Quartel dos Bombeiros

Depois de a sirene tocar por todo o quartel, a equipa reunia-se num ápice. O tempo era fucral na nossa profissão. Entrei para dentro do nosso caminhão e de imediato seguimos caminho.

Entrei para o lugar de condutor da ambulância e depois da Gabby entrar também, arranquei dali para fora.
- Onde é que tu te meteste? Não te vi a ti nem ao Kelly. Se não vos conhecesse..
- A sério que prestes a ir para uma missão queres falar do teu arranjinho entre mim e o Kelly? E se falarmos da tua vida amorosa, dona Gabriela? - perguntei com um sorriso enquanto conduzia atrás dos dois camiões dos bombeiros.

No caminhão da Equipa Especial 3 o ambiente era de preparação, seriedade e cautela. Nunca sabiamos o que iamos ver numa cena de ocorrência. Mal chegámos deparámos-nos com um sério incêndio. Saí e organizei logo a estratégia de salvamento.

As nossas viagens na ambulância eram sempre iguais, eu e a Gabriela falávamos de tudo e mais alguma coisa mas sempre que nos aproximávamos da zona da ocorrência todas as conversas acabavam rapidamente porque entrávamos em modo profissional - Isto parece grave. - disse enquanto olhava em volta e parava a ambulância.

A situação era grave. Tinhamos que agir rápido e com eficácia. Pelo que nos diziam haviam pelo menos cinco pessoas dentro do edificio - Shay, Gabby, estejam preparadas! - Avisei e logo de seguida desapareci. Entrei no edifício em chamas.

Assim que tirei o cinto de segurança e saí da ambulância, fui abrir as portas de trás da mesma para tirarmos o que precisávamos assim que eles começassem a tirar as pessoas do prédio. Eu e a Gabby aproximámo-nos do edifício e olhei para o Kelly quando ele passou por nós - Tem cuidado. - disse-lhe antes de ele desaparecer.

Uma vez dentro do edifício em chamas a prioridade era encontrar as pessoas que lá estivessem dentro e controlar incêndio para que este não se alastrasse. Mas aquele caso, em especial, era complicado O prédio era velho, muito dele feito em madeira e vigas. O fumo estava insuportável mas mesmo assim eu continuei. Cheguei longe e encontrei um senhor caído no chão. Para além de inconsciente, sangrava da cabeça. Tinha que avisar pelo walkie - Shay, Gabby, tenho um inconsciente e com uma possível hemorragia cerebral. -  Fiz o que podia e tentei levantá-lo. Custou imenso.

Estava a olhar para o prédio em chamas e apesar de já estar habituada, ficava sempre nervosa quando eles todos entravam. Nunca se sabia o que podia acontecer, o fogo era completamente imprevisível. Acordei do meu devaneio quando ouvi a voz do Kelly - Estamos a ir. - respondi de volta e deixei que a Gabby fosse à frente para tratar do homem enquanto eu agarrava na maca.

Eu ouvi um grito. Ainda havia alguém no edifício - Leva-o para fora! - Passei o senhor inconsciente para os braços de uns dos meus homens e voltei para trás. Procurei e procurei mas não encontrava ninguém - Bombeiros! Gritem! - A voz que eu ouvira quase não se ouvia mas foi que então vi um vulto. Era uma jovem, talvez com dezassete anos. Agarrou-se a mim quase a desfalecer. Tinha que a tirar ali e rápido. Porém quando iamos a sair dali uma viga caiu. Ainda fui a tempo de devia a rapariga mas a viga acabou pro cair em cima de mim. Por momentos fiquei inconsciente.

- Dawson, Shay! - ouvi gritar quando uns quantos apareceram a trazer o homem que o Kelly tinha dito que estava inconsciente. Rapidamente a Gabby tratou do que podia e colocámo-lo em cima da maca, tendo o grupo de bombeiros a ajudar-nos a levá-lo para a ambulância para ir para o hospital. Estava a entrar para o lugar do condutor enquanto olhava para o prédio - O Kelly ainda não saiu. - disse mais para mim própria mas tinha que sair dali, tínhamos um homem ferido que precisava urgentemente de cuidados. O Kelly ia ficar bem, ele ficava sempre.

Eu acordei com a visão enevoada. Percebi que o tempo em que tinha ficado K.O fora muito pouco mas o suficiente para me deixar tonto. Mas nem era isso que me deixava mal, mas sim a dor excruciante que sentia no ombro. Reprimi um grito de dor, tinha que mover. Consegui libertar-me das vigas e, a custo, levantei-me. Fiz sinal à rapariga. Tínhamos que sair.

