hipócrita. - disse entredentes. - Sabias muito bem que me ias magoar. E do que servem as desculpas agora? Achas que me vão fazer sentir muito melhor?

Fechei os olhos com um suspiro, voltando a virar-me para cima e apertei os lençóis com uma das mãos. - desculpa por ser hipócrita, então - disse-lhe e, ainda bem que não disse mais nada porque a enfermeira entrou com um sorriso.
-Bom dia, como é que se sente? - perguntei. Se conseguisse teria encolhido os ombros, mas como não conseguia, fui obrigado a responder.
-Bem. - não era propriamente verdade, algo me dizia que sem medicação não me ia aguentar em pé, mas queria sair dali o mais rápido possível.
-Muito bem - ela ajustou a medicação vinda do soro - a médica vem aqui daqui a umas horas para lhe dar alta.

Ia responder-lhe com algo irónico mas a médica entrou na sala cheia de sorrisos como se trabalhasse numa florista e não num sítio cheio de doentes.
- Como vai para casa? - perguntou à saída.
- Eu levo-o. - encolhi os ombros e ela assentiu, saindo. - Ela não se importava nada de te dar boleia. - resmunguei.

Desviei o olhar para Skyler quando detetei alguns ciúmes da sua parte, por causa da enfermeira, não os percebi, ela era simpática e nem sequer me tinha tocado, mas não comentei. Abri a boca para dizer algo estúpido e que não queria na realidade e apenas suspirei. - mas és tu que me vais dar, não é? - perguntei.

Dobrei as pernas.
- Ou não estaria aqui a fazer nada. - encolhi os ombros. - Mas se não quiseres, podes pedir a outra pessoa qualquer. Basta cruzares-te com uma rapariga qualquer e consegues logo.

Revirei os olhos com o que ela estava para ali a dizer, ela não tinha noção nenhum do que estava a dizer. Sentei-me de novo na came e fiquei a olha-la - já que vamos ter que esperar pela médica vir dar-me a alta, podes aproximar-te? - perguntei.