Quartel dos Bombeiros

Às vezes eu questionava-me porquê que me dava ao trabalho de ir para casa, quando no quartel passava a maior parte dos meus dias e noites. Era nisso que pensava enquanto estava sentado no refeitório. Tinha passado a noite ali e já tínhamos tido duas ocorrências para socorrer. Agora, de manhã, o meu turno estava quase a acabar mas o mais provável seria ficar por ali. Para além disso sabia que a Shay devia ter o turno dela a começar dali a pouco e se fosse para casa ia, provavelmente, hibernar no sofá e dormir durante horas só para depois acordar com dores de costas. Nah. Estava-se melhor no quartel. Pois.

Assim que cheguei ao quartel a primeira coisa que fiz foi ir até à zona dos vestuários para deixar as minhas coisas no cacifo. Atei o cabelo no meu já habitual carrapito e segui até ao refeitório onde se encontrava a maioria das pessoas do quartel. Sentei-me no sofá ao lado do Kelly e dei-lhe uma palmada na perna - Como é que foi?

Nem vi Shay entrar, estava ocupado a beber aquele intragável café que faziam ali no quartel. Esbocei um semi sorriso cansado para ela e encolhi os ombros - O normal, já sabes. Duas ocorrências no centro da cidade, mas fáceis de resolver - respondi-lhe - Entraste agora? Podias ter sido um amor e ter-me trazido um café decente do Starbucks. Ah, e um donut. Ai, o que eu não dava por um donut agora.

- Pensa positivo, já estás quase a acabar o teu turno. - disse-lhe com um sorriso. Abanei a cabeça e levantei-me novamente do sofá apenas para ir até à mesa onde tinha deixado o saquinho com as coisas que tinha ido comprar antes de entrar no quartel - Eu sou um amor. - sentei-me novamente no sofá e abri o saco entregando-lhe o mesmo que continha outro café e um donut, depois de tirar o meu café.

- Acho que vou fazer um duplo - Disse-lhe, novamente com um encolher de ombros. - Podes meter-te em apuros e depois quem é que te safa? - Brinquei, mas num tom baixo para que apenas ela ouvisse. Quando ela me mostrou o saco, era capaz de lhe pregar um beijo - És um amor, Shay. Salvaste a minha manhã.

Dei um gole no meu café e semicerrei-lhe os olhos - Até parece que isso costuma acontecer muitas vezes. - convenhamos que já tinha acontecido algumas mas muito poucas. Ri-me e encolhi os ombros - O que é que seria de ti sem mim? - perguntei com um sorriso nos lábios - Até porque não merecias nada. Tive de apanhar o autocarro para vir para cá. - esse era um dos motivos pelo qual odiava quando não tínhamos turnos iguais, o que felizmente acontecia poucas vezes.

- Nunca se sabe, Shay - Comentei num tom divertido. A nossa profissão era imprevisível por vezes. Retribuí o sorriso. - O que seria de mim sem ti? Um zombie cheio de sono, era isso. - O café estava mesmo bom, adorava injecções de cafeína logo pela manhã. - A culpa não é minha. Arranja um carro. Se conduzes a ambulância, também podes conduzir um carrinho.

- Não te preocupes, se eu vir que estou em perigo, escondo-me atrás de ti. - brinquei e pousei o copo de café que já estava vazio em cima da mesa à nossa frente - Sabes que eu adoro o teu Camaro. - olhei novamente para o Kelly e fiz beicinho - Por isso nem que seja ir no lugar do pendura, já é uma grande satisfação para mim poder entrar no carro.

- Nem mais - Concordei. Quando acontecia estarmos em sitios de perigo, tinha sempre o olho debaixo dela. Dei mais uma trinca no donut. - Claro. Como podias não adorar? - O meu Camaro era o meu bebé.  - Mas depois, de vez em quanto, tens de marchar de autocarro - gozei.

- Kelly Severide, eu já sou crescida o suficiente para tomar conta de mim. - dei-lhe um soco sem força no braço. Eu dizia aquelas coisas mas sabia o que ele sentia porque também eu não conseguia deixar de me preocupar com ele nem que fosse só por ele dormir fora de casa. Deitei-lhe a língua de fora - Obrigadinha. Se eu arranjasse um carro ias chorar todos os dias por não teres a minha companhia.

- Não és assim tão crescida - Gozei com a sua altura, como gostava de fazer - E não posso deixar de olhar por ti. - Concluí, já sem estar a gozar. Soltei uma gargalhada - Sim, sim. Continua a sonhar, Shay. Os momentos altos do meu dia não são dar-te boleia.