Só parei a ambulância quando chegámos ao hospital e a única a sair foi a Gabby para informar os enfermeiros do que tinha acontecido e o que ela tinha feito ao homem - Gabby, vamos voltar. - disse pela janela para que ela se despachasse a entrar e voltássemos para a zona do incêndio. Estava preocupada por não ter visto o Kelly a sair, podia não ser nada mas também podia ser.

Saí do edifício com a rapariga. Passei-a logo para os braços de um dos meus colegas. Eu ainda não estava a ver bem e a dor no ombro deixa-me sem pensar - Severide, porra, estás bem? - Ouvi um dos meus homens. Apenas assenti e pedi informações no estado do incendio. Não demonstrei o quão magoado estava.

Assim que voltámos ao local do incêndio a primeira coisa que reparei é que já estavam todos do lado de fora do edifício pelo que já não havia ninguém para levarmos para o hospital, as outras ambulâncias tinham tratado disso.
- Ele está ali. - ouvi a voz da Gabby e olhei na direção que ela apontava, para o Kelly que não parecia muito bem.

Tentei recuperar o fôlego e recuperar alguma da minha orientação e estabilidade. A minha cabeça rodopiava ainda, o meu ombro doía para caraças. Mas ainda assim coordenei a equipa até ao fim da ocorrência. Foi então que vi Shay e apenas assenti. Já sabia que se ela me visse de perto ia querer examinar-me por isso mantive-me afastado dela.

Tentei aproximar-me do Kelly por várias vezes mas ele estava ocupado a dar ordens aos seus homens e eu precisava de me concentrar em mais do que ele, para o caso de eu e a Gabby sermos precisas para mais algum acidente. Mas continuava preocupada com ele porque pela sua cara, sabia que ele não estava bem.

Ao fim de uma hora demos o incêndio como extinto. Estava exausto e enjoado. Voltámos para o quartel onde fui logo tomar um banho. Olhei para o espelho. Uma enorme mancha roxa negra estendia-se pelo meu ombro até ao flanco.

Conduzi de volta para o quartel sem nenhuma oportunidade de falar com o Kelly, o que me estava a deixar mal-humorada. Por isso assim que acabei de ajudar a Gabby a fazer o relatório do que tínhamos de repor na ambulância entrei no quartel e quando me disseram que o Kelly estava a tomar banho, dirigi-me para lá - Kelly. - entrei mesmo sem ele dar autorização ou o que fosse.

Ao ouvir a voz dela, agarrei logo na minha t-shirt e vesti-a. Silvei de dor. Caraças, aquilo doía mesmo - Já não há privacidade, Shay? - Atirei.

Cruzei os braços enquanto olhava para ele - Não há privacidade quando tu andas a fugir de mim. - aproximei-me mais dele - Mostra-me. - pedi com um ar sério - E podíamos fazer piadas neste momento se eu não estivesse preocupada contigo. Por isso pára de ser teimoso e deixa-me ver onde te magoaste.

- Eu não ando a fugir de ti. Ando simplesmente ocupado - Disse logo para que ela tirasse essa ideia da cabeça, apesar de ser verdade. - Não me magoei, Shay. Foi só uma pancadinha. Um bocadinho de gelo e passa. - Não lhe ia mostrar pois ela ia logo armar-se em mãezinha e eu não precisava disso.

Revirei os olhos - Claro que sim. Esse é exatamente o ar que tens quando é só uma pancadinha. - tentei não gritar nem me passar, muito mais, mas estava a ser difícil quando eu estava preocupada com ele e ele estava armado em idiota - Quando parares de te armar em machão, avisa. - disse saindo dos balneários.

Como é que ela percebia? Mais ninguém percebera sem ser ela. Fiquei aborrecido. - Está bem - Respondi, desta vez mal humorado antes de ela sair. Acabei de me limpar e secar. Vesti-me normalmente. O meu turno ainda não acabara, mas precisava de me sentar pois em pé começava a ver tudo à roda.

Assim que sai do balneário fui até à zona comum do quartel, mais precisamente a sala e cozinha do mesmo. Sentei-me no sofá que ainda tinha um lugar vazio e como não estava com cabeça para falar com quem quer que fosse, limitei-me a olhar para a televisão que estava ligada.

Depois de sair dos balneários soube que precisava de ir buscar o tal gelo. Isso significava passar pela zona comum. Mas lá foi isso que fiz. Estava quase a chegar ao congelador quando o Herrmann me deu uma pancadinha nas costas, logo ali. Controlei-me para não grunhir de dor - Severide, vai uma partida de póquer logo à noite? - Olhei para ele meio zonzo. Depois abanei a cabeça - Não vai dar, mas fica para outra altura - Ela aceitou. Consegui chegar ao congelador e tirar um saco de gelo mas por momentos tive de me agarrar ao balcão. Fiquei sem força nas pernas devido a uma tontura.