- Oh, cala-te. - resmunguei quando ele começou a gozar com a minha altura - Eu porto-me bem, não precisas de estar de olho em mim. - disse-lhe e tapei a cara com as mãos - Sabes que não me importo com os desfiles das tuas amigas lá por casa mas não preciso de saber pormenores. - afastei os dedos de maneira a conseguir olhá-lo - É demasiado estranho.

Continuei a rir-me. Ela ficava-me ainda mais abaixo que o ombro. - Não é contigo que fico preocupado, mas imagina que estás a socorrer alguém e há um rastilho incendiário? Estou lá eu para prevenir - Era mais nesse sentido. Esbocei um sorriso malicioso - É demasiado estranho porquê? Eu até acho que é bastante simples. E normal.

- O meu herói. - disse levando uma mão ao peito - E imagina que te magoas a apagar o fogo ou a ajudar alguém. Quem é que está lá? Eu. - levantei o queixo com um ar superior. Revirei os olhos com o que o Kelly disse a seguir - Não é por fazeres sexo, é porque és tu. É estranho imaginar-te a fazer sexo. - fiz uma careta e ri-me.

Já me tinham chamado muitas vezes de herói. Às vezes sentia-me mesmo como um, mas era apenas o meu trabalho, a minha vocação. - Não, está lá outra paramédica para me assistir muito carinhosamente - comentei no gozo. - Sou apenas um homem com necessidades. Para mim não é estranho imaginar-te a fazeres sexo. - Repensei melhor - Quer dizer, mais ou menos. Tem uma parte sensual e uma parte akward de imaginar isso. 

- Ai sim? Ainda bem, eu deixo a Gabby assistir-te e caso ela não possa, eu não me preocupo. - deitei-lhe a língua de fora e estiquei as pernas para cima da mesa. Tinha que aproveitar os poucos momentos em que não éramos chamados e tínhamos que andar numa correria para fora do quartel - Exato, é estranho. - abanei a cabeça apesar de sorrir - E não acredito que andar a imaginar-me a fazer sexo, Kelly. És um tarado.

- A Gabby assiste melhor que tu. Não faz mal, há de haver alguma enfermeira no hospital que se não se importará de fazer o favor - Gozei mas sabia que era mentira. A Gabby era excelente, mas a Shay era a Shay e seria sempre melhor. - Hey, eu não ando! Estava a falar na eventualidade de imaginar.

- Ainda bem, fica registado. - cruzei os braços no peito e enquanto fazia um ar de amuada. Encostei a cabeça ao sofá e ri-me - Na eventualidade de imaginar? Claro que sim, Kelly. Isso torna tudo melhor a teu favor. - abanei a cabeça e sorri, deitando de seguida a cabeça no ombro dele - O que é que queres jantar logo? Com dois turnos tens direito a escolher.

- Agora ficas assim, amuada - Eu achava sempre imensa piada quando ela se fingia amuada. - Nunca se sabe quando é que essas coisas podem aparecer na cabeça de um homem. Just saying. - Pensei muito bem no que lhe responder. - Um enorme bife com batatas fritas. Oh sim, é mesmo isso. E cerveja a acompanhar. Não há melhor.

- Pois fico, tu só falas mal de mim e sou a tua melhor amiga. - passei os dedos pelas bochechas para fingir que limpava umas lágrimas. Ri-me e abanei a cabeça - E depois não és tarado. És impossível. - sorri e mordi-lhe o pescoço, mas sem o magoar, claro - Certo, os seus desejos são ordens mas ficas responsável de comprar a cerveja. Já não temos mais.

- Não é para isso que servem os melhores amigos? Para falar mal? - Estava claramente a meter-me com ela. Momentos assim, de descontração, só aconteciam com Shay. Ri-me quando ela me mordeu. - Right. Antes de ir para casa passo num sitio qualquer para as comprar. É preciso mais alguma coisa?

- Parece que sim, tenho que começar a fazer isso então. - disse-lhe ainda com o meu falso ar de amuada. Mordi o lábio inferior para me tentar conter e não me rir, mas como sempre, foi mais forte do que eu. Eu adorava comentar e adorava ser mázinha - Preservativos. Não queremos um mini Kelly a passear por ai pois não? - provoquei com um meio sorriso.

- Até parece que já não falas mal de mim - retorqui, com uma vontade de rir, mas controlei-me. Fingi um riso seco - Ha-Ha, Shay, que piada. Com essas coisas não tens tu de te preocupar. Tão cedo não vês por aí mini Kelly's.

- Nunca na minha vida falei mal de ti. - levei uma das mãos ao peito enquanto fazia um ar muito sério - Juro pela minha vida. - tentei controlar-me mas foi inevitável não me começar a rir - Ok.. se calhar já falei algumas vezes mal de ti... mas foram poucas! - acrescentei ainda a rir - Sabes, até que era adorável. Um mini tu a passear pelo quartel. Sim, era adorável.